fIN

John Talabot

Permanent Vacation, 2012

 

POR Stefanie Gaspar publicado em 22.02.2012

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Sintetizadores penetrantes, samples atmosféricos e um coro atípico de sapos envolto por um clamor de vozes tribais. Durante os sete minutos de "Depak Ine", faixa inicial do primeiro álbum de John Talabot, sonoridades aparentemente díspares se reúnem para criar uma trilha sonora de imersão: cada novo som remete a um desejo idílico de encontrar a totalidade, de fazer parte de um organismo só. Em meio a cânticos primitivos, vocais distorcidos e uma mistura incisiva de house, disco, balearic, sons tribais, baixos BPMs de pura hipnose, o produtor e DJ espanhol cria uma nova maneira de contar suas histórias em fIN, lançado pelo selo Permanent Vacation.

A carreira de Talabot começou em meados de 2000 com elementos do techno, uso pesado de sintetizadores e influências de selos como B Pitch Control, Sound Signature e KDJ (de Moodyman). Além disso, o catalão se inspirou nos hits do northern soul e em ritmos africanos para começar a criar um ritmo próprio, que consegue unir house, balearic, disco, grooves sincopados, experimentações drone e até mesmo prog. Segundo ele, singles celebrados como "Sunshine" e "Matilda's Dream", ambos lançados em 2010, trazem a elevação espiritual do transe por meio de repetições e texturas hipnóticas. Sem recorrer a sonoridades mais óbvias ou estereótipos da música africana, Talabot criou em "Sunshine" uma ode repleta de cânticos e ritualismo, trazendo influências do funk e da house music e transformando sete minutos de repetições 4x4 em uma força da natureza.


É essa capacidade de harmonizar sonoridades díspares e transformá-las em um ritual xamânico a grande força de fIN. Desde o lançamento de Swim, do Caribou, a música eletrônica não trazia um álbum tão declaradamente sinestésico, sensorial e espiritual - de "Depak Ine" a "Missing You" e "El Oeste", quase todas as canções remetem a orações primitivas, a maneiras de se unir com a natureza, com um oceano de sons, sensações e significados.


Em entrevistas recentes, John Talabot se mostrou surpreso com críticas que classificavam seu álbum como alegre - ou, pior, tropical. “Não consigo entender essas interpretações. Todas as minhas músicas são sombrias ou trazem consigo algum senso de perigo. Por meio da repetição, eu quero transformar pequenas variações em momentos de imersão musical. Nunca imaginei algo 'solar', 'tropical'”, afirmou ele. Justiça seja feita, em uma primeira audição é fácil imaginar algumas faixas como trilhas sonoras para uma festa de verão na praia, ainda mais com a escolha de samples exultantes e texturas sinestésicas típicas de Talabot. Com o tempo, entretanto, fIN se releva exatamente o contrário: seus momentos de beleza estética e glórias atmosféricas embebidas em IDM e balearic não chamam pelo sol, e sim por um ideal ritualístico mais conflituoso e menos óbvio. O senso de perigo citado pelo músico é visível em faixas mais agressivas como "Oro y Sangre" e "Missing You", com seus vocais desmanchados que se unem aos demais elementos sonoros e transformam melodias plácidas em elegias ao lado mais traiçoeiro da natureza.


Toda essa atmosfera tribal e repleta de texturas orgânicas, entretanto, não teria resultado em nada se Talabot não tivesse adquirido uma característica essencial: a capacidade de criar melodias contagiantes e que dialogam a pista e com o pop de maneira coesa. O início do álbum explicita bem esse equilíbrio, com o duo entre "Destiny" e "El Oeste". Em "Destiny", um hino de vocais harmonizados vai crescendo aos poucos, em uma melodia sintetizada e que rapidamente se transforma em coro de pista, com a repetição suave de "destiny, destiny, destiny" - similar ao hit "Sun", do Caribou. Logo em seguida, "El Oeste" transmuta um loop de sintetizadores sombrios em um house exultante e delicado.


A sensação de regredir a estados mais elementares da natureza e do ritualismo tribal em uma atmosfera de sinestesia e hedonismo é apenas uma definição para fIN, que marca John Talabot como um produtor ousado e dono de um dos álbuns mais interessantes dos últimos tempos. E 2012 acabou de começar.

tags:
 john talabot, fin, caribou

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