O afrobeat foi a primeira influência, inspirou o nome da banda, a formação estilo orquestra com 12 músicos e segue como principal referência no caldeirão black cheio de groove que já levantou festivais como Coachella, Glastonbury, Newport e Montreux. Criado nos anos 90 como Antibalas Afrobeat Orchestra (desde o segundo álbum, só Antibalas), o grupo está de malas prontas para trazer pela primeira vez ao Brasil o seu bailão black com influências afro, jazz, rock e funk em três apresentações, duas em São Paulo (dia 19, no Cine Joia, e 21, no Centro Cultural da Juventude), e uma em Recife (dia 22), no Abril Pro Rock. Os fãs do coletivo de NY que vibraram nas redes sociais com as primeiras notícias de que a banda finalmente viria ao Brasil podem esperar no setlist músicas dos cinco discos de estúdio e clássicos de Fela Kuti.
“‘Vamos tocar pelo menos duas do Fela e também algumas do disco novo que sai em setembro”, adianta o saxofonista e fundador da orquestra que vem completinha ao Brasil, Martín Perna, em entrevista por e-mail. “Estou curioso também para ouvir as novas bandas brasileiras de afrobeat”.
Se depender do grupo escolhido para abrir o show no Cine Joia, em SP, a primeira impressão de Martin deverá ser a melhor possível: o disco de estreia dos paulistanos do Bixiga 70, lançado no final do ano passado, acabou entrando em várias listas de melhores do ano. Outro cartão de visitas da banda brasileira é que produtor do álbum, o baixista americano Victor Rice, é ex-integrante do próprio Antibalas e atualmente mora em SP.
Fela na Broadway
Conhecido por seus shows explosivos, o Antibalas tem integrantes espalhados em vários projetos de pesos pesados do pop, hip-hop e underground, já gravaram ao lado de nomes como TV on the Radio, The Roots, Vampire Weekend, Public Enemy e Sinead O’Connor. A banda atualmente tem tanto moral nos EUA que foi escolhida para reviver o Africa 70 nos palcos da Broadway, no musical Fela! (produção dos rappers Jay-Z e Will Smith), ganhador em 2011 de três prêmios Tony, o Oscar do teatro nos EUA.
Com groove afiado e letras politizadas, o coletivo já tem cinco discos gravados em pouco mais de 14 anos de carreira. Política internacional, consumismo e outros exageros da sociedade estadunidense são seus principais alvos. Em fase de mixagem, o sexto disco do Antibalas acaba com jejum de cinco anos sem um álbum de inéditas. A distância talvez se explique pela quantidade de projetos extras de seus integrantes.
O principal trompetista do Antibalas, por exemplo, Jordan Mclean, tem no currículo colaborações em discos do TV on the Radio, Medeski Martin and Wood, The Roots, Public Enemy e Paul Simon; o vocalista Marcus Farrar gravou com o jamaicano Sizzla e com o Vampire Weekend; já Stuart Bogie tem parcerias com Wu-Tang Clan e Mark Ronson e foi saxofonista no musical em Fela!, cuja direção musical é toda do trombonista Aaron Johnson.
Integrante do seminal Daktaris, um dos primeiros a tocar afrobeat de raiz em NY nos anos 90, Martín Perna já dividiu palco com Beck e Sharon Jones, participou do disco da atriz Scarlett Johanson e atualmente tem o projeto solo Ocote Soul Sounds. Perna se apresentou também com o brasileiro Curumim, em Paris, lista Baden Powell e Jorge Benjor entre seus músicos preferidos e já faz planos para os dias livres em Olinda. Leia abaixo entrevista em que ele fala sobre os shows no Brasil e analisa a nova cena afrobeat no mundo.
Como você vê o afrobeat hoje em NY e na Europa. Conhece grupos brasileiros como Bixiga 70 ou Abayomy?
Acho que o afrobeat como gênero continua ainda muito underground, não toca em rádios mainstream e raramente em programas de world music, rádios públicas ou universitárias nos EUA. O que existe de fato é uma popularização do ritmo entre músicos não só dos EUA, mas da Europa e de outros países, mas acho isso até arriscado. É uma música muito difícil e as bandas demoram até avançar e acertar a melhor maneira de tocar junto, mesmo com profissionais talentosos em seus instrumentos. Estou bastante ansioso parra conhecer as bandas brasileiras
O Antibalas é famoso pelas suas performances nos palcos, os shows incendiários. É onde vocês se sentem melhor? Um lugar de improvisação, de festa?
É nos shows que as músicas realmente ganham vida, é a hora em que a banda cresce e pode se comunicar com o público. Sempre tem uma energia diferente dos discos porque a plateia serve como combustível para a banda. Realmente, todas as músicas têm um pouco de improvisação nos metais e no vocal, mas nunca aquele tipo de jam em que ninguém sabe onde vai parar.
E os preparativos para os shows no Brasil, vai ser uma apresentação mais afrobeat? Músicas de todos os álbuns? Vocês virão com a orquestra completa?
Vamos viajar com a banda inteira, doze músicos: percussão, conga, xequerê, sax barítono, sax tenor, trompete, duas guitarras, baixo, órgão, vocais. Vamos tocar músicas dos cinco discos, uma ou duas do Fela Kuti e algumas músicas novas do álbum que sai em setembro pela Daptone Records.
O disco já está pronto?
Gravamos em novembro na Daptone House of Soul, no Brooklyn, em NY, com produção do Gabriel Roth. Agora estamos na fase de mixagem.
Você tem um colaborador em SP. Qual a sua relação com música brasileira?
Alguns anos atrás em toquei com o Curumin quando ele se apresentou em Paris. E o Victor Rice, baixista e produtor de NY, já mora em SP há algum tempo, faz parte da cena da cidade e esperamos encontrá-lo na viagem. Eu também já gravei algumas músicas com a cantora Tita Lima para o meu outro grupo, Ocote Soul Sounds. E sou também um grande fã de grupos como Banda Black Rio, adoro Tim Maia, Jorge Benjor, chorinho antigo, como Pixinguinha, e tropicália e bossa nova dos anos 60, além de Toquinho, Vinicius, Baden Powell... esses são alguns dos meus preferidos.
Sharon Jones, também da Daptone, é sua amiga e veio ao Brasil em 2011. O que ela falou sobre o país?
Disse que adorou e muito por causa dela acho que as portas finalmente se abriram para nossa primeira viagem ao Brasil.
Além dos shows, algum plano especial para o Brasil. Viajar? Praia? Comprar discos? Tocar com alguma banda?
Temos um dia livre em SP e mais alguns em Olinda depois do nosso show em Recife. Em Pernambuco, a ideia é encontrar um amigo que é artista visual, músico de forró e local em Olinda. O plano é conhecer a cidade, espero também tocar um pouco e escrever músicas novas. Queria também muito ir para Salvador e Rio. Mas espero voltar muitas vezes.
Marcelo Monteiro escreve n'