Fabiano Rodrigues . Vivendo de sonho

De profissional do skate a artista do skate, fotógrafo rompe barreiras e cria novo espaço em museus e galerias de arte – leia entrevista

POR RUGGERO FIANDANESE
publicado em 06.02.2013 17:27  | última atualização 08.02.2013 10:59

Fabiano Rodrigues POR Fernando Martins Ferreira

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Fabiano Rodrigues abandonou sua carreira de skatista profissional com uma única intenção: nunca deixar o skate para trás.  

Com um controle remoto na mão e uma câmera fotográfica no tripé, Fabiano encontrou sua própria forma de colocar o carrinho em evidência, achando nos autorretratos uma nova plataforma para suas manobras, ganhando o status de primeiro skatista a ser representado – como skatista, e não “artista” – por uma galeria de arte.

Seu trabalho vem ganhando notoriedade no mercado de arte. Em sua primeira exposição, vendeu uma obra para a Pinacoteca do Estado de São Paulo, que o convidou, meses mais tarde, para fazer um ensaio fotográfico no próprio interior do museu. 

Antes disso, já havia acrescentado um olhar significativo, que ajudou a mudar o panorama das três maiores revistas especializadas em skate do Brasil. As mesmas em que foi capa andando de skate e tempos depois, fotografando skate.

Conheci o Lokinho quando tinha uns 14 anos, em uma demo da Qix no Campeonato Paranaense. Se pá ele nem lembra disso, mas apertei sua mão e falei o quanto curtia ver ele andando. Mal sabia que, 5 anos mais tarde, estaria sendo fotografado por ele na sessão que me rendeu 8 pontos na testa e alguns dias de cama.

Fabiano Rodrigues se tornou um artista? Vou além. Fabiano nunca deixou de ser skatista. Talvez um dos mais relevantes da nossa história.

Se você quiser ver de perto suas ampliações, saiba que algumas estão em exposição na Galeria LOGO e outras fazem parte da 4º mostra SP Samsung de Fotografia, na Tag and Juice.

Abaixo você pode ver um vídeo inédito, feito por Cotinz, com Fabiano andando pelos lugares em que se fotografou - e, logo depois, nosso longo papo sobre carreira no skate, a fotógrafa Marina Abramovic, sonhos e os melhores picos para se autofotografar.



Como e quando o skate entrou na sua vida a ponto de você decidir que viveria disso pelo resto da vida?

Eu ando de skate desde 1986. Tinha 12 anos. Antes disso eu surfava, andava de bike, mas quando ganhei um skate acabou tudo, era só andar de skate. Mas fui um skatista muito burro, eu não tenho vergonha de falar isso. Tive muita influência de campeonato, de coisas assim tá ligado? Em Santos minha maior influência era a equipe da H. Prol, o Dinho, o Kid... Os caras tinham equipamentos profissionais, eram competitivos, se tornaram referências nacionais da época. Era uma marca foda. Por mais que também tivesse uma influência punk, de bandas como os Ramones, não era tão pesquisador. Tentei andar de skate e ser amador, para um dia ser pro, ter patrocínio e por aí vai.

Mais tarde você teve marcas como a Superia...

Eu acredito que queria fazer isso mais para poder corrigir tudo o que eu havia feito de errado no skate. Quando eu criei a Superia, já tinha a experiência necessária para poder desenvolver o design das peças, ter o controle dos fornecedores. A ideia era colocar todo meu carinho nisso para poder corrigir todo esse lado errado. Imagina o seguinte: Eu nasci e cresci na periferia de Santos, o que chegava para mim, era no máximo uma revista Tribo ou o que passava de skate no Esporte Espetacular. Na TV era o Ferrugem sendo campeão, Bob Burnquist sendo campeão. O conteúdo das revistas era praticamente sobre tudo o que rolava nos campeonatos.

O que te motivou a seguir pelo caminho da arte?

Eu já tentava fazer umas colagens quando era pequeno. Já quis fazer marca há 15, 20 anos atrás. Fazia silk com filme de recorte, não era nem emulsão. Imagina um filme que você cola com estopo e thinner, depois recorta com estilete. Já fiz camiseta do Metallica no estilete. Inventava marcas, logotipos. É engraçado, eu sempre fui ligado a fotografia, viajava nas revistas de skate gringas. Naquela época, eu já curtia um tipo de fotografia que é o que faço hoje, uma foto mais aberta, não aquela fechada e focada só no skatista e na manobra. Quando os fotógrafos iam me fotografar, tinha em mente a minha própria visão de como queria aquela foto, do pico que eu apresentava, mas o resultado era do fotógrafo, do olhar dele.

Isso te frustrava?
 
Não que me frustrava, mas eu imaginava algo e quando via era outra. Ainda mais nessa época, que a maioria das fotos eram feitas em filme, só via o resultado final já na revista. Imaginava toda uma coisa quando via o pico e não saia daquele jeito. Não pensava só na manobra, pensava na em uma composição como todo. Quando eu comecei a fotografar, fui pro lado do meu olhar, depois de um tempo é que comecei a pensar no autorretrato. Percebi que era a única forma de chegar no que quero era se eu mesmo me fotografasse. Até que uma vez participei de um trabalho de editorial da Volcom junto com o fotógrafo Cássio Vasconcelos, ele deixava a câmera na minha mão (eu em cima do skate) e disparava com um controle remoto. Aí eu vi como poderia fazer.
 
O segredo estava no controle.
 
Exatamente! Vi que era só colocar a câmera no tripé e já era. Fiz uma pesquisa por um controle, vi qual seria o melhor e comprei. Fiz uns dois testes, o resultado ficou bem legal, só que eu não tinha pensado em fazer isso como uma obra de arte, era mais como projeto pessoal. Não tinha ideia do que poderia acontecer. Eu mandei um e-mail para o Grant Brittain, editor da Revista Skateboardermag.
 
Caramba, logo ele.
 
Porra, o cara é um dos fotógrafos mais relevantes da história do skate, fotografou Tony Hawk, Duane Peters. Ele era uma cabeça que poderia saber me dizer com certeza se aquele projeto já tinha sido feito por alguém. Mandei um e-mail do tipo: Grant, estou fazendo um trampo assim, assim e assado. Só você vai saber se isso já foi feito. Nisso mandei também essas fotos testes. Já sabia que outros caras tinham feito parecido, mas de outro jeito, com um timer e outra proposta. Aí ele me respondeu falando que a ideia era muito foda e ainda me pediu o arquivo para fazer uma matéria na prórpria Skaterboardermag. A primeira resposta foi sem querer uma publicação em uma das maiores revistas de skate do mundo. Ganhei uma página na revista, com um texto dele falando sobre meu projeto e duas fotos minhas. Na sequência dessa fita, o [Flávio] Samelo publicou uma das minhas fotos na revista Vista.
 
Então foi aí que tudo começou, de fato.
 
Foi foda! Era a primeira vez que faria algo autêntico na vida, algo que eu sei que ninguém havia feito. Muitas vezes isso não importa, mas eu queria ter o sentimento de ter desenvolvido algo próprio. Aí comecei a fazer uma outra pesquisa, a de lugares. Fiz uma foto de skate com uma fish-eye mandando um wallride, depois fiz uma foto mais técnica usando flashes. A partir daí fui pro mundo da amplitude. Por sorte, quando comecei meu projeto para a Galeria LOGO, fui fotografar em um pico icônico para a cidade de São Paulo, o Vale do Anhangabaú. Minha pesquisa foi evoluindo até chegar na arquitetura. Conversando com o Pexão e de outras pessoas comecei a compreender mais quem são os arquitetos conceituados, os lugares relevantes para andar de skate. Foi essa busca, de arquitetura e dos lugares que provavelmente ninguém poderia andar de skate.

Como você e o Lucas Pexão se conheceram?

Cara, nós trabalhávamos juntos na Qix, eu como skatista profissional e ele dirigindo o departamento de conteúdo. Naquela época, a Qix tinha um site fudido, era uma das principais mídias de skate. Um dia estava baixando um vídeo chamado “Le boxx”, no Soulseek, e sem querer fui saber que era dele que estava baixando. Estava online fazendo o download e o Soulseek tinha um chat, aí ele viu meu nick e entrou para conversar comigo, perguntando se era eu mesmo lá da Qix. Nisso começamos a trocar ideia. Ele me perguntou por que eu estava baixando aquele vídeo, pois era um vídeo de uma cena bem underground, bem diferente das coisas de skate no Brasil, algo que ninguém procura. Ele também queria saber se eu fazia algo fora do skate e eu respondi que tinha muito interesse em arte, pesquisava isso. Ele também quis saber se eu fazia algumas coisas, eu respondi que fazia...


Foto por Fabiano Rodrigues

E o que você fazia?

Ele me pediu por e-mail para eu mandar alguma coisa para ele, mesmo que fosse escaneada. Eu já tinha um caderno de desenhos e colagens, o Pexão foi o primeiro cara que viu isso. Eu ainda tinha um pouco de vergonha de mostrar meu trabalho pessoal para alguém e ele foi o primeiro cara que viu esse material.

Você falou sobre a importância da Galeria LOGO, em que parte da história ela entra no seu projeto?
 
O que aconteceu e foi crucial para meu trabalho constar entre o leque de artistas da galeria, foi uma visita da Marina Abramovic. Ela vem pro Brasil frequentemente para fazer alguns exames e coisas do tipo. Quando chegou aqui, ela procurou se informar sobre lugares novos para se visitar e ver arte, pois nas últimas visitas só tinha visto as mesmas coisas. A LOGO tinha acabado de abrir, ela visitou e conversou com o Pexão. Foi tipo: “Olá, tudo bem, será que eu posso ir até aí e conhecer a galeria?”. O Lucas conversou com ela, a conversa foi se estendendo até o ponto em que ela perguntou se havia algum artista que possuía obras performáticas. Ele falou que ainda não havia, a não ser artistas que tem banda, como o Farofa [Sesper, do Garage Fuzz], que faz uma performance de música. Mas não artistas de performance mesmo. Foi aí que ele falou sobre meu trabalho, enxergando meu projeto de autorretratos como um trabalho de performance. Ele mostrou uma foto para ela, que disse: “Esse trabalho é genial, vocês tem que representar esse cara!”. Aí todo mundo na galeria achou muito legal e começou a analisar a possibilidade da minha “entrada”. Eu não estava produzindo tanto, tinha esse projeto na gaveta e quando ele me chamou foi justamente pra isso. Fiquei meio “putz, na LOGO só tem artista com nome relevante no mercado, artista bom, eu não estou produzindo tanto, não tenho tanto nome, será que vai rolar?”. O Pexão me incentivou a fazer e é logico que, como confio no cara, aceitei e realmente foi algo muito positivo, pois a primeira obra que expomos foi comprada por um museu, na SP Arte.
 
Que museu foi esse?
 
Pinacoteca. Esse dia da SP Arte eu tinha produzido só mais uma foto. Quem comprou foi o Diógenes Moura (curador de fotografia da Pinacoteca de São Paulo). Isso tudo através do Banco Espírito Santo. O Banco deu a verba e através dessa compra eu ganhei um prêmio de arte na SP Arte.
 
O nome Fabiano Rodrigues agora estava no mercado.
 
Depois que aconteceu isso o próprio banco comprou mais duas obras. Essas obras fazem parte do acervo do banco. Foram duas obras compradas no ArtRio.
 
A conexão entre seu trabalho/ museu foi o Diógenes então?
 
Foi o diretor da Pinacoteca, o Ivo Mesquita.
 
Como foi isso? Ele viu a foto que o Diógenes tinha adquirido e achou do caralho?
 

Foi diferente. Na realidade, ele viu a repercussão que essa compra teve em uma matéria da Folha de S. Paulo. Foi aí que ele me convidou para fazer algo lá na Pinacoteca. O que eu não imaginava é que ele iria liberar para andar de skate lá dentro e fazer tudo o que a gente fez. A princípio eu acreditei que faríamos alguma coisa na parte de fora, tinha uma escada ali. No fim das contas foi uma chamada direta. A missão era produzir uma foto de skate dentro da Pinacoteca.


Foto por Fabiano Rodrigues

Como foi esse lance do MALBA (Museu de Arte Latino Americana de Buenos Aires)?
 
Isso tem um crédito pra artista argentina Marina [Zumi]. Ela tinha o contato e mostrou meu trabalho. Eles curtiram e abriram as portas. Na época eu estava em Buenos Aires, o que agilizou muito o lado. Lá eu também fotografei na Faculdade de Direito, outro lugar super classico. As duas obras que estão em exposição na Galeria Logo hoje, são as que eu fiz nessa viagem.
 
Onde foram parar as fotos que você fez nesses museus?
 
Foi na SP Arte Foto que apresentei, junto com a LOGO, o trabalho feito na Pinacoteca e no Memorial da América Latina. Foi a única galeria que apresentou um só artista. Colocamos 8 obras em exposição e vendemos tudo. Para ser bem sincero, vendemos 11 ampliações, pois três obras foram vendidas à parte. Até o João Paulo Diniz comprou uma das obras.

Como você enxerga um lugar interessante para fazer um autorretrato?
 
É simples. Pesquiso o lugar. A arquitetura e quem foi o arquiteto. Se é possível andar de skate, se eu preciso de autorização, se foi um convite ou na raça. Vou antes, marco no telefone o horário de luz. Faço um estudo técnico que dura semanas antes de produzir a fotografia. Chego lá, busco um ângulo, boto a câmera no tripé. Muitas vezes vejo um lugar pensando em um resultado, mas quando abro a câmera, no visor já é outra coisa. Muda. Fica melhor ou pior. Já teve lugares que colei quatro ou cinco vezes, tentei de vários ângulos e não consegui.

Quantas vezes você tira uma foto até sair uma boa?
 
Depende. Já teve vezes de tentar 30, 40 vezes, e outra que foi na quinta tentativa. Depende muito do que vou fazer, até mesmo se a manobra que vou mandar é mais complicada. A ideia do projeto não é se matar, não é mandar as melhores manobras. Não é “nível” de skate, é apenas skate. É claro que ás vezes eu me puxo, como na Pinacoteca, que eu mandei um wallride na parede de tijolo e saí com as mãos todas cortadas. Foi foda. A mais difícil que eu fiz até agora foi a da Oca. Tem no vídeo, é um fakie que eu dou na janelinha.


Foto por Fabiano Rodrigues

Além do quão importante isso é para sua carreira de artista e fotógrafo, o que você pensa sobre o espaço do skate dentro de um Museu e consequentemente, visto como arte?
 
Eu acho importante por diversos fatores. O skate já tem seu espaço nos Estados Unidos e na Europa, mas aqui no Brasil ele ainda está engatinhando. Ainda tem muita gente que não entende skate. Acredito e tenho esperança que as pessoas entendam que o skate vai além de um esporte de formato competitivo, que pode estragar um banco ou desgastar o chão. É crucial mostrarmos o lado artístico, o estilo de vida, as coisas que envolvem o mundo do skate.
 
Tem muita gente que não respeita o skate pela questão do desgaste.
 
Isso é muito complicado, ainda mais em São Paulo que praticamente não existem lugares próprios para se andar de skate. No meu caso, vejo que é muito importante mostrar o skate como uma plataforma de arte, e isso sempre aconteceu. Desde os primeiros shapes, dos gráficos das rodas, das coisas que envolvem o skate. O Skate bebe e sempre bebeu da arte. desde o princípio.
 
Por que você deixou de ser profissional de skate para viver de arte?

 
Um belo dia o Fernando Martins [Ferreira, fotógrafo da Soma] foi até Santos para me fotografar para um anúncio de uma marca, e eu comecei a me estressar tentando uma manobra. Quando parei para olhar aquela situação, falei pro Fê: “Caralho, o que é que estou fazendo? Eu vou sair desse game hoje, quero fazer outra coisa da minha vida”. Aí não fizemos a foto e no mesmo dia resolvi desencanar de ser skatista profissional e pedi demissão dos meus patrocinadores. Foi aí que rolou um convite na Volcom, para fazer parte da equipe de arte. Ao mesmo tempo em que desenvolvia meus trabalhos de design também aproveitei para desenvolver a fotografia. Quando percebi, já estava fazendo a foto do anúncio e a intervenção de arte que aquele material teria quando fosse para a revista. A fotografia foi tomando cada vez mais espaço. Entrei no projeto de artistas da Volcom e depois de um tempo me tornei fotografo exclusivo da marca. O que me ajudou bastante a ter tempo para realizar meus projetos pessoais. Saí do escritório e fui pra rua.
 
Que rápido aconteceu tudo isso, não?
 
Eu acredito que foi um processo muito natural. Desencanei de uma pressão que não me deixava mais feliz, comecei um novo projeto de vida entrando na LOGO e de lá até aqui são quase 20 auto-retratos ampliados. Sempre em médio formato, no papel algodão, 1,10m x 1,47m em cópia única.

Como foi ter feito esse vídeo em parceria com o Cotinz, registrando vários picos icônicos onde você fotografou?

Na verdade esse vídeo é um colaboração da Volcom com a Galeria LOGO, por que a ideia do Lucas de me colocar na galeria também foi por causa de uma pesquisa em que descobrimos que não havia nenhum skatista sendo representado por uma galeria de arte. A ideia era um skatista que andasse de skate pela galeria. O Pexão quis mostrar não só o lado artístico, mas o lado do skate mesmo, o cara andando de skate.

Por que fazer um vídeo seu andando pelos picos em que fotografou?

Quando eu entrei para a galeria, o Pexão já tinha me dito que uma das coisas que gostaria de fazer comigo era um vídeo experimental andando de skate. Conseguimos o apoio da Lomo para filmar de Lomokino. Eles deram câmera, filmes, revelação, scan e emprestaram umas lentes de plástico para filmar em HD. A trilha quem fez foi o Carlos Issa do Objeto Amarelo, bem experimental. Para captar as imagens, entendemos que o Cotinz seria o único cara que conseguiria atingir a nossa linguagem, experimental e contemporânea.

Você deixou a criação visual do vídeo na mão do Cotinz?

Deixei 100% na mão dele, não interferi em nada. Alguma coisa no corte final, mas eram coisas relacionadas ao meu jeito de andar de skate. Sério, o Cotinz é gênio.

Pelo jeito você curtiu bastante o resultado.

Esse vídeo retrata um outro lado da minha vida como skatista. É um alívio poder ter feito isso, sinto que o Pexão me deu a oportunidade de lavar a alma. Tudo o que eu fiz de errado posso fazer certo, tem essa parte importante. Andar de skate tranquilo, sem preocupações. Ás vezes nem entendo como me sujeitei a tanta coisa, mas precisava comer. Viver de sonho é muito difícil.

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 galeria LOGO, skate, fabiano rodrigues, lokinho

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