Esse é o tipo de notícia que faz a gente se perguntar “mas como assim, só agora?!”. Pensa só: Gary Panter, patrono gráfico do punk rock hardcore do caralho estadunidense, autor do cenário do Pee Wee “preso por pedofilia” Herman e autor da clássica trilogia do quadrinho underground Jimbo, finalmente é publicado no Brasil.
A editora A Bolha lança neste mês O Babaca (The Asshole, em inglês), obra de 1979 do quadrinista – coisa curta, 24 páginas, com preço bacana (R$ 18). Para pedir, é só acessar o site oficial da editora.
Aproveitamos esse momento mágico para ressuscitar uma entrevista antiga, mas bem completa, com Mr. Panter. Ela foi realizada em 2005, foi publicada em 2007, na Soma 2, e só agora aparece na internet. Conheça melhor abaixo o mundo retardado de Gary Panter.
“Mass Media Is Eating Everything”
Gary Panter, um dos maiores nomes dos quadrinhos estadunidenses, infelizmente é quase um desconhecido por aqui (teve algo publicado na finada Animal, e só!). Quando de sua visita ao Brasil em 2005, durante o Festival Internacional de Quadrinhos (FIQ) de Belo Horizonte, fizemos essa entrevista na esperança de torná-lo mais conhecido no país, oferecendo para algumas publicações de então. Foram quase dez tentativas e nada! Até que a Soma abriu as portas para nós.
Gary Panter começou sua produção em 1971 fazendo fanzines, e nunca mais parou. Sem contar que o cara joga nas 11! Publicidade, design de produtos, cenários de programas televisivos (para a série Pee-Wee Herman, ganhando dois Emmy), quadros, quadrinhos, música, show de luzes, capas de discos e ilustrações para revistas. Aliás, através dessa última “especialização”, vendeu por uma pequena fortuna para Bono Vox uma ilustração do próprio, feita para a revista Rolling Stone. Apesar disso, ainda não se sente confortável com seus trabalhos comerciais (“os editores dizem: ‘queremos algo bem lôco! Go crazy!’ Eu tenho que imaginar o que eles realmente querem. Porque se eu fizer algo louco de verdade, eles não publicam.”).
Foi durante uma bad trip de ácido em 1972 que sua visão de arte mudou (“caguei nas calças de medo quando vi carros gigantes sendo vendidos a cinco bilhões de dólares pela TV. Achei que minha alma estava vendida para a TV“), e, desde então, sua arte retrata constantemente uma visão hiperbólica do progresso tecnológico, dando cor e vida ao que de melhor foi feito na literatura de ficção científica recente. Misturando elementos do quadrinho underground dos anos 1960, pop art inglesa, Jack Kirby e muita influência da cultura de massas japonesa (“Godzilla me fez estudar o Japão. Na cultura japonesa, o filme é um clássico”), Gary Panter tem hoje uma posição de destaque no cenário internacional. Seu personagem Jimbo (“um trabalho sobre a liberdade individual”) virou o maior ícone do punk nos quadrinhos e lhe conferiu o título de King of Punk Art (“Isso foi apenas um pequeno rótulo reproduzido de alguma publicação e acabou sendo perpetuado...”). Atualmente leciona quadrinhos numa Universidade em NY, e faz performances que chama de “light shows”, além, é claro, de continuar a produzir suas HQs e ilustrações.
Eu li em algum lugar um jornalista comparando você a Basquiat. Você concorda com isso?
Sabe, eu sou mais velho que Basquiat. É muito louco dizer isso, mas meu trabalho apareceu em 1977, e isso foi uma influência sobre Basquiat e todos esses caras. Um pouco, ao menos.
Então você acha que influenciou Basquiat?
Sim.
Você sabe se ele teve algum tipo de contato com o seu trabalho?
Meus trabalhos saíram na Slash Magazine (fundada em 1977, a Slash foi um dos primeiros fanzines punk publicados nos EUA. Depois se tornaria a Slash Records, uma importante gravadora que lançaria X, Gun Club, The Blasters, Germs, Los Lobos, Faith No More, etc.). Ela estava em todo lugar. Mas não ligo prá isso. Talvez seja verdade, talvez não. Eu nunca o encontrei, mas eu nunca fui influenciado por Basquiat. Em 1974, eu estava fazendo pinturas como Basquiat, e eu pensei: “Hmmm... Eu não quero fazer isso. Farei outra coisa.“ Eu pensei que alguém acabaria fazendo isso. E Basquiat o fez.
Página de O Babaca
Os trabalhos dos anos 1960/70 da geração da Zap Magazine (maior revista de HQ underground da história, com Robert Crumb, Gilbert Shelton e outros mestres) e dos anos 1980 da Raw (comandada por Art Spielgeman) são muito influentes nas belas artes e nas artes gráficas. Hoje os quadrinhos não têm tanta influência quanto tinham nas décadas de 1960 e 70 nesses meios...
Atualmente, várias pessoas estão trabalhando juntas. Você sabe, os franceses, como o pessoal da Bazooka. Esses caras estão trabalhando em grupo para produzir publicações. Eu tenho visto mais disso ultimamente. Há mais garotas hoje em dia. Quando eu comecei a lecionar quadrinhos não havia menina alguma nas salas, agora é quase que meio a meio. Isso é ótimo. Tem alguns grupos que trabalham juntos, como o Fort Thunder. São uns caras de Rhode Island que têm bandas, fazem camisas, roupas e cartazes (entre as bandas do grupo Fort Thunder está o Lighting Bolt). Eu não estou interessado no tipo de quadrinhos que são influentes atualmente. Todo verão aparece um filme baseado em HQ. Então ainda há uma influência forte. Eu acho que os anos 1960 eram muito loucos, as pessoas estavam sempre procurando pelo que havia de novo, pelo que viria depois e depois... Daí veio o ano de 1970: nada! Mas logo em seguida veio o punk, e de novo as pessoas foram atrás do que viria depois e depois... Tem que haver um período de pausa, mesmo. Talvez vocês pudessem ser “the next thing” (risos).
Você disse, na sua palestra durante o evento, que a cultura japonesa não estabelece distinção tão clara entre belas artes, alta cultura, arte trash e cultura pop. Você acha que o fato de os mangás e animes estarem se tornando cada vez mais populares e mainstream muda o jeito que o mundo vê a separação entre belas artes e arte trash? Outra pergunta: você acha que está mais próximo do mundo japonês devido ao fato de eles não fazerem tantas categorizações e hierarquias?
Esta é uma pergunta difícil. Eu não entendo totalmente o sistema japonês. Sou um fã de arte japonesa. Se eu disse isso foi algum tipo de má tradução. Disse que a “arte inferior” japonesa me levou a estudar o Japão em geral e tentar entender sua história e todos os outros tipos de arte japonesa. Falei que a “arte baixa” pode levá-lo a outros lugares. Para mim, a distinção é sobre ideias. Eu penso que existe um pensamento coletivo, uma mente única - como Jack Kirby (gênio por trás de vários personagens Marvel) costumava dizer -, pela qual passam a alta arte, a arte baixa e qualquer outra coisa que transmita a mensagem às pessoas. Não estabeleço muito uma distinção. Minha única distinção é para arte pessoal e arte comercial. Quando faço arte comercial não sou eu quem manda, sou apenas um servo. Tento fazer um bom trabalho, mas não é a mesma coisa. Um amigo meu mora em Paris, e ele me dá alguns bons conselhos de vez em quando. Ele diz: “Faça a arte que só você pode fazer.“ E eu: “Ah, ok. Que tipo de arte que só eu, ninguém mais, consegue fazer?” Sobre a distinção entre arte erudita (high art) e arte popular (low art)... Em relação à arte erudita, seria excelente se alguém me desse muito dinheiro para pintar. Mas eu amo pintar quadros, de qualquer forma. E outra, eu ganho dinheiro fazendo as coisas estranhas que faço, eu posso desenhar as coisas que desenho em meus livros. A influência do Japão... O mangá tem sido bastante influente. Garotos e garotas nos EUA são tão influenciados que estão fazendo mangás americanos. Onde está o mercado? Não estou bem certo se há. Mas eles estão publicando as coisas deles. E isso muda percepções.
Você acha que, com a cultura japonesa se tornando mais mainstream, o jeito que as pessoas veem arte muda?
Eu acho que o Japão foi muito influente nas artes. Meu trabalho é muito influenciado pelo Japão. Acho que a razão pela qual me tornei popular no Japão é que os japoneses estão sempre procurando por algo interessante pelo mundo inteiro. Eles gostariam de achar alguém interessado neles também.
Sobre as capas. Como calhou de você desenhar essas capas? Frank Zappa, Red Hot Chilli Peppers, Screamers... Isso foi um trabalho pessoal ou comercial para você? Ou ambos?
Eu venero Frank Zappa. Sempre quis fazer as capas dos discos do Zappa. Eu levei meu portfólio para as gravadoras e um dia eu recebi uma ligação: “Você quer fazer a capa para um disco do Frank Zappa?” Mas eu descobri depois que eram para discos não autorizados pelo Zappa. Frank Zappa processou a Warner Bros. por esses discos. Mais tarde fiquei sabendo que ele gostou das capas, mas eu nunca estive com Frank Zappa. The Screamers eu conhecia. Os Chilli Peppers também. Mas tudo aconteceu por intermédio de gravadoras. Foi um diretor de arte que me ligou. Mas as gravadoras chegaram até mim por causa de todo o trabalho que fiz de graça: flyers para shows de bandas, pequenas ilustrações...
Parece que os críticos acharam Jimbo in Purgatory (um de seus trabalhos mais importantes) incrivelmente hermético, apesar de o considerarem um ótimo trabalho de arte e design. Tem gente falando que o livro é um amontoado de citações e referências a temas que vão da cultura pop à filosofia, o que torna o livro quase ilegível. O que você pensa disso?
Eu construí o livro de maneira tão metódica e processual que o fez parecer um mosaico repleto de pequenos ladrilhos; então, sim, é difícil tirar um sentido literal dali. O leitor em geral pode simplesmente aproveitar as sensações que tem lendo o livro e também usar as notas de rodapé com uma lista de leitura. Muitos dos livros aos quais fiz referências serão inspiradores para quadrinistas e cartunistas e também para amantes de literatura. É pessoal e experimental.
Como funcionam seus shows de luz? Eles são similares de alguma forma às performances de luz que acompanhavam bandas psicodélicas nos anos 60? Além do Yo La Tengo, quais outras bandas você acompanhou com seus shows de luz?
O show de luz é uma performance ao vivo não-computadorizada, e é um desenvolvimento das “luzes líquidas” dos anos 1960. Usamos projetores suspensos e outras fontes de luz, e interagimos com a luz por meios de grandes estêncis, rodas de cor e espelhos flexíveis. A inovação é que nós também usamos vídeo-projetores como fonte de luz, coisa que não existia antes. É uma colaboração com Joshua White, que fazia os mais famosos shows de luz dos anos 1960 no Filmore East, em Nova Iorque. Ele é muito gente boa e tem um monte de ideias parecidas com as minhas. Já nos apresentamos com Alan Licht, Bardo Pond, Plate Tektonics, Yo La Tengo e Balloon Knot.
Você diz no livro We’ve Got the Neutron Bomb que o logo do The Screamers adquiriu vida própria. Como é para um artista quando seu trabalho rompe certos limites e passa a ser um tipo de “propriedade pública”?
Bom, é bem legal. Meio que por isso tem gente bacana no Brasil, Noruega e Indonésia que acompanha meu trabalho. É bem legal. Os Screamers detêm o direito autoral do logo, só me resta pirateá-lo também.
Outra página de O Babaca
Uma das grandes experiências pessoais de Gary Panter, que o ajudou a quebrar preconceitos e criar uma linguagem que invariavelmente transita entre a alta cultura e a chamada cultura trash, talvez tenha sido sua vivência na cena punk de Los Angeles. Ele acompanhou em primeira mão o nascer de uma das cenas mais malucas e inventivas do punk estadunidense. Foi a cerejinha do bolo que faltava para Panter desenvolver uma linguagem particular, única. O espírito do “faça você mesmo“ sempre o acompanhou (“qualquer um pode desenhar. Os trabalhos de pessoas que não sabem desenhar sempre me atraem. Talvez isso explique o meu traço primitivo”), e fez com que, além de famosos flyers de shows, capas de disco, etc., criasse seu personagem mais famoso, Jimbo.
Gostaria de saber sobre a sua experiência com essas pessoas naquele tempo. Quando você foi para Los Angeles?
Foi em 1976. Bem, eu fui para Los Angeles e era um tempo pouco produtivo na música. Eu gostava de ouvir Brian Eno, Sparks, Todd Rundgren, Roxy Music... Eu estava à procura do que rolava e achei a Slash Magazine em uma banca. Então, fui até o escritório deles, levei meus quadrinhos e eles gostaram. Eles falaram: “Ok, você pode fazer uma página todo mês.“ Isso foi no final de 1977.
Então a razão de você ter ido a Los Angeles foi a Slash?
Não, eu só vi a Slash por acaso. Eu fui pra L.A. porque eu não conseguia trabalho no Texas. Eu estava trabalhando como porteiro, trabalhei numa gráfica... Não podia ir muito além disso. Então pensei que se pudesse ir para Nova Iorque ou para Califórnia... Mas, antes, tenho uma pequena história sobre Nova Iorque. Eu fui uma vez para lá em 73 e estava pensando em me mudar para lá, mas era muito caro. Procurando nos jornais eu achei um apartamento por US$ 300,00. Então, eu fui com um amigo e batemos na porta de um apartamento no Village. Duas garotas atenderam à porta. Carecas, sem cabelo algum, cobertas de tatuagens azuis. Falamos: “Este apartamento parece legal.“ E elas disseram: “Não, não é este quarto. É lá atrás.” Fomos para o quarto dos fundos, abrimos a porta, e no meio do quarto havia uma jaula imensa com um gorila dentro. E merda por todos os lados, no teto, nas paredes. Elas disseram: “O gorila não está feliz. Estamos nos livrando dele e vamos alugar este quarto.” Então pensamos: “Talvez não nos mudemos para Nova Iorque.“ Daí fomos para Los Angeles...(risos)
O editor da Slash, Claude Bessy, tinha uma banda...
Catholic Discipline. Ele tinha essa banda. Ele morreu há poucos anos. Ele era o editor, escrevia metade da revista. Era uma pessoa maravilhosa. Mudou-se para Barcelona. Ele também trabalhou com os Virgin Prunes, dos quais eu gosto bastante.
Virgin Prunes...
Um banda irlandesa. Dois caras que ficavam super bêbados e “uaoorrghbleerrghagaah”! Algo assim. Eles eram meio gays. Totalmente loucos. Eu adoro. A primeira geração dos punks de Los Angeles era formada por estudantes de arte, talvez em seus 25, 26 anos. Uns dois anos depois, a garotada das praias apareceu. Caras loucos e musculosos que arrastavam pessoas atrás de carros, subiam e pulavam nos sinais de trânsito.
Você acha que a música tem alguma influência sobre seus desenhos, suas pinturas, sobre seu trabalho artístico em geral?
Sim, tem alguma influência. Mas música punk como Ramones (faz barulho de metralhadora)... Eu não curto muito punk rock.
Digo música em geral, a música da qual você gosta.
Sim, eu escuto música estranha, noise music, art music. Minha coleção de discos é muito estranha. Agora, eu não posso conhecer tudo... Esses caras me deram algumas coisas, aí eu posso conhecer mais (fazendo referência aos CDs que uma rapaziada deu pra ele no FIQ).
O que você tem escutado ultimamente?
Escutado? Eu escuto Nurse With Wound, música psicodélica da década de 1960, pós-punk como Magazine, Gang of Four e todo esse tipo de coisa.
Pop Group?
Pop Group? Ah, sim, eu gosto de Pop Group. É muito bom. Enfim, todo tipo de coisa.
Eu dei uma olhada nas listas de músicas que você posta em seu blog e achei duas bandas barulhentíssimas, Comets on Fire e Merzbow. Quando vi isso, só fiquei pensando no meu pai - que nunca ouviria esse tipo coisa! Como você consegue esses discos, uma vez que você parece não acompanhar música atual? Esses caras lhe enviaram a música deles?
Eu ainda acompanho música experimental. As pessoas também me mandam um monte de CDs. Fora isso, eu tenho uma coleção esquisita de vinil. Coisas que eu acumulo nos últimos 40 anos, tenho ali todos os discos da minha época de escola e faculdade.
A visita ao Brasil foi também uma viagem de família. Sua esposa e filha, muito simpáticas, o acompanharam e aproveitaram para dar um pequeno giro por aqui. Ainda que aparentemente Gary Panter seja um pacato pai de família, tem um histórico de uso de drogas lisérgicas bem intensas (fechou a coletiva no Brasil advertindo para nunca tomarem a “pequena pílula laranja”, fazendo alusão a uma experiência pessoal em Woodstock) e nutre um ódio mortal em relação ao fanatismo religioso puritano dos Estados Unidos. O que significa dizer, de tabela, que ele não tem lá muito amor e carinho pelo presidente George Bush. A famosa frase “vivemos numa sociedade em que tudo é um parque de diversões”, de um manifesto de Gary Panter dos anos 1970, pode ter várias interpretações, mas não parece muito adequada à realidade atual de seu país...
O governo do Baby Bush influenciará a arte, especialmente aquela feita nos EUA? A população mundial costumava ver os EUA como um tipo de modelo de liberdades individuais. E agora parece que o país está caminhando de volta aos anos 1950. A arte será influenciada por isso?
A arte eu não sei. Arte influenciada por política nunca é forte o bastante enquanto arte. Arte política não é tão excitante para mim quanto a arte em geral. Durante a década de 1960, estávamos cada vez mais avançando no tempo e de repente: “Oh, não! Temos que voltar!” Desde a década de 1970, os EUA estão regredindo. George Bush... Eu sou do Texas e o considero um total idiota. Um ladrão, um cristão fingido. Ele é o tipo de cristão que não é muito esperto, do tipo que leva a Bíblia ao pé da letra: o mundo foi criado em sete dias, Eva nasceu da costela de Adão, esse tipo de coisa. Para ele não é sobre metáforas, é apenas sobre obedecer as “leis de Deus”. Ele fala com Deus, ou sei lá quem. E os americanos de menor nível cultural se identificam com isso, porque eles também têm medo do futuro. Eu tenho medo de fundamentalismo cristão, de pessoas que pensam que Deus ama apenas a elas. Bush criou algo para poder reagir contra, toda essa história de guerra santa e fundamentalismo islâmico. Não estamos mais seguros por causa de Bush. Não seria tão difícil destruir Nova Iorque. Quer dizer, quão difícil seria isso? Se toda semana 20 caras sequestrassem um avião, todo mundo deixaria Nova Iorque. Mas não é o que acontece. Isso mostra que a religião mulçumana não é composta só por loucos extremistas. É exatamente como a igreja na qual fui criado. É a mesma coisa. Eu acho que os islâmicos extremistas estão sendo usados para fins políticos. Isso tem a ver com o quanto os EUA lucram nos países árabes, e com o fato de que os jovens no Oriente Médio não têm trabalho, perspectivas, nada. Outro problema é que a mídia americana está em todo lugar. Se eu fosse um religioso doido que só rezasse, rezasse e rezasse e tomasse conhecimento da música rap, por exemplo, ficaria louco com todo o “mexa gostoso seu traseiro” e tudo o mais. E a América não está se dando conta do que está acontecendo. Enquanto a comida continuar chegando ao McDonald’s, eles não têm que pensar, nem se preocupar com nada. Mas se alguém destruir o McDonald’s ou sabotar o fornecimento de comida, aí ele começam a se preocupar. Mas não conseguirão pensar racionalmente e reagirão de um bilhão de formas perigosíssimas. Mas então, a arte... Se você está trazendo os anos 1950 de volta, então os anos 60 chegarão uma hora. Essa é a parte boa. E acho que de certa forma isso está acontecendo. A tecnologia é bem diferente daquela da década de 1960. Os anos 60 foram do jeito que foram, em parte, por causa da televisão. Esta é a minha resposta longa. Acho que algo de interessante pode surgir disso, mas arte política...
Lembro de uma banda estadunidense que tocou aqui. Eles estavam muito preocupados em se desculpar por serem estadunidenses...
E eles se desculparam?
Sim. Acho meio estúpido. Bom, você sabe...
Bem, isso é um pouquinho de consciência. Mas eles poderiam ser um pouco mais conscientes. Eu acho que a América deveria se desculpar por um monte de coisas. Mas, antes, os americanos deveriam ajeitar sua própria bagunça e ler um monte de livros. Desligar a TV ajudaria também.
Na real, o povo estadunidense é formado somente por pessoas. Elas não estão dando ordens.
Verdade. Mas nós somos adultos muito mimados. E gordos! Mas há algo de interessante, na arte underground, acontecendo. Quer dizer, não está no underground, mas na internet. Sei lá, pessoas são formigas. Formigas podem fazer coisas interessantes também...
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