Seleta . Discos de rock

Paulo Biggers, colecionador de vinis, fala sobre sua enorme coleção e explica os motivos pelos quais têm vários exemplares da mesma obra

POR MENTALOZZ   COLABORAÇÃO DE DR. JACOB PINHEIRO GOLDBERG
publicado em 15.09.2011 14:36  | última atualização 17.09.2011 21:23

AC/DC vermelho sangue da era do Bon Scott - uma das várias raridades de Paulo Biggers POR Fernando Martins Ferreira

Colecionadores estão sempre em busca de algo diferente, e muitas vezes acabam se apegando a detalhes específicos dos itens que colecionam, fazendo de uma diferença mínima entre versões de um mesmo objeto um atributo suficiente para que se deseje ter dois exemplares aparentemente idênticos.

Para entender melhor esse tipo de colecionador, a Seleta foi conversar com Paulo Biggers, empresário do ramo imobiliário e colecionador literalmente de nascença, que guarda desde coisas como uma bandeira de família dos Estados Confederados da América da Guerra Civil Americana até objetos mais comuns, como car­rinhos Matchbox e Hot Wheels. Porém, foi com os LPs que ele se especializou em obter duas ou mais versões de um mesmo álbum, sempre atento aos pequenos detalhes que tornam os discos diferentes entre si.

Você sempre colecionou?

Sim, está no DNA. Sou de família americana, e americano acumula muita coisa. Minha família inteira colecionava. O meu avô guardava moedas antigas de prata e tinha coisas na garagem de casa em Las Vegas que nem ele sabia. Lembro que uma vez fuçando lá achei umas duzentas armas e uma Harley-Davidson inteira original, dos anos 40. Meu pai tinha coleção de selos e brinquedos dos anos 40, da época da guerra, mas foi perdendo durante suas mudanças de endereço e hoje não tem mais.

Você já perdeu alguma coisa numa mudança?

Sim, várias coisas, mas a pior foi uma camisa do Cosmos assinada pelo Pelé. Minha mãe era amiga da advogada dele, eu pedi, e ele deu pessoalmente. Na época, para preservar a assinatura, mandei uma costureira bordar por cima dela toda.

Você coleciona autógrafos?

Não, acho muito fácil falsificar autógrafo. Só tenho um do Angus Young que estudei muito antes de comprar. Ele vem com o vídeo que comprova o momento da assinatura.

Você coleciona todo tipo de LP?

Não, só rock anos dos 70 e 80. Meu forte é AC/DC Bon-Era, ou seja, com o Bon Scott no vocal.

Por que colecionar várias cópias do mesmo título?

Eu procuro sempre a prensagem mais baixa, porque é a mais próxima da sonoridade original, já que a master que a banda gravou sempre sofre algum tipo de deterioração quando é usada para gerar um novo lote de cópias. Os colecionadores como eu ficam de olho na numeração da prensagem, um pequeno código escrito no vinil perto do rótulo central, que identifica qual a matriz que originou a cópia do álbum. Quanto mais baixa a numeração, mais fiel é a sonoridade.

Mas meu interesse vai além, e em alguns casos começo a comprar o mesmo título caso existam a versão mono e estéreo, ou qualquer tipo mínimo de diferença, como a cor do vinil, o rótulo e diferenças na capa, mesmo que pequenas. Estou sempre em busca de edições limitadas e fico atento às mudanças de selo, porque muitas vezes uma banda começa num selo independente e ao fazer sucesso tem seus discos relançados por uma gravadora maior. Outra coisa que acaba fazendo diferença é o país onde o disco foi lançado. É possível perceber mudanças no som de um título lançado no Brasil se comparado ao mesmo disco fabricado no Japão.

É um prazer ter clássicos como Are You Experienced? zerado e na sua versão mais pura, ou seja, em vinil, versão da master do primeiro selo, o mais próximo do momento em que o Hendrix gravou. E a prensagem A1 mono com a capa original laminada. 

E você escuta esses discos?

Só uma vez, quando ele chega. Depois acabo escutando a versão em CD para conservar o LP.

Qual o disco mais valioso da sua coleção?

Acho que é um test press do Orgasmatron, do Motörhead, que provavelmente vazou de alguém de dentro da gravadora.

De qual título você tem mais cópias?

Highway to Hell, do AC/DC. Existem muitas versões desse disco, por exemplo um lançamento através de uma revista na Alemanha Ocidental que vem com pôster da turnê, a versão da Alemanha Oriental, que é muito rara, e também vários modelos de capas, às vezes com pequenas diferenças, cor dos rótulos, cor do vinil. Do Highway to Hell eu tenho mais de vinte cópias diferentes.

Qual a maior dificuldade desse tipo de colecionismo?

É obter a informação correta, ter uma fonte confiável, não comprar falsificação. Existe pirataria até da pirataria — é preciso saber de pequenos detalhes para diferenciar um disco pirata original de um pirata do pirata. 

Qual é o seu maior objeto de cobiça hoje?

Uma versão do primeirão do Motörhead, porque a capa é pintada à mão.

Qual a maior excentricidade da sua coleção?

Acho que não está nos discos, e sim nos carrinhos Hot Wheels. Gosto de colecionar os modelos que, além de lacrados, nunca foram expostos — ou seja, não têm o furo da cartela de exposição violado.

Parecer do Dr. Jacob Pinheiro Goldberg

O colecionador é frequentemente um caçador de aves raras. Quanto mais particular é o objeto desejado, às vezes até por algum tipo de defeito, mais ele se torna absolutamente único. Esse tipo de colecionador com o tempo vai apurando seu faro, vai qualificando e depurando sua busca. Por trás disso podemos detectar uma vontade do diferencial, não do objeto colecionado, e sim da própria coleção da contingência humana, ou seja, ele consegue, através do seu acervo, se destacar e ser único.

tags:
 coleção, vinil

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