Vincent Moon abre exposição no SESC Pompeia nesta terça

O Olhar Nômade de Vincent Moon vai até o fim do mês e ainda conta com workshop e palestras

POR AMAURI STAMBOROSKI JR.
publicado em 08.01.2013 14:07  | última atualização 08.01.2013 14:30

Vincent Moon na Casa do Mancha POR Fernando Martins Ferreira

O cineasta francês Vincent Moon, conhecido pelos seus Take Away Shows – vídeos de um take filmados na rua ou em ambientes fora do palco com diferentes músicos do mundo todo – que ajudaram a expandir a carreira de artistas como Beirut e The National, entre dezenas de outros, volta ao Brasil para inaugurar sua primeira exposição brasileira no SESC Pompeia.

A expo O Olhar Nômade de Vincent Moon estreia nesta terça-feira (8), a partir das 20h, e fica na Área de Convivência do SESC Pompeia até o dia 27 de janeiro. A mostra traz uma série de vídeos do artista, filmados ao redor do mundo. Moon esteve no Brasil por um longo período entre 2010 e 2011, e aqui gravou com artistas como Tom Zé, Dona Inah, Ney Matogrosso, Jorge Mautner, Alessandra Leão, Jards Macalé, Lulina e muito mais – confira a lista completa no .

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Além das exibições, Moon também vai realizar um workshop de produção e gravação nos dias 19, 20 e 21, e também realiza dois bate-papos com os espectadores nos dias 22 e 23. Mais informações no site do SESC Pompeia.

O francês ainda pretende continuar sua viagem pelo Brasil por mais dois meses, com filmagens e visitas ao Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Salvador. Durante a primeira passagem de Moon pelo Brasil, a Soma entrevistou o cineasta, leia um trecho do papo logo abaixo.

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Como começou o seu trabalho? Quando você pegou pela primeira vez numa câmera?

Comecei a mexer com cinema depois de terminar a escola, tinha uns 18 anos. Fui parar na Cinemascope, uma universidade de cinema, meio que por acidente. Não sabia nada sobre cinema, nunca tinha encostado em uma câmera. Um ano depois eu estava tirando fotos na rua, aprendendo a olhar de outro jeito para as coisas – é como se estivessem nos ensinando a viver. Tínhamos fotógrafos incríveis nos ensinando, e isso me influenciou muito. A filosofia que eu sigo é “você faz e depois você cria” (“you make and then you fake”). Você não escreve dezenas de páginas de roteiro e fica tentando captar dinheiro, enrolando. Primeiro filme alguma coisa, e depois descubra o que você fez e como seu filme pode crescer a partir daquilo.


Foto por Fernando Martins Ferreira

Quando eu tinha 19 ou 20 anos, comecei a ler os situacionistas. E aquilo era uma filosofia de vida, a arte como um processo do cotidiano. Adoro essa expressão, “a revolução nos ombros da vida cotidiana”. Acordo todo dia e penso: “Qual será a minha revolução hoje?”. É como eu entendo o processo criativo. Não ligo para projetos gigantes, “grandes filmes”, quero trabalhar todo dia com algo novo. Para mim, fazer filmes não é mais importante do que tomar uma cerveja com você. É algo pequeno, simples, e todo mundo deveria fazer. Não filmes, mas algo, criar algo. Tenho amigos que fazem música, outros filmam, outros tiram fotos, e isso é ótimo. Não pelo resultado, mas pelo processo. Mas eu estou me desviando do assunto – qual era a pergunta mesmo?

Quando você pegou numa câmera pela primeira vez?

Foi complicado, comecei bem tarde, aos 20 anos – eu não sabia nada até então. Comecei também a me interessar por música, ia a muitos shows, tive muita sorte por morar em Paris. Então comecei a pesquisar a relação entre cinema e música, querendo descobrir quais foram os documentários mais loucos sobre o tema. Passei a ter novas ideias, com uma forte crença no cinema experimental. Comecei fazendo vídeos bem lo-fi, para amigos, grupos pequenos como o The National.

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Li no seu blog um post com um vídeo do (artista cambojano) Kong Nay, em que você dizia que estava começando a repensar a forma de filmar artistas tradicionais e que queria abrir um selo. Qual é a diferença entre filmar uma banda de rock e um músico tradicional?

A diferença é que o artista tradicional normalmente não fala a minha língua. E não sabe quem eu sou. E não faz a mínima ideia de que eu quero fazer um filme. E ele não se importa. Só se importa em ganhar algum dinheiro. Existe essa ideia totalmente ingênua – que eu descobri que era besteira quando visitei o Egito pela primeira vez – de que esses músicos ficam tocando o tempo todo, que faz parte do cotidiano das pessoas. Isso até é verdade, mas ganhar dinheiro é mais importante ainda. Nunca encontrei na Europa ou nos EUA algum músico que, no fim de uma gravação, me perguntasse: “E então, quanto eu vou receber?”. No Egito era impossível achar algum músico que concordasse em ser filmado sem ser pago. É por isso que eu quero criar um selo, para encontrar uma maneira de pagar esses músicos tradicionais.

Tenho me interessado muito por gravações de campo, todas aquelas coisas do Alan Lomax, e também por cinema etnográfico, Jean Rouch, sou um grande fã dele. Ele levantou a grande pergunta logo no início disso tudo. A questão é: qual é o tipo de relacionamentos que nós criamos com nossos pesquisados quando os filmamos? Ele estava vivendo na África na época, e se via como parte da ação, não estava lá documentando de uma maneira totalmente objetiva. Isso é algo que eu defendo muito. Acho que o século XX foi o século em que as coisas foram arquivadas, foram criados arquivos dessas culturas que estavam desaparecendo. O trabalho do Alan Lomax é incrível, mas acho que chegamos a um novo paradigma. Já arquivamos demais. Eu deveria arquivar essas performances e colocá-las em uma porra de museu ou tentar mexer com elas, fazer algo novo? Então meu dilema agora é como filmar de uma maneira objetiva colocando a minha subjetividade nisso, tentando manter essas culturas vivas sem respeitá-las, experimentando com elas. Quando estive no Cairo não consegui fazer isso, não tinha tempo suficiente. Filmei momentos de música ritual, que é uma música incrível, bizarra. E, mesmo sendo parte da cerimônia, afinal eles estavam dançando para mim, acho que não consegui transformar aquilo em algo novo. Quero fazer algo híbrido, que é o que tento fazer também nos "Take Away Shows", algo que fica entre o cinema e a música. Quero fugir dos gêneros. Assim que você coloca as coisas em gêneros, você acaba com elas.

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Talvez nós não precisemos arquivar tudo, “salvar” essas tradições orais. Antes da invenção do fonógrafo muitas culturas nasceram e morreram e ficaram sem registro. Por que não deixar essas culturas contemporâneas seguirem seu rumo natural, desaparecendo também?

Eu concordo com essa ideia de morte, de que as coisas desaparecem. Vivemos numa cultura que tenta manter tudo vivo, mas nada mais está vivo. Nada mais desaparece, mas também nada mais é criado. É um paradoxo terrível. Eu faço o meu melhor para tentar superá-lo.

Você se define como um nômade – quando decidiu isso?

Como a maior parte das decisões da minha vida, foi um acidente. Há cinco anos, quando comecei a ver os novos equipamentos e os novos computadores, eu pensei: “Meu Deus, talvez um dia um cara possa viajar por todo o mundo fazendo filmes. Isso vai ser maravilhoso, e eu vou querer ver o que esse cara vai fazer!” (risos). Bom, eu estava cada vez mais na estrada, sempre viajando, e um dia pensei: “Bem que eu poderia viver na estrada”. É cansativo, é difícil, mas é incrível.

O Olhar Nômade de Vincent Moon no SESC Pompeia

Quando . de 8 a 23 de janeiro . Terça a sábado das 10h às 21h, domingos e feriados das 10h às 20h
Onde . SESC Pompeia . Rua Clélia, 93 – São Paulo/ SP
Quanto . só colar
Infos . sescsp.org.br /

tags:
 vincent moon, sesc pompeia

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