Daniel Tamenpi . Só Pedrada Musical

DJ e dono do blog Só Pedrada Musical, o pequeno pimenta fala sobre a sua formação musical e a fama virtual

POR MATEUS POTUMATI
publicado em 05.08.2011 10:00  | última atualização 17.01.2012 18:23

Pequeno pimenta: o DJ e jornalista Daniel Tamenpi POR Fernando Martins Ferreira

Sorte, sozinha, não resolve nada. Mas vamos combinar: ela também não atrapalha. E Daniel Reis da Costa não é exatamente um cara azarado. Nascido no bairro de Santa Teresa, uma das áreas com maior concentração de artistas por metro quadrado no Rio de Janeiro, de pais progressistas (ambos profissionais liberais, com histórico de engajamento contra a ditadura e alta formação universitária), Daniel teve seu envolvimento com música não só facilitado, mas incentivado. “Meu pai era amigo de uma galera da bossa nova, minha mãe conhecia Novos Baianos, Caetano, Gil. Eu tinha uma coisa com música desde cedo, eles sempre apoiaram”, conta. Logo menino, foi estudar na Escola Senador Correia, em Laranjeiras, reduto de filhos da geração paz e amor como ele, onde teve contato precoce com a música. “Com 8, 9 anos eu já tinha noção de flauta, violão, piano e percussão. Pirei em percussão e meu pai me deu uma bateria. Com 12 eu já estava tocando em banda punk rock de moleque.” O espírito arredio rendeu ao capeta em forma de guri o apelido de “Pimenta”, que na adolescência virou “Tamenpi” por causa de uma mania carioca de inverter as sílabas – especialmente oportuna quando a molecada do asfalto começou a subir o morro para frequentar bailes funk.

"Só tomei uma noção do tamanho que tinha tomado quando mudei pra São Paulo. As pessoas me reconheciam nas festas, era sinistro"

Mas, a partir de um ponto, algumas coisas separaram Daniel Tamenpi de ser só mais um garoto de uma família legal. Unindo uma voracidade rara para a pesquisa musical a um talento natural como DJ, ele se tornou não só um dos nomes mais requisitados da noite paulistana, como está há 5 anos (completados em 14 de maio) à frente de um dos blogs de referência musical mais acessados da internet brasileira, o Só Pedrada Musical. Nesse tempo, o Só Pedrada se firmou como uma fonte rica de novidades e pesquisas de origens, notadamente sobre música negra, que vem formando novos ouvintes e facilitando a vida de muito macaco velho. O estalo, segundo Tamenpi, veio “lá por 93, 94, quando, quando ouvi Racionais pela primeira vez”. “Eu era um moleque meio politizado, meu pai sempre foi do PT e tal. E as letras do Mano Brown me bolaram”, ele lembra. Começava ali um caminho sem volta pelas entranhas do rap, que depois se ramificou exponencialmente. Afetado pelos Racionais, GOG e Thaíde, ele só ouvia rap brasileiro: “Achava rap gringo uma merda (risos).” Mudou de opinião anos depois, quando ares mais esfumaçados trouxeram grupos como Cypress Hill e Wu-Tang Clan. “Mas a virada mesmo veio em 96, quando ouvi The Roots. Aquilo foi um soco na cara, vi que o rap podia ser muito musical.” Dali em diante, começou a reparar no trabalho dos DJs de hip-hop e não demorou muito para decidir que era aquilo que queria fazer. Vendeu a bateria, comprou dois toca-discos e começou a praticar em casa. Aos poucos, foi ganhando espaço como DJ na noite carioca.

Paralelamente, a relação com as pickups intensificou mais ainda sua pesquisa musical. E em seguida, claro, veio o Napster. “Imagina como era, né? Só existia internet discada, e a gente tinha que entrar depois da meia-noite. Então eu varava noite atrás de música.” Em 2002, finalmente, Tamenpi resolveu começar a desovar um pouco do que vinha descobrindo por conta própria. Nascia ali o embrião do Só Pedrada: “Ainda não existiam blogs pra baixar música, então abri um Fotolog onde eu colocava capas de disco, ficha técnica e escrevia reviews.” Os anos passaram, o Fotolog virou reduto de gente que gastava mais dinheiro com tinta de cabelo do que com discos, mas Tamenpi seguiu em frente. “Comecei a frequentar blogs gringos e brasileiros como o
Saravá Clube, que abriu muito minha cabeça. Era ótimo para procurar sample de disco.”



Em 2006, a moda dos blogs para baixar música começava a pegar, e o que mais chamava a atenção do então formando em jornalismo era a quantidade de blogs dedicados a gêneros específicos. Ele decidiu então abrir a primeira versão do Só Pedrada, adicionando links de downloads às resenhas. “Muita gente vinha pedir pra copiar meus discos, aí eu botei tudo lá no blog.” O que era para ser uma coisa entre amigos ganhou proporções muito além das imaginadas: o blog registra hoje algo entre 2 e 3 mil visitantes diários. “Só tomei uma noção do tamanho que tinha tomado quando mudei pra São Paulo. As pessoas me reconheciam nas festas, era sinistro.” A vinda para a capital paulista, em 2008, foi um passo fundamental no caminho do homem-pedrada. “No Rio, eu ganhava uma merreca pra tocar o que eu odiava. Aqui, toco o que quero e ganho bem”, ele resume, sem esquecer o papel fundamental que o DJ Primo teve no processo. “Além de me colocar no circuito, o Primo fez toda a fita de eu vir pra cá, me falou qual bairro era mais barato pra morar, ajudou na mudança”, detalha. “E morreu 1 mês depois.” O choque o fez cogitar voltar para o Rio, mas os amigos que tinha feito em São Paulo o impediram. “Me falaram ‘fica aí, faz tua base aqui que uma hora vai rolar’.” E rolou, para deleite dos paulistanos e dos fãs de música boa pelo mundo.

Hoje, aos cinco anos de idade, o Só Pedrada não posta mais discos para download, mas viu sua função educativa se ampliar. O volume de reviews cresceu, surgiram podcasts e mixtapes semanais e vários projetos musicais estão em curso. A sorte, agora, é toda nossa.


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www.sopedradamusical.com

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 daniel tamenpi, só pedrada musical

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