O Instituto Inhotim, centro de arte contemporânea localizado em Brumadinho, Minas Gerais, continua neste domingo a sua programação de música contemporânea com uma apresentação de INUKSUIT, peça para instrumentos de percussão do compositor radicado no Alasca John Luther Adams.
A nova programação de Inhotim, que além do ciclo de música contemporânea que traz também Singing In The Dead of the Night do Bang on a Can, conta com um ciclo dedicado ao cinema de Cory McAbee, quer atrair diferentes públicos para o instituto. “A programação cultural pode contribuir para a formação de novos públicos, que talvez entrem em contato pela primeira vez com o Inhotim ao irem assistir um show do Criolo, por exemplo, ou participarem de uma oficina do nosso Viveiro de plantas”, explica Morgana Rissinger, coordenadora da programação cultural de Inhotim.
Batemos um papo por e-mail com Fernando Rocha, diretor artístico do ciclo de música contemporânea, e ele explica como pensou a programação e reflete um pouco sobre as influências do espaço na composição contemporânea.
Houve um momento, lá pela metade do século XX, em que a união entre música erudita e ambientes arquitetônicos foi algo relativamente popular na Europa (um grande exemplo foi o Pavilhão Phillips do Le Corbusier com o Iannis Xenakis). Hoje em dia, essas vanguardas têm dificuldade em se comunicar com o público em geral. Como você acha que a programação de música contemporânea do Inhotim pode vencer essa barreira?
Na verdade, a relação com o espaço é algo que vem sendo repensado e retrabalhado na música atual de diversas maneiras (sem dúvida a experiência do Pavilhão Phillips com Varèse e Xenakis é um marco). Há exemplos de grupos e músicos tentando levar a música a espaços diferentes e a explorar as próprias características do espaço. Em 2010, por exemplo, houve uma performance muito interessante da obra Persephassa (do próprio Xenakis), no lago do Central Park, em Nova York. Alguns músicos e o próprio público estavam inclusive em pequenos barcos, e o público podia ouvir a obra sendo “especializada” (como o próprio Xenakis queria). Além disso, as facilidades propiciadas pela tecnologia permitem a criação de sistemas interativos nos quais os compositores podem criar relações com o espaço nunca antes pensadas, como por exemplo, controlar aspectos do som a partir da própria movimentação do público pelo espaço. Na verdade, eu acho que o diálogo com o espaço é uma questão que tem se tornado bastante atual. A obra Inuksuit é um exemplo disto.
Mas vale lembrar que existe um espaço tradicional (e muitas vezes pequeno mas não por isto menos importante) no qual uma boa parcela da música de concerto se estabelece. No fundo a musica de câmara mais tradicional nasceu desta forma, isto é para ser apresentada em pequenas salas/quartos de palácios, (por isto até o nome – de câmara), para um púbico pequeno. Desta forma, não creio que o fato de uma parcela da música contemporânea não ser ‘acessível’ ao público em geral seja necessariamente um problema. Ainda assim ela pode ter o seu espaço e seu público e ser bastante relevante para ele. Há hoje compositores (e grupos) que almejam romper estes pequenos círculos e criar obras mais ‘acessíveis’. Os dois nomes emblemáticos do movimento minimalista, Philip Glass e Steve Reich, são dois exemplos. Assim, em minha opinião a ideia de se promover a música contemporânea deve considerar a pluralidade de linguagens que o termo ‘música contemporânea’ abarca. Por isto, devemos sempre tentar entender e localizar o próprio contexto das obras, já quem nem toda ‘grande obra’ tem que ser tocada para um grande público (talvez haja motivos e/ou sutilezas que a tornem mais relevante e mesmo impactantes quando apresentadas a um público menor).
Quais foram os seus critérios para a escolha dos artistas e das peças?
A escolha partiu do repertório. Isto é, decidimos buscar obras que tivessem uma grande relevância dentro música de concerto atual e que fossem, cada uma ao seu modo, impactantes (ajudando assim a vencer a possível ‘barreira entre música contemporânea e público em geral’). Inicialmente eu fiz uma lista de várias obras e compositores e, aos poucos, fomos delineando e decidindo quais seriam os quatro concertos a serem apresentados pelo Ciclo em 2012. Também tomei como ponto importante a ideia de se organizar concertos “temáticos”, e não simplesmente colocar um grupo de boas obras no mesmo palco. Além disso, cada concerto tem alguma característica que o faz dialogar com Inhotim e/ou com o momento atual. O primeiro (Drumming de Steve Reich) trouxe uma obra que é um marco do movimento minimalista em música e assim, nos propiciou falar um pouco sobre a estética minimalista e relacionar aspectos desta obra com características do minimalismo nas artes visuais. O segundo, Inuksuit, traz a relação da música com o meio ambiente e se mostra totalmente adequado ao espaço e aos próprios objetivos de Inhotim, que é ao mesmo tempo um museu de arte contemporânea ao ar livre e imenso jardim botânico. O terceiro traz algumas obras inéditas dos compositores do grupo americano Bang on a Can que é uma associação que tem promovido com muito sucesso a música contemporânea nos EUA, levando-a a vários públicos e locais. Além disso, o Bang on a Can realiza anualmente um festival de Música Contemporânea que ocorre em um museu de arte contemporânea, o MASS MoCA, em Massachusetts (EUA). Por fim, o quarto concerto (John Cage), presta uma homenagem aos 100 anos do nascimento (e 20 da morte), deste que foi um dos artistas e músicos mais ativos da vanguarda no século XX.
O fato de os concertos terem este caráter ‘temático’ facilitou a ideia de realizarmos mini palestras antes deles, propiciando ao público um maior entendimento do cenário estético no qual cada obra apresentada se encaixa.
Detalhe da partitura de INUKSUIT
Tendo escolhido os concertos e obras a serem apresentadas, chamamos os músicos necessários para cada performance. O Grupo de Percussão da UFMG e o grupo de música de câmara contemporânea Sonante 21 (também ligado a UFMG) serviram como base. A cada concerto outros músicos se juntaram a eles em função do repertório. Os músicos participantes do Ciclo em 2012 são na sua grande maioria de Belo Horizonte, incluindo professores e alunos da UFMG e integrantes da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais.
O que você espera alcançar com esse ciclo?
O grande objetivo do Ciclo é promover e divulgar a produção de música contemporânea, apresentando ao público obras importantes que em muitos casos nunca foram tocadas no Brasil. E além da sua importância do ponto de vista de produção artística, o ciclo traz ainda um aspecto educativo interessante e, por isso, decidimos incluir as mini palestras relacionadas a cada concerto.
John Luther Adams apresenta Inuksuit em Inhotim
Quando . domingo (15), às 15h
Onde . Instituto Inhotim . Acesso pelo km 500 da BR-381, sentido BH-SP . Brumadinho / MG
Quanto . R$ 28, com direito à meia-entrada
Infos . inhotim.org.br