Tem poucos artistas no Brasil para quem o skate seja tão importante quanto o rap, e talvez o maior deles seja o Kamau – tanto que ele reuniu as duas paixões em “21|12”, faixa do seu novo álbum, Entre, que celebra 21 anos de skate e 12 anos de rap na sua vida.
Aproveitando a deixa do disco, além do show duplo que divide com o truta de rimas e rolês Parteum nesta sexta-feira (9) na Lega Itálica, pedimos para o Mr. Marcus Vinícuis vasculhar sua querida coleção de shapes e vasta coleção de discos para escolher as duplas mais significativas da sua caminhada. Depois de um rolê no Centro de São Paulo com o nosso fotógrafo Fernando Martins Ferreira para clicar as pepitas, Kamau mandou para a gente sua lista que, de certa forma, conta a sua própria caminhada. É quase impossível ler sem pensar no flow do rapper, então dá o play no vídeo pra ouvir o som e vai sacando as histórias que ele tem pra contar no texto abaixo.
Kamau . Value= + Nas . Illmatic
O primeiro shape que lancei foi pela marca Value Decks. Eu sabia que queria mais que um desenho qualquer, que vendesse. Então acreditei nos símbolos de força, conhecimento e estilo. Meu mano Marcelo "Amigo" foi quem fez os desenhos e a parada ficou exatamente como eu queria. Simples e funcional. Poucas imagens falando muita coisa.
O primeiro disco do Nas, chamado Illmatic é considerado um clássico no rap. Mas quando saiu foi só o disco de estréia de alguém que esperavam muito, aliando suas letras aos instrumentais de mestres como DJ Premier, Pete Rock e Large Professor.
Esperamos a vida toda pra lançar o primeiro disco. E o primeiro model.
Nas + Future
Roni Carlos . Lâmina + Maspike . Static
Me lembro quando conheci Roni Carlos. Um cara engraçado, simples e que anda muito bem de skate. Mas poucas pessoas sabem do potencial de Roni. Ele prefere ficar na dele, fazendo o rolê do seu jeito. E acho bem legal como isso funciona pra ele. Fiquei bem feliz quando vi seu primeiro model e fiz questão de tê-lo na coleção. E ele tirou da sua cota sem pensar e me entregou.
Maspike é um grupo que gosto bastante mas é pouco conhecido. Sua música mais "famosa" é "Step", que eu escuto em um rolê ou outro. Mas gosto muito dos dois álbuns que conheço deles. Em vinil tenho alguns singles e esse álbum, Static. E, sempre que posso, apresento o som deles pra algumas pessoas. Obrigado Tableek, Hanif e Roddy Rod.
Kamau Nasface
Yes We Can Maple . Future + Simples . Escuta Aí
Quando eu comecei a marca Future com meus amigos, tínhamos grandes sonhos mas nunca demos passos maiores do que podíamos. Começamos fazendo shape e vendendo só pra "sustentar" os shapes que usávamos e queríamos terminar o video "Metrópole". E lançamos o video em 1997. A marca continua até hoje e fico feliz por poder fazer parte e acompanhar a evolução. Quando peguei o primeiro shape de Maple (importado) da Future vi que podíamos sonhar muito mais há 15 anos. Esse é nosso sonho com a qualidade que sempre quisemos. Mas sempre fomos sensatos e deixamos que tudo viesse na hora certa. E essa é a hora!
O Simples foi um grupo que "aconteceu". Não foi um plano mirabolante, uma estratégia de marketing, nada disso. Simplesmente juntei pessoas que eu conhecia e perguntei se achavam legal a gente fazer um som juntos. Todos bem mais novos que eu mas com muito talento. Fico feliz de vê-los hoje, (quase) todos bem sucedidos com seus respectivos talentos. E, mesmo afastados, ainda estamos juntos. Recentemente gravamos um som pro disco do Rick (Fuentes) e pretendo juntá-los novamente pra mais algumas. Esse vinil marcou uma época e foi um projeto conjunto meu e do KL Jay. E a música não pode parar!
Coleção no chão
Adelmo Jr. . Arcade + Black Moon . Enta da Stage
Esse deck o Juninho me mandou em 2003 através do Fabrizio (que depois contribuiu com a coleção também) com uma camiseta da LRG que gosto muito também. Fiquei pensando se usaria aquele shape, pois era algo importante. E decidi não usar. Acabou sendo o primeiro da coleção, mesmo eu já tendo meu model guardado. Porque a partir daquele momento decidi colecionar shapes. E não qualquer um. Eram só os shapes dos meus amigos.
Meu primeiro CD foi o Enta da Stage do Black Moon. Ganhei de amigo secreto do Luciano "Lula" Sbrissa que hoje, por acaso, também é músico. Esse é um disco clássico que me leva de volta àquele tempo, ao mesmo tempo que me motiva pro futuro sempre que escuto. “Buckshot” com certeza é um exemplo pro que eu faço hoje em dia. E recentemente consegui um exemplar em vinil desse álbum. Fiquei tão feliz quanto da primeira vez
André Hiena . Snoway + Criolo . Nó na Orelha
O Hiena é meu mano há milianos. Já estivemos juntos em duas equipes, várias sessões e várias situações. Ele é um exemplo de longevidade pra mim. Esse deck representa muita coisa que pra alguns passa batido. O desenho é uma foto dele numa transição por onde sempre passamos no Largo do Paissandú. Vários se aventuraram por ali, alguns dão algumas manobras brincando. Mas nada chega perto desse ollie do André clicado por outro amigo nosso: Atila Chopa. E agora Hiena tem suas próprias marcas e tá mirando na continuidade do que a gente faz há tanto tempo. E isso me inspira a ser relevante independente da idade.
Me lembro como se fosse hoje quando ouvi "Sucrilhos" do Criolo. Na minha cabeça ficou a frase "saber a hora de parar é pra homem sábio". Perguntei pra ele na frente da Ação Educativa o que ele quis dizer com aquela frase. E ele disse que já tinha feito sua contribuição pro rap e agora ele ia ficar como apreciador apenas. Eu falei com pra ele não encanar nisso, que as músicas (na época "Grajauex" e "Sucrilhos") eram zica e que ele ainda tinha mais por fazer pelos palcos. E ele me disse que ainda tinha algumas coisas pra gravar "só pra deixar registrado".
Tempos depois o Ganjaman me mostrou a nova versão de "Grajauex" e me mostrou um som "pique brega". Perguntei quem tava cantando e ele disse: "O Criolo". Aí eu vi pra onde a parada tava andando. E me lembro do Ganja ter dito: preciso ver direito como vai ser com samples e tudo mais porque acho que esse disco vai fazer um barulho. E agora vários pelo mundo sabem o que se passava na cabeça do moleque (da minha idade) doido do Grajaú. Saber a hora de NÃO PARAR é pra homem sábio. Bora, Kleber. Ainda tem muito trabalho pra nós.
from on .
Diego Oliveira . Trauma + Little Brother . The Minstrel Show
O Diego é um moleque que tem o dom pra andar de skate. Por um tempo tava no pódio de todos os campeonatos. Tem uma postura de gladiador quando tá no skate, como se fosse programado pra isso. Mas ao mesmo tempo não parece um robô. Sempre gostei muito de vê-lo executando com facilidade algumas manobras que ninguém nunca tinha feito. Ou pelo menos eu não tinha visto. E fico feliz por tê-lo como amigo. Orgulhoso como um irmão mais velho.
Quando ouvi Little Brother pela primeira vez eu chapei. Rimas boas, beats bons. Continuação de algo que eu já gostava mas sem imitar. Desde então eu acompanho a carreira deles. Me senti muito próximo do grupo por acompanhar desde tão cedo, antes de eles lançarem o primeiro álbum. Quando ouvi o disco, o conceito, as ideias e o produto final, tive certeza que era fã. Fiquei feliz como se fosse comigo quando assinaram com uma grande gravadora. Mas "esse pessoal" não consegue entender alguns talentos. Muita coisa aconteceu desde então, o grupo passou por altos e baixos, foi considerado uma grande promessa mas a "onda" passou. O talento continua. Cada um dos membros do grupo continua com sua carreira. E eu continuo escutando... E aprendendo.
Kamau e Parteum na Lega Itálica
Onde . Lega Itálica - Pça. Almeida Júnior, 86 - Liberdade - São Paulo - SP
Quando . 9 de novembro às 23h00
Quanto . R$ 20 a R$ 30
Info .