Melhores 2012 . Discos de lá

Confira os melhores discos gringos do ano, selecionados pela equipe da Soma

POR EQUIPE SOMA
publicado em 20.12.2012 14:24  | última atualização 20.12.2012 17:57

Melhores 2012 . Discos de lá POR Felipe Ribeiro / Equipe Soma

A principal marca de 2012 é a visão definitiva de que não há mais caminho único, tendência principal, corrente contínua: o que era corrente e rio virou delta, e, por fim, oceano, e nada vai fazer a música voltar a seu estado anterior. Se diante dessa fragmentação uma lista de melhores parece anacrônica, propomos também uma mudança de visão a ela – encare nosso rol mais como mapa do que como hierarquia. E tenha uma boa navegação.

Lembrando que nossa humilde lista passou por mudanças próprias neste ano: desta vez mexemos nas regras da eleição e, emprestando a ideia da lista Pazz & Jop, clássico do Village Voice, convocamos nosso time de eleitores a distribuírem um determinado número de pontos aos discos escolhidos. No final desse texto você pode encontrar todas as obras indicadas por nosso corpo de jurados, um panorama completo do que mais chamou nossa atenção na música gringa este ano.

Em 2012 nosso time de jurados foi composto por Arthur Dantas, Dago Donato, Daniel Tamenpi, Eduardo Roberto, Eduardo Yukio Araújo, Jonas Pacheco, Katia Abreu, Pedro Pinhel, Raquel Setz, Stefanie Gaspar e Tiago Moraes, além dos editores da Soma Mateus Potumati e Amauri Stamboroski Jr. e o repórter Paulo Marcondes.


Confira a lista nacional aqui


20 . Daphni . Dialong

Merge

Deixando de lado um pouco sua personalidade autoral mais voltada para o lançamento de álbuns em formato clássico com o Caribou, o produtor Dan Snaith reuniu faixas já pensadas e novos edits para criar um projeto voltado unicamente para a pista - mas não a pista cheia de calor humano de artistas como Hot Chip, e sim o espaço mais experimental dominado por artistas como Clark, Com Truise e Squarepusher. A ode tecnológica de Snaith é intensa, anfetaminada, praticamente um cântico do lado mais sombrio das pistas, com elementos de techno, melancolia, jazz, house e várias estruturas propositalmente anti-climáticas.

Falando sobre o projeto, Snaith afirmou que o disco é uma demonstração empírica da imprevisibilidade dos instrumentos eletrônicos, que podem se transformar de acordo com o clima da pista, a atmosfera criada pelo público e o set tocado pelo artista. “Construí um sintetizador modular que desempenha um papel importantíssimo neste álbum, rosnando ou crocitando barulhos inesperados de maneira incontornável.” Esse clima de desorientação e livre improvisação é essencial em Jialong, que mostra um lado menos conhecido de Dan Snaith. Embora em certos momentos o álbum caia na armadilha de ser mais um experimento sônico do que um organismo próprio da pista, o músico consegue retomar sua veia dançante e transformar o Daphni em um dos projetos paralelos mais excitantes de 2012. [Stefanie Gaspar]




19. Ariel Pink . Mature Themes

4AD

 
Em entrevista à revista inglesa The Wire, Pink se definiu como “o último guardião de uma tradição de compositores norte-americanos”. Na missão de seguir com a linhagem, ele criou um método de composição tão obsessivo que consegue, paradoxalmente, se aparentar tanto do rei do lo-fi Billy Childish como de um produtor de rap. Sob o dogma auto-imposto de tentar reproduzir fielmente os sons simples e ancestrais que imagina – de Hall & Oats e Fleetwood Mac a Brian Eno e The Cure, passando por antigos comerciais e temas de programas de TV –, ele trabalha arranjos e timbres à exaustão. Como resultado, seu Haunted Graffiti consegue criar músicas que soam como clássicos antigos que você nunca ouviu. Mais do que isso: as canções do grupo soam como se estivessem sendo tocadas literalmente dentro da sua cabeça, em algum canto meio apagado da memória.

A capacidade de reproduzir um “fazer da obra”, como imaginado em estado de vigília – que Pink divide com outros colegas de geração como Daniel Lopatin, James Ferraro e Sun Araw – foi batizada pelo crítico inglês David Keenan de “pop hipnagógico”. De fato, a beleza de “Only In My Dreams” é quase anestésica, e “Kinski Assassin” parece um sonho estrelado por Captain Beefheart, Frank Zappa e monstros japoneses. Teorizações à parte, Mature Themes é seu projeto de composição mais bem acabado, um disco tão profundamente esmerado que é impossível não se perder em suas entranhas. [Mateus Potumati]
 



18. Grimes . Visions

Arbutus Records

O que acontece quando alguém que cresceu com toda a diversidade musical do mundo a um arquivo de torrent de distância resolve criar a música que nasce na sua cabeça mais que soterrada de referências? Acontece Visions, terceiro trabalho da jovem Claire Boucher aka Grimes. Um dos grandes hypes do ano, o álbum empilha sonoridades diferentes com mais desenvoltura do que o shuffle do seu MP3 player. Em canções como “Genesis’, “Oblivion” e “Infinite <3 Without Fullfilment”, as influências são tantas que é difícil nomeá-las exatamente, já que o clima é difuso e difícil de ser definido.

É possível ouvir ecos de artistas tão diferentes como Basic Channel, Nicolas Jaar, Panda Bear, Burial, Joanna Newsom, Julianna Barwick, Julia Holter, Cocteau Twins, Caribou e vários outros, além de referências do mundo nerd e da ficção científica. Fundamentalmente um disco de manipulação sonora (o álbum foi gravado inteiramente no Garage Band), Visions é completamente sintetizado, todas as vozes são modificas e distorcidas, nada é “natural”. E, ainda assim, o álbum é muito mais orgânico do que robótico, muito mais humano do que artificial. Um trunfo de uma artista tão jovem, que conseguiu fazer pop sem se perder no hermetismo natural à pesquisa extensa de sons. [Stefanie Gaspar]




17. Flying Lotus . Until The Quiet Comes

Warp Records

Um dia você acorda com a habilidade de percorrer a história da música como se fosse um gigante hotel, de corredores, elevadores, halls, camareiras e fantasmas nos banheiros. Por onde você começaria o rolê? Por quem você procuraria? Em quais portas você iria bater (ou arrombar)? Em Until the Quiet Comes, Steven Ellison tenta traçar um espécie de mapa para essa jornada, um guia que só se materializa se você puder estar em dois, dez ou um milhão de lugares diferentes ao mesmo tempo. FlyLo tenta dar um olé nas expectativas geradas após o maravilhoso Cosmogramma (2010) usando em Until... as mesmas ferramentas utilizadas no outro álbum, mas para outros fins. O ponto comum entre os dois é como eles refletem esse processo de condensar ao máximo as suas influências, a sua pesquisa musical. Do jazz moderno ao IDM, do R&B ao new wave, tudo para Ellison é catalogável e pode ser reprocessado. E, no Cosmogramma, o resultado apontava para um universo em expansão, desconhecido, às vezes hostil, outras cheio de luzes. Já agora a sensação é de estar sendo levado para dentro da própria memória musical e afetiva do FlyLo, um labirinto quântico onde uma porta pode levar simultaneamente a diversos caminhos. Quiet... é um trabalho que busca um ponto central, uma certa domesticação de sons que latem e mordem em outras vizinhanças. É difícil categorizar a sonoridade do disco dentro de um estilo, mas certos trabalhos não merecem mesmo essa cadeia cognitiva. O que o Flying Lotus sugere aqui é que a música é ela mesma um sonho, e que a cacofonia histórica que nos bombardeia online diariamente merece uma trilha sonora, um background conscientemente sutil, que quer operar no mundo dos sonhos, mesmo enquanto estamos acordados. [Eduardo Roberto]




16. Tame Impala . Lonerism

Modular Recordings

Talvez o grande mérito dos australianos do Tame Impala seja o de fornecer algo conhecido em formato decifrável. Não há surpresas quando se produz rock psicodélico, mas as variações de criação musical + drogas psicoativas já evoluíram para searas mais digitais. Por outro lado, o amontoado de clichês do gênero podem sempre jogar contra. A não ser que haja talento e alguma maluquice envolvida: Lonerism sucede o elogiado Innerspeaker, mas vai além na construção pop: alicerçado por doses de rock setentista (Todd Rundgren), o grupo não se acanha em acenar ao Flaming Lips dos anos noventa, aos Beatles e ao Cream.

Se canções como “Elephant” e “Why Won't They Talk To Me” estão situadas exatamente entre a lisergia e o pop imediato, o objetivo foi alcançado: uma banda atual produzindo canções que possuem força e frescor, ainda que sem escalar novos caminhos. O desejo dessa molecada de gravar com o duo de hip-hop Outkast só mostra que estão espiritualmente alinhados à ideia de música como forma de elevar a subconsciência. [Eduardo Yukio Araújo]




15. NAS . Life is Good

Def Jam

Com mais de 30 anos de história nas costas, o hip-hop nos EUA ainda é um jogo para jovens, como é comum em boa parte da história da tal “música pop”. Mas agora, pelos anos 10, a ideia de um “classic rap” começa a ganhar força. Não estamos falando de “velha escola”, sons que marcaram época e seguem sendo redescobertos pelos novos fãs, mas sim de uma nova produção ancorada em estilos já estabelecidos, para fora do universo cambiante das ondas de novos hits e sub-gêneros de produção.

Assim como Bob Dylan permitiu-se reinventar a partir dos próprios códigos que ajudou a criar em álbuns como Time Out of Mind, o Nas de Life is Good ergue uma insuspeita voz de sabedoria – sabedoria de rua, é verdade – acima das picuinhas cotidianas que giram o business do rap. O rapper nova-iorquino avisou que estava voltando no final de 2011, com o single “Nasty”, evocando o boom-bap num breakbeat acelerado, rimando sobre o início da carreira, quando não existia o conceito de “carreira no rap”, em Queensbridge.

Mas se engana quem acha que Nas faz do disco um elogio aos “velhos e bons tempos” – o clima está mais para a fábula borralheira de “Juicy” (Notorious B.I.G.) e a celebração das coisas boas da vida com a mesma opulência que fez a carreira de Jay-Z, tudo embalado numa produção elegante tingida por elementos de soul e até dancehall. Mas o que se destaca é o flow fácil e a habilidade lírica elástica do rapper, que pode falar com a mesma desenvoltura da sua coleção de carros ou da dureza de se criar uma filha e levar a vida de gangsta na cândida “Daughter” – no final, Nas faz parecer doce ver a vida envelhecer. [Amauri Stamboroski Jr.]






14. El-P . Cancer 4 Cure (EP)

Warp Records

Nas antigas, quando o mercado do hip hop estadunidense ainda conseguia se dividir entre os pica grossa de contas gordas e os independentes de mochila nas costas, El-P reinava supremo na parte de baixo da cadeia alimentar – no quesito grana, não no quesito criatividade – do rolê. O ex-Company Flow comandava o selo Def Jux, responsável por nomes cruciais à cena como Aesop Rock, Mr. Lif, RJD2 e Camu Tao, e além de produzir um dos discos de rap mais influentes dos anos 00 – Cold Vein, do Cannibal Ox – também lançou um punhado de discos solo.

2012 marcou uma espécie de ressurreição para El-P. Contando com um bom contingente de fãs entre os novos nomes do rap, de Tyler the Creator a Mr. Muthafuckin eXquire (que usou beats antigos do produtor em sua mixtape de estreia), Jaime Meline cuidou do novo disco de Killer Mike e lançou seu novo álbum para um público renovado e melhor acostumado às suas narrativas claustrofóbicas e misantrópicas.

Enxugando alguns vícios de produção que poderiam fazer seu som soar datado, sem abrir mão dos timbres ásperos que fizeram a sua fama e que se infiltraram na eletrônica mais sombria da década passada (não é que “The Jig is Up” pareça dubstep, ao contrário, é o dubstep que lembra El-P), o nova-iorquino rima com toda a paranoia de um EUA com medo dos radicais de fora e dentro, que apostou em uma esperança que só espera. Se em 2000 as bombas do Outkast caíam sobre Bagdá, no 2012 de El-P são os drones que pairam sobre o Brooklyn – e dali não há fuga. [Amauri Stamboroski Jr.]





13. TNHGT . TNGHT EP

Warp Records

A reunião do DJ e produtor de canadense Lunice e do produtor escocês Hudson Mohawke resultou em um dos projetos mais curiosos do ano: o TNGHT, que levou a concepção do “trap” a extremos onde a bateria TR 808 da Roland não tinha ainda se aventurado. O som altíssimo, ameaçador e sintetizado do TNGHT reúne as influências mais óbvias da hardcore rave e do dubstep de Mohawke e do hip-hop torto e das batidas entrecortadas de Lunice. Baixos estridentes, bateria eletrônica, climas permeados por elementos do trance e a violência de beats acelerados e aterrorizantes de faixas como “Top Floor”, “Goooo” e “Higher Ground” marcam o debut do duo, para quem o exagero é uma estética natural e o objetivo principal é demarcar território em uma cena já maximalista ao extremo.

Aqui, entretanto, o termo maximal parece pouco preciso, já que a sonoridade procurada pelo TNGHT é o do niilismo, do assassinato sônico, do corte brusco em busca de um clímax tão bombástico que seja capaz de anular qualquer elemento externo. De fato, a abordagem do EP não é maximal. Aqui, o objetivo é criar tudo a partir de quase nada - dessa forma, a simplicidade das batidas e a precisão das viradas mostra um calculismo inteligente para criar estruturas musicais. A força do TNGHT é bruta, mas nunca burra - e essa esperteza de criar obras bombásticas a partir de premissas simples é o grande trunfo do primeiro EP do duo. [Stefanie Gaspar]

Ouça aqui TNGHT EP


12. Sun Araw & M Geddes Gengras meet The Congos . Icon Give Thank

Rvng Intl

Mesmo que programado e anunciado, o encontro de Sun Araw e seu truta M Geddes Gengras com o grupo vocal jamaicano The Congos parece pura obra do acaso, algo tão inusitado e com um resultado tão arrebatador que soa como obra divina. De início, os próprios Congos não entenderam muito bem qual era a do som da dupla – “eu lembro de Ashanti Roy dizendo, ‘cara, esse é um tipo diferente de som’, de uma maneira bem ambígua”, recorda Cameron Stallones, aka Sun Araw, em uma entrevista à revista The Wire. Esse início conturbado é perceptível em “New Binghi”, faixa que abre o disco – há um senso forte de desconexão entre o instrumental e os vocais.

Porém, por mais que Stallones e Gengras não quisessem soar condescendentes, apresentando aos Congos uma música que, à primeira orelhada, guarda quase nenhuma relação com o roots reggae dos jamaicanos, é o quarteto vocal que acaba descobrindo como a parceria pode operar. “Esses sons são como cânticos”, percebem. E então a mágica acontece, já em “Happy Song”, onde os jamaicanos divisam a estrutura básica do som e adicionam um grau de beleza inesperado ao som de jam de eletrônica lo-fi da geração hipnagógica americana. E à medida que a parceria avança, vemos que a dupla estadunidense também começa a convergir para um centro e se adaptar às necessidades dos Congos. [Amauri Stamboroski Jr.]




11. Julia Holter . Ekstasis

Rvng Intl / Rough Trade

A essência do trabalho da estadunidense Julia Holter pode ser resumida nos cinco minutos e meio do single “Marienbad”: utilizando artifícios eletrônicos, Holter monta uma canção que pode ser um compêndio de pequenos barulhos, arranjos sessentistas ao modo de Brian Wilson e um vocal que se insere como um instrumento importante. O álbum, segundo da carreira da compositora, ainda traz muitos momentos surpreendentes: de orientalismos (“Four Gardens”) a aproximações com o pop oitentista (“Boy In The Moon”), Holter demonstra grande segurança e naturalidade. Apesar da aparente confusão de influências diversas (e também da própria trajetória de Holter, pianista clássica de formação), Ekstasis passa longe da desarmonia ou do hermetismo. Na verdade, é um disco valioso ao trazer, dentro de cada canção, um pequeno universo a ser explorado, como um reflexo da geração atual de artistas que permeiam sua produção com um arsenal de influências díspares. [Eduardo Yukio Araújo]





10. Hot Chip . In Our Heads

Domino

In Our Heads tem uma estrutura sônica que pode ser comparada a três sensações experimentadas pelos amantes da pista: a excitação de ouvir uma música incrível pela primeira vez, a sensação de se conectar a um coletivo que dança e sente a música em conjunto e o prazer único de se apaixonar durante uma celebração musical.

O Hot Chip encontrou em In Our Heads uma nova fórmula, que descontruiu seu som e manteve o que ele tem de melhor: a capacidade de criar hits pop perfeitos para a pista, ao mesmo tempo em que traz à tona melodias grooveadas, temas de amor universal e misturas entre ritmos tão distintos como techno, minimal, R&B, pop e UK garage.

Das lindas bases sintéticas de “How Do You Do”, que incorpora a uma melodia pop elementos de house e electro, à melodia exultante de “Motion Sickness”, e o ritmo quebrado e ameaçador do hit “Night and Day”, o Hot Chip conseguiu criar um álbum em que cada música é um single instantâneo, e cada virada de ritmo parece ser perfeita para um remix ou um edit. Embora seja comum elogiar um álbum por sua “harmonia”, a beleza de In Our Heads é exatamente a da diversidade e da alteridade: criar canções sobre relacionamentos duradouros, casamentos e amor até a morte embaladas por melodias feitas para dançar bêbado até o fim do mundo. [Stefanie Gaspar]




9. Animal Collective . Centipede Hz

Domino

Depois da aproximação com o pop de Merriweather Post Pavillion, disco anterior de 2009, o Animal Collective poderia refletir sobre seu legado como importante banda dos anos 2000 e como sua abordagem a respeito da música atual poderia envolver o elemento da constância experimentalista. A nova década já traz companhia ao quarteto em certas questões, como um maior número de bandas/artistas que, ao menos na raiz, buscam condensar influências distantes no tempo e no estilo.

Centipede Hz é um bombástico passeio pelo pop, um desenfreado carrinho de montanha russa trazendo pequenos trechos borrados de cenários, e às vezes um desenho completo, apenas para voltar a acelerar novamente. É muito mais uma questão de percepção do que propriamente de tempo das canções: em alguns momentos, parece muita coisa para digerir, mas aos poucos é possível apreciar o fato de quatro caras produzirem música que passeia por batidas eletrônicas, percussão, arranjos ilógicos, Clube da Esquina , Paêbirú e muito mais em seu nono disco de carreira. [Eduaro Yukio Araújo]




8. Death Grips . The Money Store

Epic Records
 
O Death Grips foi o sorriso da Mona Lisa em 2012. Quem entrou em contato com o som da banda invariavelmente teve que se posicionar, se esforçar o mínimo para entender o que é esse som, se gosta ou não. A mixtape de 2011 do trio, Ex Mlitary, espocou pela interwebz antenada musical como um toque de recolher na favela, que não se sabe se vem da policia ou do tráfico. Nos fones de ouvido, era como se o hip-hop tivesse trombado o zeitgeist filosófico que gerou o black metal norueguês do começo dos anos 90, embalado por kuduro, miami bass, post-punk, no wave e os gritos tribais de Stefan Burnett, o MC Ride. O clima de guerra digital impera em The Money Store, e o poder militar é exercido pelo excesso de informação, as camadas de samples, white noise, beats ultra-distorcidos fluindo contra você e contra a própria banda. O Death Grips é como se um grupo de frequentadores do 4chan agilizassem uma manifestação musical, uma trolagem que opera com o caos opressivo internético, a dissolução da individualidade em prol de uma turba digital enfurecida em rede. Money Store é o stress urbano que é compartilhado pelas redes sociais, o niilismo do John Lydon que virou meme no Facebook e voltou para nos assombrar manifesto em um NWA com Satã nos vocais. E, se a previsão é de apocalipse do indivíduo, a saída só pode estar nos instintos básicos da raiva e dança ritualística. Para o Death Grips, "dance como se não houvesse amanhã" virou "dance por que realmente não há amanhã”. [Eduardo Roberto]

Ouça aqui The Money Store
 

7. Scott Walker . Bish Bosch

4AD
 
Para certas pessoas, envelhecer pode ser uma espécie de libertação – que o diga Silvio Santos e sua recente persona de vovô tarado. Scott Walker, que começou a carreira como galãzito de voz profunda na Invasão Britânica ao contrário dos Walker Brothers, passando por uma fase entre o crooner e o auteur de coutry sombrio, se estabelecendo, a partir de Tilt (1994), como queridinho dos cabeçudos - espécie de Robert Wyatt com Frank Sinatra. Bish Bosch, seu primeiro álbum em seis anos, é uma obra hermética, penetrada por silêncios hirtos, explosões de riffs metálicos, instrumentos orgânicos processados em busca de tons e texturas dissonantes, todos funcionando como suporte do barítono aveludado e imperioso.

O espaçamento ocasionado pelos buracos negros de silêncio levam a obra para fora da atmosfera. É como uma verdadeira ópera espacial, num terror extra-humano, solitário, gelado. Mas a base é demasiado humana. Com ataques precisos de metais e bateria entre o jazzy e o tribal, “Epizootics!” é inspirada nos beatniks e seu vocabulário cheio de bossa, enquanto “Corps de Blah” funde sons de flatulência com 80 peças de cordas. "SDSS1416+13B (Zercon, A Flagpole Sitter)", um paralelo entre uma estrela anã marrom e um bobo-da-corte anão moreno da corte de Átila, é a peça central do disco, seus 21 minutos narrando a vida e a morte das piadas sem graça do pobre coitado. Entre o horror do vazio e o horror da vida, Walker escolhe, com a difusa sobriedade do ancião, a única resposta válida para ele: o riso, gasto, sarcástico, histérico, silencioso. [Amauri Stamboroski Jr.]





6. John Talabot . fIN

Permanent Vacation

A primeira faixa de fIN, “Depak Ine”, apresenta o universo do produtor catalão John Talabot por meio de elementos perturbadores, com sintetizadores e samples atmosféricos envoltos em outros “barulhos”, como um coro de sapos e o clamor de vozes tribais. A introdução xamânica diz muito a respeito do trabalho de Talabot, que trabalha em uma interseção potencialmente criativa entre gêneros como techno, house, balearic, disco, drone e prog. O resultado é um álbum de groove redondo, fantasmagórico sem se utilizar dos clichês que envolvem o termo e que não se assemelha a nada lançado nos últimos anos.

Quem gosta de música eletrônica sabe que repetição é um termo chave. Em fIN, esse pressuposto é essencial. É por meio da repetição tenaz e densa de grooves, sintetizadores e vocais distorcidos, baixos BPMs, cânticos espirituais, sons da natureza e influências do funk que as melodias de Talabot se transformam em transes que começam simples, mas terminam exultantes e repletos de diferentes significados. Ouvir a série de canções criadas pelo produtor é entrar em um ritual de pertencimento, de fusão com o todo. Nenhum lançamento desde Swin, do Caribou, levou a música eletrônica a um transe tão satisfatório. [Stefanie Gaspar]





5. Swans . The Seer

Young God

The Seer possui a duração média de um filme: quase duas horas, se executado por inteiro. O segundo disco pós-reforma do Swans (o grupo se manteve atuante até 1997, e retornou em 2010) é um monstruoso ataque de ferramentas como blues apocalíptico, barulhos diversos, country e repetição hipnótica. O que Michael Gira comanda desde a no wave oitentista não é apenas uma banda coletando afazeres para se manter na ativa, mas uma força artística demolidora que é capaz de condensar - ainda que não de forma comedida - três décadas de turnês e gravações.

A faixa título atinge mais de trinta minutos, e “A Piece Of The Sky” e “The Apostate” juntas ultrapassam quarenta minutos de música não-improvisada, enquanto a balada country “Song For a Warrior”, com vocais de Karen O, demonstra beleza em meio ao caos. Mais importante, The Seer não é um resumo da história do Swans, mas, ao contrário, é um evento primordial: sem ser uma reinvenção, o álbum reflete as feridas deixadas pelo tempo, como um velho animal ainda capaz de agir ferozmente. [Eduardo Yukio Araújo]
 



4. Dirty Projectors . Swing Lo Magellan
Domino

Swing Lo Magellan e Channel Orange, do Frank Ocean, foram lançados no mesmo dia, e a coincidência é útil para explorar algumas semelhanças entre os dois discos. Como Ocean, o Dirty Projectors vem de uma discografia de rompimento com um espaço compositivo (no caso de Ocean, a tradição do rap e da black music; no dos Projectors, a do punk e do indie rock). Emprestando uma analogia da história da arte, The Getty Address (2005) é o disco impressionista do grupo, que incorpora borrões e novos cenários a uma estrutura ainda ligada àquela tradição; Rise Above (2007), como as várias guitarras cubistas de Picasso, rompe radicalmente os contornos de uma figura icônica (no caso do DP, o disco clássico do Black Flag), até que ela se torna praticamente irreconhecível; Bitte Orca (2009) propõe novas estruturas cancionais, o que remete à primeira fase da arte contemporânea; e Swing Lo Magellan é a tentativa de criar com mais conforto dentro desse novo espaço, sem se preocupar tanto em discutir formatos – como a fase recente da arte contemporânea, e também como Frank Ocean fez em Channel Orange.

Nesse caminho, Dave Longstreth corre os riscos que qualquer artista associado à ideia de vanguarda enfrenta nessa posição: o de se repetir, de repetir outros e especialmente o de não atingir bons resultados. Mas esse tipo de preocupação se torna secundário quando nos deparamos com uma canção tão bela como “Impregnable Question”, que se coloca no nível de clássicos como “Jealous Guy” ou “Heart of Gold”. “Offspring Are Blank” é uma joia do lado mais conhecido do grupo, o domínio pleno e autoral dos instrumentos e de escolas distintas do rock. Pouquíssimas bandas atuais conseguem, partindo dessa escola, furar o bloqueio quase impenetrável construído por modismos e comodismos sociais, e nos fazer realmente ouvir música. Após lançar dois discos memoráveis em sequência, confirmados por sólidas apresentações ao vivo, o Dirty Projectors prova não apenas ser uma banda consistente, mas um nome fundamental da música dos nossos dias. [Mateus Potumati]

Ouça aqui Swing Lo Magellan


3. Godspeed You! Black Emperor . Allelujah! Don't Bend! Ascend!

Constellation

Lá pelo meio da década passada, o Godspeed You! Black Emperor parecia ter esvanecido da arena pública da América do Norte – algo não tão diferente do que ocorreu com a cena político-cultural de esquerda mais radical da qual o noneto canadense se origina. Nos EUA pós-11 de setembro, Patriot Act e Guerra do Iraque, um outro mundo voltava a parecer impossível, num retrocesso da escalada de embates que marcaram os dois primeiros anos da administração Bush.

O que faz com que pareça curioso que o GY!BE tenha retornado em plena crise do capitalismo do Primeiro Mundo. É claro que o movimento não precisa ser necessariamente uma declaração política – na verdade pode resultar diretamente do desespero criado pela falta de grana e perspectivas numa sociedade de economia combalida. Ainda assim, há algo de estranho retorno de esperança, especialmente para um grupo que se acostumou a ser associado a adjetivos como “mórbido” e “depressivo”.

Allelujah! Don’t Bend! Ascend!, com seu título redentor, é mais que um retorno à forma: é o melhor disco do grupo. Além do exercício do domínio da narrativa instrumental – que rendia ao grupo outro adjetivo, “cinemático” – de “We Drift Like Worried Fire”, há também “Mladic”, flerte orgânico com os timbres do Oriente Médio, e a grande surpresa: os drones “Their Helicopter’s Sing” e “Strung Like Lights...”, que oscilam entre as duas pontas do fim da história, o apocalipse e a beatitude. Para 2013 fica apenas um desejo: que o novo GY!BE inspire mais revoluções e menos imitadores. [Amauri Stamboroski Jr.]




2. Kendrick Lamar . good kid, m.A.A.d City
Aftermath / Interscope

Quando Straight Outta Compton saiu, em 1988, Kendrick Lamar mal tinha completado um ano de vida. Naquela época, o N.W.A. começava a enterrar a tradição do rap consciente para inaugurar um período de distopia urbana, em que beats ora agressivos, ora malandros, embalavam letras recheadas de armas, sexo, provocação racial e outros temas que deixavam pais suburbanos de cabelo em pé nos EUA. De lá para cá, palavras como “nigga” e “biatch” se tornaram lugar comum, usadas mais como piada do que como ofensa, mas a cidade onde Kendrick Lamar cresceu seguiu louca, muito louca.

Ser um bom menino em uma cidade insana, para Lamar, não significa se tornar um santo: significa, sim, crescer mergulhado na sujeira, se misturar e se enamorar a ponto de poder zombar dela, e contar uma história real sobre sua jornada. good kid, m.A.A.d city é esse disco, que reúne linhas tão hilariamente sacanas como “Bitch don’t kill my vibe” e “I pray my dick get big as the Eiffel Tower/ So I can fuck the world for 72 hours” a conselhos tocantes do pai e da mãe do rapper. Também é um disco que reúne o conjunto de flows e de rimas mais simultaneamente radiofônicos e vanguardistas dos últimos anos, apoiados por um time de beatmakers convocados por Dr. Dre himself, que inclui Pharrell Williams, Just Blaze (cuja faixa, ironicamente, é a mais fraca do disco), DJ Khalil e Rahki. Tudo soa harmônico, porque a realidade que sai dos versos de Kendrick Lamar é escancarada, não mediada e não romantizada. Não é à toa que Dre o elegeu seu herdeiro. [Mateus Potumati]




1. Frank Ocean . Channel Orange
Island Def Jam

Como parte do Odd Future, Frank Ocean integra uma geração de músicos populares deste começo de século que, em maior ou menor medida, desafiaram formatos e fronteiras entre gêneros, na tentativa de formular novos espaços de composição. As marcas desses trabalhos eram o confronto (como em The Odd Future Tape, de 2008), a desconstrução (Rise Above, dos Dirty Projectors, de 2007) e o saturamento de referências (Cosmogramma, do Flying Lotus, de 2010). Em 2012, alguns desses artistas arriscaram um passo adiante, em direção a discos menos interessados em destruir do que em construir, dentro dos novos territórios conquistados. Channel Orange foi o mais bem sucedido deles, ao trazer a sensibilidade do R&B clássico para o contexto deste começo de década, em que a acidez do Odd Future se encontra com um novo minimalismo eletrônico.

Aproveitando sua voz privilegiada – em especial os falsetes –, Ocean criou uma atmosfera intimista, recheada de mensagens e sons familiares a qualquer jovem de 20 e poucos anos, de tiradas típicas do rap a barulhos de videogames e programas de TV. Nesse ambiente, ele consegue tanto agulhar a alienação e a futilidade da geração sucrilhos no prato (“Super Rich Kids” e “Sweet Life”) como ser incomodamente confessional (“Bad Religion”, já um hino do amor proibido contemporâneo, seja qual for sua orientação sexual). Sua capacidade de despir as faixas de excessos, em uma época de excessos, só é rivalizada por seu talento lírico, que produz versos como “Tid bits of intuition that I been gettin’ abandon admission (Sierra Leone)/Abandon mission, you must be kiddin’, this shit feelin’ different”. Assim, Ocean conseguiu criar um álbum que dialoga com cantores de épocas distintas, do onipresente Stevie Wonder a D’Angelo, sem soar como outra vítima da retromania, mas se apresentando como um emissor de ondas agudamente atuais. [Mateus Potumati]







Além do top 20: outros discos citados na eleição da Soma

21. Sharon Van Etten . Tramp
Sigur Rós . Valtari
23. BADBADNOTGOOD . BBNG2
24. Neneh Cherry + The Thing . The Cherry Thing
25. Fiona Apple . The Idler Wheel Is Wiser Than the Driver of the Screw and Whipping Cords Will Serve You More Than Ropes Will Ever Do
Japandroids . Celebration Rock
27. Mala . Mala in Cuba
28. Captain Murphy . Duality
JJ DOOM . Key to the Kuffs
Off! . Off!
31. This Ain't Chicago . The Underground Sound of UK House & Acid
32. Liars . WIXIW
X-TG . Desertshore/ The Final Report
34. Killer Mike . R.A.P. Music
35. Neurosis . Honor Found in Decay
36. Beach House . Bloom
Leonard Cohen . Old Ideas
Spiritualized . Sweet Heart Sweet Light
The Evens . The Odds
40. David Byrne & St. Vincent . Love This Giant
Dean Blunt & Inga Copeland . Black is Beautiful
Goat . World Music
Grizzly Bear . Shields
JK Flesh . Posthuman
Squarepusher . Ufabulum
Tim Hecker and Daniel Lopatin . Instrumental Tourist
47. Lambchop . Mr. M
48. Laurel Halo . Quarantine
49. ...And You Will Know Us by the Trail of Dead . Lost Songs
Bill Fay . Life Is People
Black Pus . Pus Mortem
Bob Dylan . Tempest
Cannibales & Vahinés . N.O.W.H.E.R.E.
Dan Deacon . America
Dinosaur Jr. . I Bet on Sky
Earth . Angels of Darkness, Demons of Light II
Getatchew Mekuria + The Ex . Y’Anbessaw Tezeta
Karriem Riggins . Alone/Together
Kid Koala . 12 Bit Blues
KTL . V
Lee Fields & The Expressions . Faithful Man
Maria Minerva . Will Happiness Find Me?
Melvins Lite . Freak Puke
Menahan Street Band . The Crossing
Michael Kiwanuka . Home Again
Oddisee . People Hear What They Say
Quantic & Alice Russel . Look Around the Corner
Richard Bishop . Intermezzo
Rocket Juice and The Moon . S\T
Shlohmo . Vacation
The Gift . Primavera
Vanilla . Soft Focus
Yoko Ono, Kim Gordon, Thurston Moore . Yokokimthurston
Yung Life . Yung Life
75. Here We Go Magic . A Different Ship
How To Dress Well . Total Loss
Kindness . World, You Need a Change of Mind
Sleigh Bells . Reign Of Terror
Ty Segall . Twins
Witchcraft . Legend
81. Four Tet . Pink
Lindstrøm . Six Cups of Rebel
Josephine Foster . Blood Rushing
84. Burial . Kindred EP
Chairlift . Something
Matthew Dear . Beams
Napalm Death . Utilitarian
Scuba . Personality
XXYYXX . XXYYXX
90. Dan Deacon . America
The Bad Plus Made Possible . Icon Give Thank
92. 9th Wonder & Buckshot . The Solution
Actress . R.I.P
Baader Brains . New Era Hope Colony
Bobby Womack . The Bravest Man in the Universe
Borko . Born To Be Free
Cat Power . Sun
Clark . Iradelphic
Cloud Nothing . Attack on Memory
Com Truise . In Decay
Death Grips . No Love Deep Web
Emeralds . Just to Feel Anything
Eyvind Kang . Visible Breath
Gonjasufi . MU.ZZ.LE
Jessie Ware . Devotion
John Zorn . Rimbaud
Julie Doiron . So Many Days
Pelt . Effigy
Rob Mazurek Quartet . Stellar Pulsations
Terror Danjah . Dark Crawler
The Sea and Cake . Runner
Traxman . Da Mind of Da Traxman
Carter Tuddi Void . Transverse

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