Entrevista . Leandro Lehart

Depois de vinte anos no comando do Art Popular, Leandro Lehart fala sobre seu trabalho de resgate da tradição do carnaval de SP

POR LUIZ PATTOLI   COLABORAÇÃO DE MATEUS POTUMATI
publicado em 12.12.2011 16:04  | última atualização 16.12.2011 18:37

POR Fernando Martins Ferreira

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Oito milhões de discos vendidos. Duas indicações ao Grammy Latino. Mais de trezentas músicas gravadas por diversos artistas brasileiros. Dez anos como maior arrecadador de direitos autorais do país. Um recorde no Guinness (por reunir mais de mil ritmistas tocando ao vivo no projeto A Maior Bateria de Escola de Samba do Mundo). Tantos números superlativos ajudam a entender melhor, mas não completamente, o músico Paulo Leandro Fernandes Soares, popularmente conhecido como Leandro Lehart. Desse você já ouviu falar, e quase com certeza já escutou alguma música composta por ele. Depois de quase duas décadas à frente do grupo de pagode Art Popular, nos últimos anos Leandro tem se dedicado somente a projetos solo. Nenhum deles alcançou o mesmo sucesso do conjunto formado por ele e seu irmão em 1985, mas isso não parece preocupá-lo. O que tem tomado boa parte do seu tempo e dedicação tem sido o carnaval paulistano.

“É muito louco. Comparado ao samba do Rio de Janeiro, o de São Paulo é muito mais a síntese do Brasil. O samba do Rio é muito peculiar. As escolas, o jeito como elas se formaram depois da abolição e tudo mais... Aqui teve a migração, a Casa Verde, grêmios que reuniram refugiados quilombolas de outros estados com imigrantes europeus, e por aí vai”, ele sintetiza, com a empolgação genuína de alguém empenhado em recontar uma história à sua própria maneira.

Ensaio de Escola de Samba talvez não figure em nenhuma lista de melhores discos do ano e teve pouca repercussão na mídia especializada, mas nem por isso deixa de ser uma verdadeira pérola da música brasileira. Após reunir cerca de 150 sambas-enredo paulistanos de todas as épocas, Leandro colocou treze deles em um CD, que também ganhou uma versão em DVD. Não se trata de um trabalho de pesquisa folclórica, e sim do resultado de uma empreitada quase intuitiva, motivada pela vontade de registrar algo que sempre esteve intrinsecamente ligado a sua história. “Não tenho a pretensão de ser o personagem principal, quero ser apenas o elo, quero que as pessoas das escolas apareçam”, ele explica, após contar em detalhes como fez para reunir na mesma sala líderes de 22 escolas de samba de São Paulo.

Paulistano da Parada Inglesa, Zona Norte da capital, Leandro Lehart começou cedo na atividade musical. Aos 16 anos já era um professor de música com cerca de oitenta alunos. Antes dos 20, com os companheiros com quem viria a formar o Art Popular, já tinha acompanhado no palco nomes como Zeca Pagodinho, Beth Carvalho, Leci Brandão e Jorge Aragão. E, com pouco menos de 30, alcançou a marca de oito milhões de discos vendidos. Marcado fortemente como um dos maiores expoentes do que se convencionou chamar de pagode, nos cinco primeiros discos do Art Popular ele fez jus ao rótulo. A partir de Sambapopbrasil, de 1997, Lehart começou a construir o que talvez seja sua maior marca: a criação de um híbrido muito particular entre o samba e a produção eletrônica que caracteriza a música pop negra norte-americana contemporânea.

Quando saiu do grupo, em 2001, se dedicou intensamente a esse trabalho. Depois de dois discos solo em que trafegou pelo samba-funk/samba-soul, lançou Vem Dançar o Mestiço, que inaugurava um novo ritmo, o mestiço. Fruto de suas pesquisas musicais, inspiradas pela leitura de O Mistério do Samba, de Hermano Vianna, o novo ritmo misturava os acentos dos tambores da Bahia, do Maranhão e do Pará.

Nesta conversa, realizada em sua casa na Zona Norte de São Paulo, Leandro fala um pouco mais sobre a produção e os futuros desdobramentos de um dos trabalhos mais bem acabados da música popular de 2011, além do fim das escolas desamba como as conhecemos, da sua fase no Art Popular e da vida de um dos maiores inovadores da música popular brasileira recente.

A Zona Norte de São Paulo é um polo fortíssimo de escolas de samba.

É impressionante. Eu estava na [casa noturna] Vila do Samba, aqui na Casa Verde, e você anda por ali e se sente na África. Só tem negro. A maioria não miscigenado. Na Zona Leste tem a migração dos nordestinos, as invasões das COHABs... A visão musical sobre tudo o que aconteceu com isso é uma síntese do país.

Teve a influência do samba rural, do interior.

Isso, o samba de Tietê, Olímpia, o samba rural, juntamente com a influência do samba carioca. São Paulo tem de tudo um pouco. A minha ideia é fazer o retrato do Brasil através de uma cidade.



Sobre essa sua ideia, ela veio numa época muito interessante, porque hoje o carnaval tem essa relação de operação comercial, e você resgatou sambas de uma época que era o oposto disso. E um samba bom não é necessariamente campeão na avenida.

O samba, muitas vezes, não é reconhecido como bom na época, mas depois. O samba da Cabeções de Vila Prudente eu não conhecia (“Do Iorubá ao Reino de Oyó”, que abre o disco). Depois de ter falado com muita gente descobri que foi um dos sambas mais cantado em todas as escolas. É um samba de uma escola pequena, que virou um hino. (No carnaval de 1981, a Cabeções de Vila Prudente ficou em último lugar e acabou rebaixada.)

O do Colorado (“Quilombo Catopes do Milho Verde (De Escravo a Rei)”) também é sempre lembrado como um dos mais bonitos, né? E também é de uma escola pequena.

O meu amigo Ivo Meireles, presidente da Mangueira, disse que, se esse samba do Colorado fosse cantado na Mangueira, seria um arraso.

Já que você falou do Ivo, queria saber se o pessoal do Rio escutou o CD, e se eles ouvem o samba de São Paulo.

Aqui o pessoal tem muito mais acesso aos sambas do Rio do que o contrário. Lá é muito mais fechado nesse aspecto. Para a première do DVD, no Shopping Eldorado, eu convidei o Celso Athaíde [da CUFA], o José Junior [do Afroreggae], o Ivo Meirelles e o João Jorge [do Olodum]. São quatro amigos que têm em comum uma história grandiosa com coisas de massa, populares. Mas os sambas daqui são desconhecidos tanto em São Paulo como no Rio de Janeiro. Tanto que comercialmente o CD não está vendendo muito, porque as pessoas não conhecem. O CD que o Dudu Nobre fez com os sambas do Rio também não vendeu nada. O nosso está vendendo até relativamente melhor, mas pelo acervo musical e pelo registro merecia uma vendagem maior. Acho que as pessoas vão dar valor daqui a algum tempo.

Você tocou num ponto fundamental: o samba e ocarnaval de São Paulo sofrem preconceito da própria galera daqui, rola aquela comparação desnecessária com o carnaval do Rio. Acho que o único samba-enredo paulistano realmente conhecido é o de 1995 da Gaviões da Fiel, “Coisa Boa é Para Sempre”. Tanto que me surpreendeu você não ter colocado no CD.

O pessoal da Gaviões me disse que o samba de que eles mais gostam é o que eu gravei, o de 1994 (“A Saliva do Santo e o Veneno da Serpente”), que é bem mais legal. O Grego, compositor do samba, foi muito feliz nessa composição. E são todos caras simples, autodidatas, que não tocam nenhum tipo de harmonia. Tudo na base da intuição. Você vê um cara como o Ideval [Anselmo, autor de “Água Cristalina”, da Unidos do Peruche, de 1985], que tem uns quatro sambas entre os maiores, pega a história dele, o cara é um monstro. É praticamente um Silas de Oliveira de São Paulo (um dos maiores compositores do carnaval carioca). O cara faz coisas espetaculares como “Mariana”. É um cara que tem pouquíssimo reconhecimento, me pediu trezentos reais para poder comprar uma coisa para o neto.


Foto: Fernando Martins Ferreira

São Paulo celebra somente o Adoniran Barbosa como grande compositor. Quase não se fala de Geraldo Filme, Talismã...

O Talismã tem uma história engraçada. Não encontramos ninguém da família dele para receber os direitos autorais. Não conseguimos encontrar ninguém em lugar nenhum, amigo, parente, nada. Ele simplesmente sumiu. Nesse sentido, o samba do Rio de Janeiro é muito mais documentado.

O que você sabe sobre a formação das escolas de samba em São Paulo?

O que eu sei é que foi mais ou menos parecido com o Rio. Teve a abolição dos escravos no final do século XIX, os negros se juntavam em festas... Para poder registrar tinham que colocar “Grêmio Recreativo Escola de Samba”... Há na verdade uma grande discussão sobre a real influência carioca em São Paulo. Me parece que a influência de Minas Gerais, do Triângulo Mineiro, foi maior no carnaval daqui. Acho que esse é um grande desafio para quem quiser pesquisar a fundo essa influência e desvincular o carnaval de São Paulo do Rio de Janeiro. A impressão que eu tenho é que surgiram várias manifestações similares em diversas partes do país, e o Rio de Janeiro ficou meio que dono do nome samba e passou a exportar essa música para os outros lugares.

Uma outra coisa que precisa ser desmistificada é a transformação do Adoniran Barbosa na síntese do samba de São Paulo. O samba paulistano é muito negro. O samba negro da Barra Funda, da Bela Vista não é muito conhecido. O Geraldo Filme teve grande influência do samba rural, do interior do estado. Fica parecendo que o samba daqui é só “Saudosa Maloca”, “Trem das Onze”, e não é. Quem vai nas escolas de samba tem outras referências. Na década de 80, os grandes sambas-enredo falavam sobre negritude, preconceito. Acho que tem uma influência muito grande do movimento Black Power norte-americano dos anos 70. De quinze sambas do CD que eu gravei, tem uns nove ou dez que abordam temas afro.

Muita influência das religiões afro também.

Isso, do candomblé, da umbanda. Nessa época as escolas eram muito mais pobres, com muito mais comunidade e muito menos misturadas do que são hoje. Hoje é mais plural. Por exemplo, tem uma ala inteira no Império da Casa Verde que não é do bairro, é de outro lugar. Antes era do bairro, da rua. Isso está se perdendo, e a gente não sabe o que vai virar. A explosão imobiliária está acabando com todas as quadras, e daqui a um tempo vai ter um polo cultural com todas as escolas de samba no mesmo lugar (a Cidade do Samba paulistana, que está sendo construída na Barra Funda e deverá ficar pronta para o Carnaval 2013).


Leandro com o show Ensaio de Escola de Samba na Mocidade Alegre Foto: Fernando Martins Ferreira

Quando você acha que vai acontecer isso?

Não sei. Mas você não vê mais campos de futebol, casa com quintal... Tem umas seis, sete escolas que vão ficar sem quadra. As quadras, em sua maioria, são terrenos cedidos pela prefeitura. Aí chega uma empreiteira, fala que quer construir um prédio, oferece milhões, vai ter arrecadação de IPTU, não tem como segurar. A cultura das escolas, dos bairros, vai se diluir com o tempo. A escola de samba, institucionalmente falando, está em extinção.

Além disso, tem a homogeneização dos enredos patrocinados, que é o oposto do que foi registrado no seu CD.

Com certeza. As alas de compositores nas escolas estão acabando. Hoje o mesmo cara concorre com sambas em diversas escolas.

Leva ônibus com torcida...

Uma coisa que eu observo também é que o samba não tem a ver com a batida da bateria. O cara compõe sem ouvir o acento da bateria, e assim todas as baterias ficam com o som igual. A única que preserva isso é a Vai-Vai, eles são bem tradicionais nesse aspecto.

Você acredita que há um declínio na qualidade dos sambas-enredo ou só daqui a um tempo daremos valor aos sambas de hoje?

Eu acho que não. Infelizmente não. Acho difícil falarmos para os nossos filhos que o samba de 2011 foi inesquecível. Acho que o samba-enredo acompanhou o que aconteceu com a música no mundo. É um pouco radical o que eu vou falar, mas a música se esgotou na década de 80, 90 e pouco. Depois veio uma repetição de um modelo de música pop, e o samba-enredo acompanhou isso. Um esgotamento de criatividade musical. E o mesmo aconteceu com as baterias.

E você acha que não tem jeito? Vai continuar assim?

Acho que o único jeito é um samba que saia desse esquema, desse padrão atual, ser campeão. Alguém que se arrisque. O Ivo Meirelles me disse que no ano que vem vai se ferrar de novo. Este ano contou a história de Nelson Cavaquinho, em 2012 vai ser sobre o Cacique de Ramos, sem patrocínio. Que escola faria algo do tipo em São Paulo?



Existe uma luz no fim do túnel para o samba de São Paulo? Seriam as comunidades de samba que pipocam na periferia?

Eu acho que são sobreviventes, uma resistência. Isso sempre vai existir, mas não vai virar sucesso. Para ser muito popular, teria que fazer muitas concessões que essa galera não faria. Falando um pouco sobre a sua carreira: os anos 90 foram a década de ouro do pagode, mas atualmente os nomes de maior destaque seguem sendo daquela época, como o Exaltasamba.

Como foi pra você essa transição?

Chegou uma hora que, para mim, era uma pressão mercadológica e psicológica muito grande entre o pessoal do grupo, com a gravadora, com os outros grupos. A gente vendeu 8 milhões de cópias. Não dá para imaginar uma coisa dessas nunca mais. De 95 a 2005 eu fui o cara que mais arrecadou direitos autorais no país. Depois de tudo isso, tirei a pressão dos meus ombros. A gente gravou o Acústico MTV, o mais caro já produzido no Brasil, que abriu portas para o samba na MTV, e pouco depois eu saí do grupo. Gravei meu primeiro disco solo com o Max de Castro, voltei a excursionar em 2006 com o Art e saí de vez para fazer a música que eu queria fazer. Olhando de fora a impressão é essa mesma, que você queria experimentar mais. Se eu fosse fazer o que o público espera de mim, o mesmo samba de sempre, não ia me sentir feliz. Eu poderia estar na estrada de segunda a segunda. Posso dizer com orgulho que tenho pelo menos cinquenta músicas conhecidas em todo o Brasil. Mas gosto de arriscar e estou sem o peso nas costas de ter que fazer sucesso.



E o que você pretende fazer em breve?

Quero fazer um projeto com rap, um disco de produtor com MCs cantando em cima das minhas bases. Quero juntar todas as gerações do rap.

Existe alguém com que você ainda queira gravar? Ou a parceria com o Jorge Ben no Acústico MTV já satisfez todas as suas vontades?

O Hermano Vianna disse que eu convivi com duas maneiras negras de fazer música: o samba e o funk. Eu ouvia Jackson 5, Earth, Wind and Fire, James Brown e também gostava de Fundo de Quintal, Almir Guineto. Cresci com isso. Minha identidade foi formada dessa maneira suburbana, dançando break e tocando cavaquinho. E hoje o que eu quero é fazer projetos em que possa extravasar essa vontade de fazer música.

Você está virando um polo centralizador dessas resistências. E aos poucos o pessoal vai se juntando.

É difícil fazer algo e não ver um resultado imediato. Mas A Maior Bateria de Escola de Samba do Mundo foi um choque para mim.

Por quê?

Aqui nesta sala, juntei seis mestres de bateria e disse que tinha sido convidado para fazer um show na Virada. Mas eu queria fazer um pré-lançamento legal do CD e do DVD do Ensaio, e contei que tinha consultado o Guinness e queria bater o recorde com mil caras tocando bateria. Eles pularam da cadeira e disseram que eu estava louco, que era impossível coordenar uma coisa desse tamanho e que seria difícil juntar todo mundo, por causa das rivalidades.

E como você fez?

Liguei do meu celular para 22 mestres de bateria e fiz o convite, falando que se a escola dele não fosse não teria graça. Duas semanas depois, os 22 mestres estavam comendo pizza na minha casa. Expliquei que com a grana que ia receber eu ia pagar os ônibus para levar os cinquenta ritmistas de cada escola e que não teria cachê nenhum, mas que a gente entraria para o Guinness, coisa que o Rio de Janeiro tentou com 600 e não conseguiu. Todo mundo comprou a história. Gaviões, Mancha e Dragões tocando lado a lado, como uma família só.

Falando em família, como era a sua?

A minha relação com música se deu por causa do meu pai. Ele era cantor da noite, crooner de orquestra. Fugiu da cidade dele em Minas Gerais por causa
de um namoro e veio para São Paulo. Conheceu minha mãe num baile. Ele sempre me levava numa roda de chorinho do meu tio Luciano, na Zona Leste. Aos seis anos de idade, minha mãe me levou numa escola de música, e o professor de violão disse que eu não tinha ritmo para ser músico. Aos treze anos, numa barbearia onde meu irmão cortava o cabelo, um cara entrou com um cavaquinho e eu me apaixonei pelo instrumento. Meu pai me colocou num conservatório e meu irmão falou: “Vamos montar um grupo”. Eu só sabia três acordes.

E esse grupo tinha um nome?

“Coisa de Pele”, o nome de uma música do Jorge Aragão. Aí eu dei a ideia de Art Popular, porque achava que dava para juntar outros ritmos. Isso em 1984 ou 1985. Começamos a tocar na noite, e eu aprendi muito rápido o instrumento. Com 16 anos era professor, e tinha uns oitenta alunos em casa.

Aqui na Zona Norte?

Isso, na Parada Inglesa. Aí vinha o pessoal do Rio para São Paulo sem banda – a Jovelina, a Leci, o Jorge Aragão, o Zeca, o Almir Guineto – e o Art Popular rodava aqui e no interior. Foi a maior escola que a gente teve. Aos 20 anos, do nada, eu escrevi uma música e mostrei para o grupo. Eles não gostaram, mas eu gostei e fiz mais nove.


Leandro com o Art Popular no início da década de 90

Qual foi essa primeira música?

“Raio de Sol”, a gente gravou ela depois. O Art Popular estava dando um tempo e eu mostrei as nove músicas para o grupo em que eu tocava, o Ponto de Encontro. Eles não quiseram gravar, e aí eu reuni de novo a rapaziada do Art e disse que o Negritude Jr. e o Katinguelê, grupos que já faziam sucesso, eram nossos fãs de a gente estourar.

Aí eles toparam?

Juntamos uma graninha e gravamos [o disco O Canto da Razão, de 1993]. Foi um baita sucesso. Gravamos esse disco em três dias, um cara de gravadora ouviu (a EMI) e nos chamou para assinar contrato e gravar outros discos.

Retomando aquele assunto do rap, cada vez mais MC s têm usado samba e outros ritmos brasileiros como base. Você vê isso como algo positivo pro samba?

O Rappin’ Hood me disse que eu saquei que o hip- -hop brasileiro está nas escolas de samba. Acho que o samba pode virar uma música pop mundial utilizando a música eletrônica. Não essas misturas carnavalescas, tribais ou com bossa-nova, uma coisa muito estereotipada. A pulsação do samba dentro de um contexto eletrônico pode resultar em algo novo. Mas precisa sair do estereótipo e ser feita como música pop, e não música para DJ . Quero juntar essas duas tradições que eu carrego, do samba e da black music americana, para fazer algo novo.

E você já tem algo engatilhado?

Ainda não, é embrionário. Mas quero juntar gente de diferentes gerações, como o Thaíde e o Emicida, que eu não conheço. Eu gosto de juntar gente.

E ritmos, né? A música “Fricote” é bem isso.

“Fricote” foi uma revolução, ninguém fala disso. Eu fui na casa do João Paulo e Daniel e disse que queria juntar o samba com a viola caipira. O Daniel ficou meio ressabiado, mas o João Paulo disse: “Tenho que gravar isso aí, sou negrão, pô” (risos). E ele acabou morrendo antes de o disco ser lançado. Quando a música foi lançada na Rádio Cidade, o disco (Sambapopbrasil, de 1997) vendeu 1 milhão de cópias em uma semana. E até então a música sertaneja era romântica, foi a partir daí que começou esse lance de música sertaneja mais festiva.



No Ensaio de Escola de Samba essa vontade de juntar pessoas é muito nítida.

Sim, quero fazer uma construção bonita de todas as influências que tive. E, se uma música dessas virar sucesso para que eu tenha uma carreira nova, ótimo. Caso contrário, vou virar um Jorge Aragão e cantar meus sucessos antigos. Não tenho mais essa gana de fazer sucesso.

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Saiba mais: leandrolehart.com.br

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 leandro lehart, art popular, ensaio de escola de samba, pagode, só quem é

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