Pjota e a decadência material da arte

Prestes a participar da Bienal de Lyon, na França, artista de Rio Preto descobre novas formas de trazer o tempo para dentro da sua obra

POR LUCA CALTRAN
publicado em 17.04.2013 17:38  | última atualização 18.04.2013 16:49

Pjota POR Fernando Martins Ferreira

Em meio ao som das buzinas e freadas do trânsito do Centro de São Paulo, em seu ateliê no edifício Copan, o jovem Paulo Nimer – ou simplesmente Pjota – explana à Soma seu plano de trabalho para a Bienal de Lyon, na França. Aos 24 anos, o artista plástico paulista tem uma carreira de dar inveja a muitos nomes “experientes”, com exposições na Califórnia, Londres, em instituições como Paço das Artes, SESC e projetos como Vídeo Brasil e o atual Pivô, um centro cultural que tem entre outros, um projeto de ateliê coletivo. Vindo de São José do Rio Preto, o artista parece ser imune ao caos que está do outro lado da janela. Apenas parece.


Ateliê do artista                                                                                         Foto: Acervo pessoal

Muito crítico, Pjota parece buscar uma constante evolução e pesquisa, explorando sempre novas maneiras de representar seu trabalho. Tendo a cidade como referência, ele recria a confusão da paisagem urbana: camadas de tinta, caligrafias, texturas. "Costumo andar muito a pé desde moleque, e isso me fez entender a pintura por outro viés, junto à história da arte, podendo caminhar por ambas questões. Comecei a me interessar por esse movimento que a cidade tinha e como isso dialogava com a pintura e com o desenho. Essas escritas de banheiro público, de ponto de ônibus, marcas do tempo, uma pintura que começa a se desgastar e aparecer o que tem por baixo me interessam até hoje”.

Se as simbologias, referências da história da arte e elementos do cotidiano são refletidos cuidadosamente antes de irem para a tela, Pjota também tem noção de que a obra se modifica completamente quando deixa o seu ateliê. Para o público, esses elementos ganham diversos significados. Cada pessoa, com suas referências, dá sentidos totalmente opostos a eles: “É interessante que cada pessoa tem uma referência dessa simbologia. Um cara que estuda pintura, história da arte, ele olha uma imagem e já vai saber da onde eu busquei essa referência. De repente um cara que é de uma outra área já interpreta de uma outra maneira, busca referência pessoais para interpretar”.


Sintese entre Ideias Contraditórias e a Pluralidade do Objeto como Imagem (2012)
Acrílica, esmalte sintético, lápis e caneta sobre tela e ferro 260 x 495 cm

As escritas urbanas e iconografias da arte são muito presentes em seu trabalho, mas em meio a tantos elementos, a cor que mais aparece é o branco. E o motivo é simples: "Comecei a usar o branco por acaso. Eu via que é o lugar que mais adere sujeira. Tem a questão estética, por ser um espaço simples para a inserção de outros elementos. O branco tem um pouco de silêncio." De fato, entre escritas, símbolos e ruídos, o branco é o único lugar para apreciar o silêncio.

Esses espaços em branco e os próprios elementos retirados do espaço urbano trazem uma proximidade com o espectador e o convidam a intervir em suas pinturas. "Tem coisas que acontecem por acaso. Em uma exposição que eu fiz, uma escola foi visitar e um moleque escreveu o nome dele na obra. Isso para mim não é um problema, isso é uma continuidade, até pela referência que eu tenho".  Na própria Bienal de Lyon, para a qual Pjota foi convidado pelo curador Gunnar Kvaran (também diretor do Astrup Museum, em Oslo), o artista prepara um trabalho que será instalado na fachada do museu e possibilitará a intervenção de pessoas sobre a instalação.


Diálogo entre Arranjos, Constelações e Tempo 1 (2013)
Acrílica, esmalte sintético, lápis e caneta sobre tela e ferro 246 x 400 cm

Dando continuidade à sua pesquisa, em uma das visitas feitas aos seus pai no interior, ele descobriu uma possibilidade de desenvolver mais suas pinturas. “Comecei a explora o metal e, numa visita aos meus pais no interior, fui à uma fábrica de baú de caminhões. Peguei umas chapas para teste e vi que dava certo aplicar a tinta. Pesquisei esse material e comecei a usá-lo para sair da mera referência e usar a referência como suporte. O que antes eu representava, agora eu uso de fato. Eu pego uma chapa de metal que já tem uma história.  Na verdade o trabalho já existe antes mesmo de pensar no trabalho. Quando eu uso essa chapa, ela já vem com essas marcas do tempo.  Eu trabalho com o passado, presente e futuro, porque as chapas vão oxidando, sumindo, mudando de cor. O tempo me interessa muito. Eu faço trabalhos grandes, fico o dia inteiro com eles durante 3 meses. Comecei a pensar na relação do trabalho como um diário”.

E como um diário, seus trabalhos são também anotações dos processos de criação. Pjota não é adepto a cadernos ou fazer esquemas antes de começar a pintar. A própria tela é suporte para estudo, indícios também de que a obra nunca está finalizada, há sempre a possibilidade de mudança. O que mais chama atenção em Pjota é a maturidade de seu trabalho e a consciência que ele tem disso. Por isso abre sempre possibilidades para continuidade de uma mesma obra. "Não vejo problemas em fazer esse trabalho hoje e daqui a 10 anos fazer algo em cima. O trabalho é sempre uma continuidade, assim como a vida e o pensamento."

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 Pjota, bienal de lyon

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