O artista gaúcho Pablo Etchepare tem uma história antiga com a Soma. A primeira vez em que tropecei em um de seus trabalhos na internet foi em 2009 e o impacto foi imediato. Naquela ocasião eu fazia a seleção de novos artistas para publicar na seção “Entre (Outros)” da décima edição da revista e fui físgado por uma de suas pinturas que retratava com estilo e personalidade uma cena bizarra em que dois rednecks curtiam um descontraído churrasquinho no quintal de membros de corpos humanos.
Um pouco depois de seu debut na revista o convidei para participar de um projeto para uma marca de skate onde assinamos a curadoria, ao lado dos artistas Billy Argel, Danielone, Felipe Motta e Sesper. Juntos, pintaram uma pista de skate inteira de 180 m², que foi projetada e construída especialmente para um evento no pavilhão da Bienal.
E finalmente, ainda no mesmo ano, abrigamos a primeira individual de sua carreira aqui no Espaço Soma.
Há pouco tempo atrás reencontrei Pablo rapidamente por total acaso num bate-e-volta que fiz para Porto Alegre a trabalho o que me atiçou a curiosidade de pesquisar sobre o que ele andou fazendo de bacana nos últimos tempos e a fazer essa pequena entrevistinha que você confere abaixo.
E aí, Gaúcho, beleza? Faz um tempinho que não nos vemos e não nos falamos...Por onde tem andado e o que tem feito de bom?
Tudo bem meu velho, cara eu estou mudando para um apartamento com um atelier maior, então minhas últimas semanas tem sido em função disso. Vai ser bem legal, vou ter um espaco bacana pra trabalhar.
Ano passado passei um tempo na Europa, deu para renovar as inspirações e para aproveitar bastante, fazendo um pouquinho de lição de casa de pintura e arte em geral.
Conta pra gente um pouco sobre os teus trabalhos mais recentes.
Sigo produzindo o meu trabalho autoral de pintura e escultura, eventualmente fazendo ilustrações para capas de celular, camisetas, shapes de skate. Há algum tempo comecei a trabalhar com a agência de artistas Möve (
move.art.br), eles me representam em trabalhos com aplicação comercial, o que tem me ajudado muito a escolher melhor os projetos que participo.
O que você diria que mudou/evoluiu no seu trabalho da época da sua primeira exposição individual no Espaço Soma em 2009 pra hoje?
Eu acho que meu trabalho seguiu uma evolução natural, hoje penso em detalhes e cenários mais elaborados, tentando me desafiar mais durante o processo criativo. Mas as pinturas ainda seguem uma linha bastante livre e surreal sem que isso seja de maneira proposital.
Ainda continua obcecado com o acabamento e nos detalhes em suas pinturas? Seu lema ainda é o "Just one fix" (Só mais um retoque)?
Sim, uma hora acaba virando obsessão mesmo, às vezes isso chega a atrapalhar um pouco no tempo gasto produzindo cada obra, mas é assim mesmo, essa pintura abaixo mostra bem isso.
Além das pinturas em tela e em outras superfícies como o MDF vi que você tem feito bastante esculturas e objetos modelados e pintados à mão. Qual o processo de criação desses objetos?
Quanto aos suportes de MDF e madeira, acho que dão um aspecto mais cru que contrasta com a minha pintura. Gosto mesmo quando acho uma madeira bem detonada na rua e ela é perfeita para receber a pintura quase que como uma intervenção.
Em relação as esculturas são como se cada uma delas fosse um personagem único, primeiro eu moldo a estrutura e depois a pintura vem da forma como eu visualizo o personagem naquele formato, como se ele aparecesse ali mesmo. Tenho feito alguns ultimamente em 3D com olhos e dentes que podem ser separados e mudados de lugar na própria peça.
Fale um pouco sobre a sua rotina ultimamente.
Normalmente eu tento pintar o máximo possivel. Geralmente de manhã eu tento me informar com referências e novidades, à tarde é o meu horario mais produtivo, nos dias que faço as esculturas eu não trabalho nas telas e vice versa.
Quais foram as últimas exposições que participou e o que vem pela frente?
Em Dezembro passado eu participei de uma coletiva chamada "Pindorama", que foi muito massa. Aconteceu em Portland (EUA) na Hellion Gallery só com artistas Brasileiros, como o Viti, Mateu Velasco e Felipe Motta entre outros nomes de peso. Também no ano passado participei de uma expo na Bulgária para um artzine de um coletivo chamado Blood Becomes Water, colaborando com um artista grego foda chamado George Tourlas onde cada um de nós desenhou metade da obra, o que foi muito legal porquê os nossos estilos dialogaram bem juntos. Também participei da Coletiva "Metropolitanos" com artistas daqui do sul no Museu de Arte Contemporânea do Rio Grande do Sul que foi muito massa também, participaram também a Lidia Brancher, Carla Barth, Cusco, Trampo, Renan Santos e mais um time de respeito.
Agora estou produzindo para minha próxima individual e talvez faca uma exposição só de esculturas antes, ainda não decidi.
Continua dominando os laybacks na Banks? Tem andado bastante de skate?
Pô, eu gosto muito de andar lá sim, fiz a minha segunda individual na Banks em 2011, e foi muito legal, eles tem um acervo de quadros meus, é o meu lugar preferido para andar aqui em Porto Alegre. Mas não tenho andado tanto quanto eu gostaria…
O que tem ouvido enquanto trabalha?
Rock, geralmente coloco um show inteiro pra rolar de algum festival no youtube, algo tipo QOSA geralmente funciona.
Tem alguns nomes novos da cena gaúcha (de arte) que vale a pena a gente ficar de olho?
Pô, não são tão novos mas eu gosto muito do trabalho do Renan Santos e do Maick "Seilá", ele tá mandando muito bem também.