Obras Primas . Música de Verdade

Gang Starr . Moment of Truth X Johnny Osbourne . Truths and Rights

POR PEDRO PINHEL
publicado em 26.07.2011 12:37  | última atualização 12.09.2011 14:43

Gangstarr . Moment of Truth POR Divulgação

Todo gênero musical tem um punhado de artistas que conseguem representá-lo de forma sublime, definindo uma espécie de padrão a ser seguido por outros artistas e, acima de tudo, fazendo seu trabalho de forma absolutamente autêntica. A autenticidade indiscutível e o discurso coeso de artistas como os nova-iorquinos do Gang Starr – bem-vinda parceria entre o finado MC Guru e o virtuoso produtor DJ Premier – e do jamaicano Johnny Osbourne evidenciam, em diferentes épocas e fazendo uso de diferentes recursos, oportunas maneiras de se (com)provar um senso de verdade imediata. Moment of Truth e Truths and Rights podem ser considerados, portanto, portfólios em acetato do que acreditavam os artistas no exato momento em que os discos foram concebidos. A visão social e política de Guru e Johnny Osbourne permeiam os respectivos LPs, e a música parece ser uma consequência natural dos discursos de ambos. Sobretudo, é a harmonia entre o discurso e os cuidadosos arranjos que fazem dos álbuns verdadeiras pérolas.


Gang Starr . Moment of Truth (Noo Trybe, 1998)

Morto em 2010 em decorrência de complicações cardíacas, o MC Guru é frequentemente lembrado como “o rapper do Jazzmatazz”. O grande projeto do rapper de NYC, no entanto, é o Gang Starr, parceria bem-sucedida com o prolífico produtor DJ Premier. O quinto álbum da dupla, Moment of Truth, é também um dos melhores. Então veteranos do rap, Guru e Premier se complementam perfeitamente; o discurso sempre positivo do MC era bastante adequado à época de lançamento do LP. Outros artistas do assim definido rap underground, como Jurassic 5, The Roots, Blackstar e os também veteranos De La Soul e A Tribe Called Quest, faziam do final da década de 90 uma das melhores fases do rap, e Guru foi definitivamente um dos pilares dessa geração. Se não apresenta o frescor e a inventividade de álbuns como Step In The Arena (91) e Daily Operation (93), Moment of Truth é um exemplo perfeito do domínio do discurso social e engajado de Guru e do aperfeiçoamento da técnica de Premier, hoje um dos maiores produtores do estilo. Musicalmente, o disco é bastante alinhado ao estilo do rap de NYC ao final da década em questão, indo em direção relativamente oposta aos primeiros trabalhos do duo, associados ao jazz-rap. Os grandes destaques do LP são as ótimas “You Know My Steez” (#76 na Billboard em 98), “Robin Hood Theory”, “Above The Clouds”, “JFK to LAX” e “Moment of Truth”. Rap de verdade, feito por artistas de verdade.

 

Johnny Osbourne . Truths and Rights (Studio One, 1979)

Um dos maiores clássicos da era rockers do reggae, Truths and Rights é também o disco que resgatou a carreira de um dos mais importantes intérpretes da ilha mais legal do planeta Terra. Johnny Osbourne estava meio que encostado em 79, quando recebeu a proposta de participar de um LP de riddims que estava sendo compilado pelo Poderoso Chefão da Studio One Records à época, Sir Coxsone Dodd. Emprestando não só sua poderosa voz ao futuro clássico, mistah Johnny carregou as faixas com um discurso social, cheio de referências a religião, direitos humanos, amor e companheirismo. A propriedade e a emoção com que Johnny Osbourne passa pelas canções atesta a credibilidade e as verdades presentes no LP, uma ode à cultura kingstoniana dos anos 60 e 70. Faixas como o hino-reggae “Truths and Rights”, além da espetacular “We Need Love”, são complementadas por joias como “Jah Promise” (versão de JO para o hit “Don’t Break Your Promise”, dos soulmen norte-americanos do Delfonics) e “Can’t Buy Love”, e o conjunto da obra pode ser categoricamente postado no topo da discografia do gênero. Osbourne se tornaria um dos maiores nomes do dancehall, ao lado de monstros como Freddie McGregor, Sugar Minott e Michigan & Smiley, e a música jamaicana jamais seria a mesma. Verdade que pode ser comprovada através da intensa transformação que gradualmente fundiu reggae e dancehall, estilo predominante na ilha até os dias de hoje.

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