Seleta . Quebra-cabeça . Luiza Helena Van Erven de Figueiredo

Conheça a dona da maior coleção de quebra-cabeças do mundo, com direito a certificado do Guiness

POR MENTALOZZ   COLABORAÇÃO DE DR. JACOB PINHEIRO GOLDBERG
publicado em 25.07.2011 14:00  | última atualização 12.09.2011 14:56

Nova York num quebra-cabeça - peça da coleção de Luiza Helena Van Erven de Figueiredo POR Fernando Martins Ferreira

Todos somos únicos em alguma coisa. O difícil é saber em quê, e provar a todos.

A Seleta desta edição tem a honra de conversar com alguém único: uma recordista mundial em guardar quebra-cabeças. Luiza Helena Van Erven de Figueiredo pode exibir orgulhosamente seu certificado conferido pelo Guinness Book of Records, tarefa nada fácil de se alcançar. Mas ela conseguiu.

 

Quando você começou a colecionar quebra-cabeças?

 

Eles sempre estiveram presentes na minha vida, lembro que a minha família se reunia para montar. Era um lazer mais das mulheres. Com 7 anos, ganhei meu primeiro, e depois as pessoas começaram a me presentear com outros. Minha coleção começou oficialmente em 1967, e eu entrei para o Guinness com 238 quebra-cabeças. Hoje estou com 347 e quero chegar a 400 até o fim deste ano.

 

Você conhece a história do quebra-cabeça?

 

O que dizem é que foi inventado na época das primeiras viagens marítimas, quando os fabricantes de mapas resolveram cortá-los. Eles eram colados em madeira, em pedaços pequenos, para facilitar o manuseio.

 

Como sua coleção foi parar no Guinness?

 

Fui eu mesma que, por curiosidade, os consultei para saber quem era o maior do mundo em quebra-cabeça. Como a categoria não existia, resolvi entrar com o pedido, e eles me responderam em duas semanas. Mas daí a me tornar recordista mundial foi um caminho longo e difícil.

 

E como é esse processo?

 

Eles dão duas alternativas, a primeira é trazer os juizes de Londres para o Brasil, e bancar tudo, passagens, hospedagem alimantação etc. A segunda forma, que foi a que escolhi, é cumprir com uma longa lista de exigências burocráticas, tais como cadastrar a coleção com fotos, origem, fabricante, titulo, código de barras e número de peças, de expor em local público e com testemunhas, comprovar que minha coleção é antiga e não foi herdada nem comprada de outro colecionador. O pior é que eles só dão uma chance – você tem que acertar tudo na primeira, senão tá fora. Depois que enviei tudo, esperei seis meses até a chegada do certificado pelo correio.

 

Que tipos de quebra-cabeças existem na sua coleção?

 

O mais antigo é da década de 1940. Foi da minha mãe, que aos 83 anos ainda monta quebra-cabeça. Além dos tradicionais, coleciono alguns modelos em 3D, bem como modelos esféricos, tem os que brilham no escuro, com borda vazada. Tenho de todos os tamanhos, desde micro peças até os de peças grandes. Só não coleciono infantis, mas mantenho os da minha infância.

 

Quais os mais difíceis ou curiosos de serem montados?

 

Pra você ter uma ideia, montei um quebra-cabeça com a mesma imagem de confeitos tipo M&M dos dois lados da peça, só que em posições invertidas. Tenho outro que reproduz uma gravura do Escher, com três camadas em acrilico para dar profundidade. Isso faz com que existam várias peças sem imagem, totalmente transparentes, então como saber onde encaixar e a qual das camadas a peça pertence? Atualmente encaro o desafio de montar um com 8000 peças, o maior que já montei.

 

 

Existe uma técnica para montar quebra-cabeça ?

 

Sim, separar as peças por cor. Muitos montadores também separam as peças que formam as bordas, o que facilita. Só que eu não faço isso porque me traz uma sensação de limitação.

 

Você acha que montar quebra-cabeça desperta alguma habilidade especial?

 

Acho que sim. Devo ter uma percepção mais aguçada e também percebi que, quando uma peça não se encaixa, às vezes é melhor partir para outra ou dar um tempo. Depois a resposta vem facilmente. Aprendi a aplicar isso em outras situações da minha vida.

 

E depois de montado, o que você faz ?

 

Algumas pessoas trasformam em quadro, mas eu jamais emolduro. Pra mim é o mesmo que acabar com a propriedade do quebra-cabeça, eles viram apenas imagens. Eu desmonto e guardo, e quando quero manter montado apenas fixo eles em mdf com filme plástico. Colar jamais.

 

Acidentes são frequentes ?

 

Já aconteceu de ir mostrar um para as pessoas e cair tudo no chão. Também já aconteceu de algum bicho meu pular em cima. Outra coisa que pode acontecer é perceber que o fabricante esqueceu de colocar uma peça. É chato, mas eles sempre são muito atenciosos: basta você pedir a peça que eles enviam, sem custo algum. Às vezes vêm duas peças iguais e eu imagino a peça que está comigo ficou faltando para alguém.

 

 

Parecer do Dr Jacob Pinheiro Goldberg

 

Talvez o maior desafio do ser humano seja compreender o sentido da existência. Se o mundo, o universo, nossa biografia, ou a história, nas palavras de Shakespeare, é desordem e caos, ou se por trás de tudo existe ordem e sentido. O quebra-cabeça é fórmula inventada pela civilização para que o homem tente montar as peças dessa desordem, é o tapete persa, o tricô, através do qual as pessoas juntam o que aparentemente não tem lógica. Colecionar quebra-cabeças, como a Luiza faz, é uma espécie de super tarefa. Não basta ter só um quebra-cabeça e tentar encaixar as peças: é preciso colecioná-los e transformá-los em um sistema.

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