"A Autoridade da Razão", novo Ep do produtor e rapper Parteum já está disponível para download no site da Trama. O Ep reúne sete faixas com bases e letras criadas pelo MC e segue o mesmo caminho de outros trabalhos: rimas que fogem ao senso comun e beats aprimorados. Nesta sexta, ele faz o show de lançamento no Estúdio Emme, ao lado dos parceiros Secreto e Suissac, e bateu um breve papo com o site da Soma sobre o disco novo, rap e filosofia.
Por Marina Mantovanini
Me conta como foi a produção do EP "A Autoridade da Razão".
Contei com o time de sempre, Secreto e Suissac (ambos do Mzuri Sana) e Vander Carneiro (Atelier Studios). Creio que a mixagem e finalização do projeto importa tanto quanto o casamento das rimas e instrumentais. Até por isso, quando posso, trabalho com o Vander, um dos caras que mais mixou e produziu rap em nosso país. Usei trechos de uma conversa com meu avô (Francisco Benedito) na faixa "O Interior" - diria que essa é a participação mais especial do EP. Viva, Chico Peão! Quanto à produção, arranjos, rimas, eu fiz toda a produção, mas isso é meio comum no rap. Secreto tocou guitarra em "O Interior", Suissac fez scratches em "A Autoridade Da Razão" e "1995/1998/2001", Vander mixou e masterizou essa versão gratuita. Uma outra versão em CD/DVD será lançada em 2011.
Descartes dizia que o conhecimento significativo só poderia ser alcançado se o homem usasse a autoridade da razão, ou seja: penso, logo existo, e negasse a autoridade dos sentidos. O título do disco me parece ter uma forte conexão com esse pensamento.
Somos reféns da razão. Quando tudo mais falha, a razão aponta um caminho. Por ser ariano, extremamente impulsivo, aprendi que minhas decisões têm três momentos: o primeiro, totalmente pilotado pela emoção, o segundo, o "breque da razão" (um outro nome que havia considerado para o EP) e o terceiro, que é a decisão de fato. Isso me leva a pensar que, na verdade, até onde consigo enxergar, é o casamento da razão com a emoção que nos molda: intuição. Alguns acreditavam que Descartes omitiu a primeira parte do Cogito Ergo Sum, já que ele deixou o latim de lado por "sentir" algo ruim sobre o pensamento dos demais filósofos da época. Ele aproxima nossa existência do pensar ou condiciona a existência de um à possibilidade do outro? Trata-se de uma venda casada, tipo, compre o smartphone e adquira o plano de dados. Dizem que o ideal seria, sinto, logo penso e existo. Eu só quero acreditar que essa nossa ideia de criar dualidades ou vendas casadas (para tudo) não está certa. E se tudo fosse uma coisa só? Na TV, passei anos assistindo a guerra de Locke contra Jack (ou o contrário), em Fringe, J.J. Abrams explora universos paralelos... E se fossemos exatamente iguais, para todo o sempre, em todos os lugares? Meu avô e um tio viviam falando que eu era muito "razão" e que meu irmão era mais "coração". Hoje, me falam que me tornei mais falante e sociável depois dos 30. Eu tomo nota de tudo e uso como posso no que faço. Dessa vez, a autoridade da razão permeou o trabalho, mas no próximo EP, som, álbum... talvez o coração passe a pilotar, de vez.
As suas rimas fogem de temas recorrentes como a violência e a bandidagem. O seu rap é chamado de alternativo justamente por conta disso e pelas bases menos básicas. No que você pensa quando está criando as letras? Qual é o seu objetivo?
Rap, sem amarras ou distorções, é batida e rima. Música não tem parede. Trata-se da experiência de um indivíduo (ou de um grupo de) sintetizando o que sente, acredita, enxerga, detesta, ama... E não há consenso, pois todo mundo está certo da certeza que tem. Eu penso em tudo, mas nem tudo vai para o papel. Tem uma ou outra nuance que se perde no processo. Meu objetivo é ser fiel aos momentos... aqueles que te definem, quando ninguém está olhando. Eu quero ir lá, viver, transformar aquilo em música, do meu jeito.
Você está há dez anos na estrada. Como você vê a sua evolução musical?
Eu comecei a engatinhar faz pouco tempo. Tem tanta música boa já registrada em discos, tanta coisa boa sendo feita... Eu não costumo pensar nisso, mas é um baita presente divino "trabalhar" com música.
As pessoas sempre apontam o desgaste do rap nacional, não por conta da falta de bons grupos, MCs e DJs, mas sim pelo modo como o mercado é estruturado. Como vc enxerga essa história? Vc acha que lançar os discos/EPs via download gratuito é uma solução?
Lancei o EP virtualmente, pois não queria gastar com a prensagem agora. Vou fazer uma segunda masterização fora. Tenho feito alguns vídeos, enchi o saco dos meus amigos editores até aprender a mexer no Final Cut e já sei que o próximo passo é audiovisual. Quanto ao rap, quanto à cultura hip-hop, eu separei a música e o amor pela cultura, da indústria, da tal estrutura. Quando a água acaba numa casa, alguém vai ao riacho, se banha, enche baldes... Eu acho que o nosso rap, nesse momento, está voltando com os baldes cheio: muitas ideias, muita música sendo feita.
O show de lançamento do EP é nesta sexta? O que vc preparou para a noitada?
Pois é, a parte engraçada é que esse não seria o show de lançamento. Pensei em esperar o lançamento do CD, em 2011, mas vai ser muito legal. Faço poucos shows, mas tenho me divertido mais no palco. Secreto e Suissac estarão comigo. Essa será a primeira festa da Tramavirtual no Estúdio Emme. Vai ser legal. Pelos tweets, a rapaziada que curte o som desde a primeira mixtape vai aparecer.
Baixe o EP .
Festa da Trama Virtual
Show: Parteum
Entrada . R$ 15 ou R$ 25 (porta)
Estúdio Emme . Rua Pedroso de Moraes 1036 . Pinheiros SP