Tal qual um homem-bomba, que abre mão da sua identidade em nome de uma ideologia, Edu Monteiro esconde o rosto sob máscaras, obscurecendo sua condição humana à medida que se transforma em um ser híbrido. A diferença, entretanto, reside na poética que o artista alcança, brutal por um lado, repleta de humor por outro.
As texturas que o fotógrafo busca em elementos orgânicos – plantas, pimentões e carvões – aproximam sua pesquisa daquilo que Archimboldo fazia na pintura: retratos que confundem os sentidos ao deturpar a própria natureza. Já as imagens que ele obtém através da fusão do corpo humano com o corpo artificial – cigarros e bichinhos de pelúcia – remetem a um futuro sombrio ou decadente, habitado por criaturas mutantes.
De uma forma ou de outra, a carga política é intrínseca ao trabalho do artista, seja nas mutações orgânicas que suscitam discussões ecológicas, seja naquelas em que o consumo se sobrepõe ao indivíduo, modificando suas feições, como se houvesse adulterado sua carga genética.
Os híbridos construídos na série de autorretratos são tão plurais quanto excludentes, evidenciando e ocultando as complexas facetas que forjam e tão bem caracterizam a espécie humana.
Por Bernardo José de Souza
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