Tóquio Proibida

Jake Adelstein

Cia das Letras, 2012

 

POR Dafne Sampaio publicado em 23.01.2012

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“Aqui é Kabukicho, não é Pokemon”. Mais que uma paródia, o verso tungado dos Racionais serve como uma rápida descrição de uma das áreas mais criminalmente ativas da cidade de Tóquio. Principalmente durante a segunda metade da década de 1990 e começo dos anos 2000, época no qual o jornalista Jake Adelstein andou por lá como repórter policial para o Yomiuri Shimbun. Judeu e norte-americano, Adelstein foi o primeiro estrangeiro a trabalhar em um grande jornal japonês (e escrevendo na língua nativa) e sua experiência pelo submundo do país, entre 1993 e 2005, lhe deu a munição pesada para escrever Tóquio Proibida.

Lançado originalmente em 2009, o livro é uma revisão cronológica de tudo que o jornalista viu, ouviu e sentiu nesses muitos anos por algumas das quebradas mais estranhas do Japão. Escrito de forma direta, sem firulas, e com uma sinceridade suicida, Tóquio Proibida trata não apenas de casos como roubos de caixas eletrônicos, assassinatos seriais, pornografia, tráfico de pessoas, extorsão e lavagem de dinheiro, mas principalmente das complexas relações entre a imprensa e a polícia, a polícia e a Yakuza (a lendária máfia nipônica), e a Yakuza e o poder público. Tudo se mistura em um perigoso e subterrâneo caleidoscópio poucas vezes testemunhado por estrangeiros e até pelos próprios japoneses. Não existe certo ou errado, só existe o que é.

 
Porém, quando Adelstein começou a trabalhar em 1999 na área de Kabukicho, conhecida por suas boates e casas de prostituição, e soube de um intenso tráfico de mulheres, principalmente do Leste Europeu, sua objetividade jornalística foi para o beleléu (e ele mesmo assume que aí começou sua derrocada como profissional no país). Sim, ele se envolveu pessoalmente na pauta e acabou, sem querer, descobrindo o segredo de um famoso chefe yakuza (Tadamasa Goto) que pôs sua vida em risco e o obrigou a voltar aos Estados Unidos com sua mulher e dois filhos.


Ele logo viu que era preciso escrever o mais rapidamente possível toda a história que sabia. Jogar tudo no ventilador. Aí ele se tornaria um alvo importante demais para que sua morte não chamasse atenção. Sem entregar muito dessa parte crucial da trama é possível dizer que envolve um transplante de fígado nos Estados Unidos e um acordo com o FBI. Durante esse processo ainda conseguiu uma confissão de que o suicídio do cineasta Juzo Itami em 1997 pode ter sido forjado por capangas de Goto. Itami, de sucessos nos anos 1980 como Tampopo - Os Brutos Também Comem Spaghetti, já tinha sido espancado e tido o rosto retalhado por homens do chefão pouco antes da estreia, em 1992, de Yakuza - A Arte da Extorsão, uma comédia que satirizava os mafiosos.

Apaixonado e imerso na cultura japonesa desde a adolescência, Adelstein sabe que a culpa judaica impressa em seu DNA, entre outras coisas como a própria cara, sempre lhe colocam na posição de estrangeiro. Procura não esconder isso no texto e invariavelmente o faz com bastante humor. No entanto, ao final, moído pela falta de ressonância de suas denúncias acaba deixando transparecer certo travo amargo na boca. Nossos amores podem ser muito destrutivos, não é mesmo, Adelstein-san?

Mais informações sobre o trabalho de Jake Adelstein no site japansubculture.com

tags:
 jake adelstein, tóquio proibida, yakuza, juzo itami, tadamasa goto

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