Roubadas e Perrengues . Lise perdido em Aricanga

Na primeira roubada de 2013, Daniel Nunes lembra da sua conturbada viagem de trem ao Espírito Santo

POR DANIEL NUNES E EQUIPE SOMA
publicado em 20.02.2013 15:24  | última atualização 20.02.2013 16:54

Daniel Nunes POR Letícia Marotta

E como o ano começa depois do carnaval (você já ouviu essa quantas vezes desde a quarta-feira de cinzas?), nós aproveitamos o fim de fevereiro para voltarmos com a nossa intermitente coluna Roubadas & Perrengues, onde convidamos músicos para dividirem seus piores – e por vezes mais engraçados – momentos da vida na estrada.

Quem inaugura a coluna em 2013 é Daniel Nunes – que toca nesta sexta (22) em São Paulo com sua banda Constantina. O músico mineiro resolveu compartilhar um momento bem tenso que passou com outro projeto, o Lise, e de brinde ainda liberou pra geral um som inédito do grupo, “Sábado”. Ouça e baixe a parceria do Lise com André Tchitcho e confira a história de terror em Aricanga.



Roubadas e Perrengues 3
: Lise
Onde: Aricanga - ES
Quando: 2010

Se não estou errado, aconteceu após um convite aceito em 2010 para realizar um concerto e oficina em um centro cultural na cidade de Aracruz, Espírito Santo. Lembro-me bem do convite. Foi feito pelo Erivelton. Conheci o Erivelton em 1999 durante uma tour da minha antiga banda, Libertinagem. Foi um dos organizadores de uma turnê que fizemos por algumas cidades do Espírito Santo. Na época Erivelton era baterista e também cantava na banda Peste Negra, ele tinha uma performance visceral. Nos encontramos algumas outras vezes durante alguns Carnavais Revolução, até que o Libertinagem e o Mansão Libertina se desfizeram e me desprendi um pouco do hardcore. Mas sabe como é né? É como dizem: “você nunca consegue caminhar sem que uma parte de suas experiências esteja com você”. E para mim foi assim. Foi na época em que conheci Erivelton, que realmente percebi o que a música significava para mim, então logo após um contato dizendo sobre o Centro Cultural Pântano, eu não pensei duas vezes. Rever amigos e poder colaborar com uma ação “do it together” que levava para a comunidade local iniciativas que considero relevantes. Fui com Lise, meu outro projeto musical.

Lembro que tinha agendado este show com o grande Ermano Dedig. Ele toca as belas guitarras do disco Qualquer Frágil Fio De Fantasia. Comprei as passagens para irmos de trem até Aricanga, estação mais próxima de Aracruz. Logo cedo, um desencontro. O trem saiu, Dedig não chegou, e eu segui viagem. Um dos detalhes no trem é que nele não existe bagageiro. Estava sozinho, com alguns mils reais em equipamento nas malas, e uma "pequena" dificuldade de sair da poltrona para ir ao banheiro. Além disso, o banheiro do vagão estava "defeituoso”! Tinha de atravessar dois vagões para chegar e esse trajeto demorava alguns bons minutos, fora a fila. Não me lembro da quantidade de bagagem, só sei que eram muitas e pesadas. Como iria fazer o concerto e dar uma oficina, fui armado.

No deserto

Enfim, consegui realizar a viagem de 12 horas até Aricanga que não me lembrava como era.

Lá não é uma estação como conhecemos, mas sim uma parada no meio do nada, não possui nem iluminação. Lá, descemos em uma estrada de terra, que de um lado se vê uma "rodovia" e do outro uma favela. Lembro de ter pedido ao Erivelton que me buscasse às 19h. Foi quando às 19h o trem "aportou" e todos desceram. Nada vi a não ser um táxi levando os poucos que ali estavam. Sozinho com tudo aquilo nas mãos, nada me restava a não ser esperar.

Alguns minutos após a "desertificação" da paisagem, vi algumas pessoas se movimentando em minha direção. Foi quando "vendo" a cena, comecei a "caminhar" em direção à "rodovia", sem saber para onde ir. Comecei a "andar", apenas para sair dali. Nada vi por perto e lembro que pensei sobre o fim. Pensei nas escolhas da vida. A pontuação no instante que o conheci, o significado de tudo que fazia em 99, um começo de todas as minhas construções, e alguns anos depois, de certa forma me vi em um fim das minhas construções. Tudo que tinha materialmente e não apenas de material, mas de sonhos, estavam naquelas malas e computadores.

Foi quando pontualmente às 19h58 um carro passa ao meu lado e para:

- Dani?

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 constantina, casa do mancha, roubadas e perrengues, Daniel Nunes, Lise, Aricanga, André Tchitcho, Espírito Santo, libertinagem

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