Um papo de bola com Stephen Malkmus

Ao invés de falar sobre o fim do Pavement, a Soma aproveita a passagem do cantor pelo Brasil para trocar uma ideia sobre uma paixão em comum: futebol

POR AMAURI STAMBOROSKI JR.
publicado em 08.05.2013 15:25  | última atualização 08.05.2013 17:00

Stephen Malkmus POR Divulgação

O tigre roubando uma bola de futebol durante uma partida no parque no fim do clipe de “Tigers”, faixa do álbum Mirror Traffic, lançada em 2011 por Stephen Malkmus & The Jicks, é uma boa dica: além da sua predileção por esportes típicos dos EUA – beisebol, futebol americano, basquete – o ex-Pavement também é um aficionado pelo antigo esporte bretão.



“Olha, tenho que admitir que não é o meu esporte favorito, eu gosto mais de estatísticas”, avisa antes da entrevista. Mas, no meio da última turnê brasileira com os Jicks, que passou por seis cidades, o interesse parece ter se renovado, pelo menos no papo com os locais. Stephen começou a bater uma bola aos cinco anos de idade, incentivado pelos pais, e seguiu acompanhando os campeonatos internacionais e as Copas do Mundo desde então.

Com simpatias pelas seleções da Alemanha – onde mora há dois anos com sua esposa e duas filhas – e da Argentina, Malkmus conversou com a Soma, sentado na calçada em frente ao hotel, sobre a “revolução do futebol” nos anos 70 nos EUA, o conformismo dos torcedores alemães e faz a sua previsão para a Copa do Mundo de 2014.


Quando você começou a jogar futebol?

Nos EUA houve uma “revolução do futebol” nos anos 70, quando os pais descobriram que era só levar os filhos para um campo e tudo o que você precisava era uma bola – e ninguém se machucava, em comparação com esportes como o futebol americano (risos). Você pode ter 22 crianças correndo atrás de uma bola e só precisava de dois técnicos, enquanto no futebol americano você precisa de um para cada posição. E também a popularidade estava em alta, com o Pelé jogando no Cosmos. Foi uma época em que as mentes se abriram, em que tivemos um campeonato nacional. Eu comecei a jogar com cinco, seis anos de idade, e joguei até o ensino médio. Meus melhores momentos no futebol foram quando eu era bem novo .

Em que posição você gostava de jogar?

Eu curtia ser atacante, é claro. Você precisa correr menos – tem que ser rápido, mas não precisa correr tanto durante o jogo. Eu era oportunista nas jogadas, não era tão rápido, mas era habilidoso. Quando você fica mais velho, a velocidade vai ficando mais importante. Depois eu acabei jogando como meia. Era algo sazonal na minha vida, no final das contas. Eu também joguei basquete, tênis. Era divertido.

Você voltou a jogar futebol mais tarde?

Cheguei a jogar com amigos, como amador mesmo, não num campeonato. Alguns amigos participam de campeonatos locais, para jogadores mais velhos, patrocinados pela pizzaria do bairro (risos).

Você acompanha os campeonatos nacionais de futebol?

Sim, meu interesse vem e vai. Na Alemanha eu não consigo acompanhar a Bundesliga, normalmente a narração é em alemão e eu não tenho tempo livre aos sábados, por causa da minha família, para assistir às partidas. Na Europa hoje existem mais jogos durante a semana, mas normalmente tudo está concentrado no sábado – todos os jogos rolando ao mesmo tempo no período de quatro horas. E não existem muitos torneios internacionais além da Champions League para se acompanhar. Nos EUA, com beisebol e basquete você pode assistir cinco partidas por semana. É só ligar a TV e vai ter algum time jogando.

Você acompanha algum time em especial, no futebol ou em outros esportes?

Não mais. Os esportes estão cada vez ligados aos indivíduos, os jogadores trocam de time todo ano. É difícil para mim, eu cresci nos anos 70, quando cada jogador tinha seu time, os times tinham uma identidade. Hoje cada time tem um ou dois jogadores muito bons e vários medianos, sem muita distinção. Hoje eu gosto mais de acompanhar as estatísticas, sempre gostei. Em cada torneio eu escolho algum time para acompanhar – mas é claro que eu tenho times que não gosto, especialmente esses que são cheios de grana.

Futebol não é um esporte tão legal para quem gosta de estatística...

Eu tenho certeza que estão tentando analisar melhor o esporte hoje em dia, tentando gerar mais estatísticas, mas ainda é difícil imaginar um torneio de fantasia de futebol. Eu sei que existem torneios de futebol de fantasia, tenho amigos na Inglaterra que jogam, mas é algo diferente, baseado no salário dos jogadores.



Stephen Malkmus na época que jogava lacrosse (foto de uma matéria publicada pela Matador Records)

Existem seleções de futebol com as quais você simpatiza?

Sim, eu gosto da Argentina. E agora ando curtindo a Alemanha. Eu não gosto deles tradicionalmente, mas o futebol deles está diferente agora. Gosto de jogadores como o Özil, e acho muito legal o fato de ele ser turco-germânico. Isso não deveria importar, mas é ótimo. Eu também tenho muitos amigos suecos, por isso gosto da Suécia. Sempre acabo simpatizando com os times dos meus amigos. Ainda assim, eu não gosto da Inglaterra, não gosto da França – por algum motivo que não sei. Acho a Espanha uma ótima seleção e eu acho que a Itália é meio chata, meio conservadora. Mas eu entendo, você tem que ganhar, e tenta ganhar do jeito que puder – vence quem tiver mais gols, não importa como você fez eles. Eu gosto do Brasil, mas é uma seleção que dominou o futebol por tantos anos...

Não é uma seleção tão fácil de gostar, são o contrário dos azarões...

Como eu não tenho acompanhado muito, eles não parecem ter tantos jogadores famosos – eu pelo menos não conheço a maioria, mas eles podem ser grandes jogadores para vocês. Conheço um ou outro, mas não todo mundo. Isso pode ser bacana, eu gosto de times jovens, com jogadas rápidas, e quando isso acontece eu fico feliz.

Você chegou a acompanhar alguma Copa do Mundo?

Acompanhei todas, assisto a todos os jogos que posso. Neste ano eu consegui ver o jogo das eliminatórias entre a Alemanha e a Suécia. A Alemanha fez quatro gols e a Suécia conseguiu empatar, foi um ótimo jogo. E era no começo das eliminatórias, não prejudicou tanto os alemães. Eu consigo assistir Albânia contra Noruega e ainda me divertir (risos). Tem um site chamado firstrow1.eu em que você pode assistir jogos ao vivo, qualquer coisa, até jogos brasileiros, se eu quisesse.

Teve algum momento que você guarda na memória de alguma Copa do Mundo?

Não lembro muito delas. Acho que a Copa que eu melhor me lembro, da nossa geração, foi aquela final entre a Itália e a França em 2006, quando o Zidane deu a cabeçada no Materazzi e foi expulso. Isso foi bastante memorável. Eu não lembro muito como foi. Da última tenho algumas lembranças: nosso técnico de som é holandês, estávamos na Europa e assistimos às semifinais na Holanda, com todo o país pintado de laranja, e a final foi muito massa.

E o que você acha que vai acontecer nesta Copa?

Eu aposto na Argentina. Eu imagino que os times sul-americanos tenham alguma vantagem em uma Copa disputada no continente. É claro que o Brasil é a sede, mas as poucas pessoas com quem eu conversei por aqui dizem que a seleção brasileira não passa da semi-final. Eu adoraria ver uma final entre a Argentina e a Alemanha. Eu gostaria de ver a seleção alemã chegar até lá, ao invés de ficar sufocada por uma seleção como a da Itália – eles não parecem ter muita paciência para lidar com isso, sabe? O técnico da Alemanha também vai estar sob prova, eles deram 10 anos para ele vencer a Copa e até agora nada. Mas eu gosto da atitude deles, quando perdem eles não ficam arrasados, têm uma atitude saudável. Quando o Chelsea ganhou do Bayern no ano passado, na final da Champions League em Munique, foi triste, com o gol do Drogba no fim. A gente estava numa festa, e o Bayern é meio que o time nacional do torcedor médio, e mesmo depois disso a festa continuou, não tinha ninguém assim (faz cara de “putamerda, meu time perdeu”). Acho que tem a ver com a natureza do futebol, é aquilo, se a bola for para o lado errado na hora errada você perde. E acho que eles ficaram assim depois de perder tantos jogos (risos).

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