Apesar da crise, música eletrônica espanhola vive fase criativa

O DJ Maceo Plex, pela primeira vez no Brasil, mostra porque a Espanha aumenta influência na cena europeia com uma produção surpreendente

POR DANILA MOURA
publicado em 11.01.2013 15:16  | última atualização 11.01.2013 16:06

Maceo Plex POR Divulgação

Foi numa viagem à Espanha que Eric Stornel sentiu a hora de baixar a guarda do projeto dark Maetrik. Faltava cor. Influências de house, funk e melodias mais “calientes” inspirados pelo clima espanhol refletiram na sua produção musical a ponto de Eric se transformar em outro. Virou Maceo Plex, saiu do underground onde estava desde o final dos anos 90, rodou as pistas mais bacanas do mundo e estará pela primeira vez no Brasil, se apresentando no clube D-Edge neste sábado (12). Coloriu-se.

“Durante anos fui um purista, voltado ao underground. Há uns cinco anos comecei a frequentar mais clubes e vi que minha música não funcionava nas pistas. Comecei a sentir vontade de fazer as pessoas dançarem” declara. O elogiado disco Life Index, de 2011, foi o sinal para essa virada nos rumos de Maceo,  que abandonou os EUA e preferiu respirar os ares espanhóis. Lá criou o selo Ellum, atuante na busca de novos nomes locais.  Apesar de nascido nos EUA, Maceo tem forte origem cubana dos pais, se orgulha de falar espanhol fluente.  Leve, deixou de lado o tecno e se enveredou pela house classuda tradicional.  Mas ainda dá para sentir umas pitadas de Maetrik nos vocais sutilmente sombrios, que ganham agora notas mais sensuais. Como Eric disse, os dois “convivem juntos” dentro dele.

Magia no ar

Se na economia a Espanha ainda mostra desalento, na produção eletrônica vive momento ímpar e se mostra inabalável musicalmente, apesar dos clubes terem esvaziado por causa da falta de grana da clientela jovem. O contexto ganha semelhanças com a virada eletrônica ocorrida na cena alemã durante a crise da queda do Muro de Berlim.

O festival de vanguarda Sónar completa duas décadas neste ano e reforça presença na agenda brasileira na edição paulistana, após ter passado por mais de dez países e manter edições fixas no Japão. Em 2013, também deve ir para Islândia.


Maceo Plex
 
Se para festivais grandes como Lollapalooza e Coachella é novidade ter uma versão fora do país, desde o começo dos anos 2000 o Sónar foca na expansão de fronteiras. “Apostar na música de vanguarda e sempre reunir artistas do mundo inteiro, numa busca pelo novo, fizeram o festival se solidificar neste nível. E ter nascido em Barcelona, cidade cosmopolita e aberta a novidades, ajudou muito”, afirma Enric Palau, idealizador do evento.

Dois DJs que reforçaram a aura mágica da música do país é Pional e John Talabot, que abalou os pick-ups europeus com o disco Fin e garantiu um posto no top 20 2012 da Soma. Utilizando equipamento antigo e peças desconstruídas, Talabot conseguiu fazer uma música dançante, cheia de nuances e marcada pela atemporalidade. Considerado o “salvador espanhol” pelo jornal inglês The Guardian, ele abomina o rótulo, conforme declarou ao El País, que o elegeu como melhor artista e canção do ano. As listas de melhores da Fact e Resident Advisor são só elogios para a dupla. Após uma performance efusiva no festival Primavera Sound deste ano, os músicos foram convidados pelo The xx para abrir os shows da turnê mundial da banda. Foi o estopim.



“John Talabot é enorme, eu sigo Oriol desde que ele era um DJ e ele estava fazendo músicas de minimal. Estou muito orgulhoso do seu sucesso e mostra-nos que se trabalhar duro e ter sonhos concretos, podemos alcançar o que desejamos.”, afirmou Albert Zaragoza Gas, aka Lenticular Clouds, 28, durante o festival Novas Frequências. O músico espanhol está passando uma temporada em São Paulo, após performance elogiada no Sónar espanhol e no festival carioca.

ENTREVISTA- MACEO PLEX (ou seria Maetrik?)

Você deixou sua música mais dançante. Como é a sensação de ver as pessoas dançando tão felizes agora? Você sempre parece muito animado, faz sets longos...

É a maior recompensa para o que eu faço. O meu objetivo é fazer as pessoas dançarem, claro, mas se eu posso fazê-los pensar ao mesmo tempo...  Isso é ainda mais gratificante.  Eu tenho trabalhado duro para chegar a este ponto, então aproveito para discotecar e desfrutar em clima de festa.
 
O Maceo é o resultado de uma transição de Maetrik? Como foi essa transição musicalmente? E o seu emocional?

Eu sempre toquei tech-house muito mais dark como Maetrik .  Maceo Plex é a minha versão mais recente e muito mais profunda de mim mesmo.  Ambos são essenciais para a minha própria sanidade e visão criativa. Maetrik também tem alma. Só que uma alma mais mecânica.


Maceo Plex

O Maetrik tem planos para o futuro? E Maceo Plex?

Sim. Como Maceo Plex  lançarei um 2 º álbum após o verão. Maetrik deve ter mais faixas lançadas em breve pelo selo Ellum.

Você acha que a crise econômica afetou os clubes em Espanha?

Definitivamente. Está afetando todos os países, mas felizmente as pessoas sempre vão querer dançar. Os clubes não acabarão. Só vai ficar difícil para lidar com taxas e impostos enormes. Como artistas,  às vezes temos que trabalhar com os clubes que estão tentando fazer coisas muito legais, mas que não têm o orçamento  tinham há cinco anos.  É sobre encontrar um equilíbrio nesses tempos difíceis.



Atualmente, vários grandes nomes que estão brilhando na música eletrônica tem raízes espanholas, como Talabot e Pional. O festival Sónar comemora 20 anos com grande sucesso e responsável por mostrar a nova direção da música eletrônica. O que está acontecendo na música eletrônica da Espanha? Você pode explicar?

Tenho raízes cubanas também, agora resolvi morar de vez em Barcelona, esse país me seduz.  Eu acho que o festival Sonar é um dos festivais mais importantes e é incrível que ele tenha durado tantos anos, mesmo em tempos difíceis.

Maceo Plex no D-Edge
Quando . sábado (12), a partir das 23h
Onde . D-Edge Club . Av. Auro Soares de Moura Andrade, 141 – São Paulo / SP
Quanto . R$ 180
Infos .  / d-edge.com.br

tags:
 Sónar, john talabot, lenticular clouds, maceo plex, d-ege, maetrick, pional, enric palau

mais lidas

somacast




reviews

 

melhores soma

mais reviews