Obras Primas . Verde Que Te Quero Verde

Grant Green x Booker T. são os clássicos do jazz escolhidos

POR PEDRO PINHEL
publicado em 15.09.2011 15:38  | última atualização 01.11.2011 17:36

Booker T. - Green Onions - só na verdurinha POR Reprodução

Uma das cores mais abundantes e peculiares da natureza quando o assunto é o famoso disco de Newton, o verde está presente em milhares de elementos bastante interessantes; do brócolis à cannabis, passando pelo clássico uniforme de visitante do Boston Celtics e pelos olhos da Megan Fox, a cor certamente não foi economizada pela indústria fonográfica. Exemplos como o LP Verde que te Quero Rosa do mestre Cartola, o hino proto-baranauê “Salve o Verde” do Trio Esperança, a legendária gravadora Greensleeves e a baba “Green-Eyed Love” do moderno Mayer Hawthorne apenas ilustram o vasto panorama de possibilidades do pigmento e sua (pra lá de subjetiva, como você pode notar) ligação com o universo estereofônico.

Os anos 60 e 70 não foram exceções a esta estranha regra, e o soul-jazz foi premiado com dois clássicos de primeira grandeza; Green Is Beautiful, do jazzman Grant Green, e Green Onions, do camaleônico Booker T. Jones. Saiba a seguir por que a vida pode ser um pouco mais verde com esses clássicos girando em sua vitrola.

Grant Green . GREEN IS BEAUTIFUL . Blue Note, 1970

Disco que afirma a mudança da sonoridade dos álbuns de Grant Green no início dos anos 70, Green Is Beautiful apresenta o artista incen­diando (estamos sendo metafóricos. Obrigado) sua guitarra em companhia de gente do quilate de Idris Muhammad na bateria – e talvez por isso os discos de jazz da Blue Note desse período tenham sido tão exaustivamente sampleados –, Earl Neal Creque no órgão Ham­mond – que passou a substituir o piano Fender Rhodes que dava o tom sessentista às gravações anteriores –, e um clima absolutamente jazz-funk que, de maneira surpreendente, se integrou ao arsenal musical embrionário de GG de forma bastante natural. O excesso de versões, recurso bastante usual para os artistas do movimento jazz-funk da Blue Note em 70, foi bastante criticado pelos puristas à época do lançamento do LP. A ótima “Ain’t It Funky Now”, do mestre James Brown, “A Day in the Life”, dos Beatles, e “I’ll Never Fall in Love Again”, clássico quase brega de Burt Bacharach, são alguns dos exemplos de como o artista assumiu uma clara tendência pop na segunda metade de sua carreira.

A escolha, no entanto, não faz de Green Is Beautiful um dis­co medíocre. As interpretações ganham força nas versões de Green, e a atmosfera funk é sentida especialmente nas composições do homem do órgão (no bom sentido, é claro), mistah Neal Creque: “Windjammer” e “Dracu­la” estão entre as melhores faixas do LP. Por todos esses factoides, Green Is Beautiful é considerado um dos cem melhores discos da história do jazz, e é o maior sucesso comercial da carreira de Grant Green – que certamente acumulou várias verdinhas com as vendas da pepita. Absolutamente sensacional!


Booker T. & The M.G.’s . GREEN ONIONS . Atlantic, 1962


Originalmente lançado como álbum inde­pendente, Green Onions talvez seja o verde mais maduro do ano de 1962. Em pouco mais de meia hora de música instrumental, o ór­gão de Booker T. Jones se une aos talentos específicos dos fantásticos M.G.’s – e em especial à guitarra de Steve Cropper – para conceber um dos mais complexos, intuitivos e criativos LPs da primeira metade dos anos 60. Espécie de pré-R&B contemporâneo cheio de groove, o disco continua a ser con­siderado o cartão de visitas do músico que esteve presente na Virada Cultural em 2010 e, mesmo pra lá de tiozão, mostrou ao público paulistano com quantas cebolas verdes se faz uma boa apresentação.

Soul, blues, rock, jazz e R&B estão presen­tes no caldeirão de referências musicais de Booker T., um dos primeiros artistas res­peitados pela fusão do soul e do rock. Sua banda viria a ser a “houseband” de ninguém menos do que a prestigiadíssima Stax Records, fato que impulsionaria ainda mais a carreira do músico e de seus M.G.’s – iniciais de “Memphis Group”. Versões para clássi­cos como “I Got a Woman” (de Ray Charles), “One Who Really Loves You” (de Smokey Robinson) e “Twist and Shout” (hum... dos Ramones?!) se unem aos clássicos autorais “Green Onions” e “Mo’ Onions”, e o resultado final são doze operetas instrumentais absolutamente intransponíveis.

O suficiente para afirmarmos categoricamente que a cebola, a grama (e a alma?) de Booker T. Jones são mais verdes que a do vizinho.

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 grant green, booker t, green is beautiful, green onions, obras primas

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