Goodbye Bread

Ty Segall

Drag City, 2011

 

POR Tiago Soares publicado em 01.11.2011

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Aos 17, Ty Segall era vocalista dos Epsilons. Banda de um garage rock com um pé no punk, os Epsilons chamaram alguma atenção em meados da década, até queimarem rápido demais e Segall partir para a faculdade em São Francisco.

Sozinho e recém-chegado na cidade, Segall fez novas amizades e começou a bater os pés na piscina da psicodelia. Andando com o pessoal do Thee Oh Sees e do The Traditional Fools e do The Fresh & Onlys, tocando e gravando coisas aqui e ali, se embrenhou no universo do rock revivalista de São Francisco e virou uma daquelas figuras meio onipresentes. Na efervescência, no pique pra fazer suas coisas, Ty decidiu que seguiria tocando de qualquer jeito e fez o que qualquer um de nós faria: se lançou numa carreira de homem-banda. Daqueles com guitarra, bumbo e gaita pendurada no pescoço.

Como homem-banda, gravou seu primeiro disco, autointitulado Ty Segall, em 2008 (pela Castle Face, gravadora de John Dwyer, ex-Coachwhips). Com alguma ajuda, lançou pela Goner Records (de Eric Friedl, dos Oblivians) o segundo, Lemons, em 2009. Na sequência, pela Kill Shaman, fez Reverse Shark Attack, um experimento de barulho e psicodelia tocado com Mikal Cronin – de quem foi parceiro no Charlie and the Moonhearts. Em 2010, já estabelecido nos palcos da cidade como um cara com uma banda com várias pessoas tocando seus instrumentos, lançou Melted (também pela Goner).

E em 2011, em junho, agora há pouco, lançou pela Drag City seu quinto álbum, Goodbye Bread. E é dele que a gente vai falar.

***

A primeira coisa a dizer, acho, é que se Goodbye Bread fosse uma prova sobre rock dos 60/70 Segall poderia curtir o verão numa boa sem medo de ficar de recuperação.

Porque Goodbye Bread é quase um estudo de rock revivalista, com citações e referências e notas de rodapé a Beach Boys e Blue Cheer e 13th Floor Elevators. Com as lições dos capítulos Bob Dylan e T. Rex e Sonics repassadas com belas estrelinhas douradas.

Sem sair da sonoridade crua, da produção quase rústica, Segall (que compõe e toca praticamente todos os instrumentos do disco) passeia pela psicodelia e pelo bubblegum e pelo folk e pelo glam. Diz uma ou outra coisas sobre o protopunk o surf rock e quebra os vidros dos displays do museu, misturando tudo em melodias de não muitas camadas, esquisitas de um jeito bacana e mais limpas que o esperado vindo dele.

Imersas em reverb e distorção e sempre apontando pra algum algum sacolejar de quadril, as canções do álbum não são construídas pra deixar quem escuta coçando a cabeça. Mesmo nos piores momentos de inferno de barulho e eco e vidros quebrados, há, sempre, uma melodia pra pegar na mão do ouvinte e dizer que vai ficar tudo bem.

Acenando às experimentações da psicodelia, flertando às vezes com o bubblegum vida-diversão-paquera – e misturando tudo, o que é extra interessante –, as faixas do disco parecem apontar para um ponto de equilíbrio. Às vezes, soa quase como um contraponto ao novo psych ensolarado de coisas como Wavves e Best Coast. Como num dia nublado na praia.

Do protopunk de seus dois primeiros discos ao psych sem limites do projeto Reverse Shark Attack, ricocheteando nas melodias meio derretidas de Melted, em Goodbye Bread Segall firma o pé em sua leitura do revivalismo. Ao mesmo tempo que é seu disco mais peculiar, seu novo álbum parece montado com pedacinhos de cada um de seus discos anteriores - mas de uma boa maneira, não derivativa. Como se o resultado fosse maior que a soma das partes, dialogando não só com alguns eixos clássicos do rock, mas com a própria obra do artista. E talvez seja esse o seu grande mérito.

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 ty segall, goodbye bread

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