Seleta . Camisinhas

O estudante de medicina Ricardo di Lazzaro Filho fala sobre sua coleção de 519 preservativos

POR MENTALOZZ   COLABORAÇÃO DE DR. JACOB PINHEIRO GOLDBERG
publicado em 12.12.2011 15:32  | última atualização 16.12.2011 00:43

POR Fernando Martins Ferreira

Ricardo di Lazzaro Filho é um estudante de medicina com interesse na área de genética e dono de um laboratório de exame de paternidade. Além disso, pretende criar no futuro uma marca de camisinha diferenciada, aproveitando a experiência que vem adquirindo com o hábito de guardar, até a data desta entrevista, 519 preservativos. É com este “empresário do caralho” que a seleta conversou para a edição de final de ano da Soma.

Como surgiu a ideia de colecionar camisinhas?
Comecei a colecionar aos 18 anos, por falta de uso. Nessa idade eu tinha uma vida sexual bem pouco ativa. Sempre comprava pacotes com três ou mais
camisinhas, mas não usava, ou acabava usando uma no máximo, e o restante ia para uma gaveta. Também ganhava preservativos de parentes, com a intenção de dar aquela “educação sexual” e aquele conselho: “Olha, usa camisinha”. Um dia percebi que tinha muitas camisinhas na gaveta.

Quando começou a colecionar pra valer?
A primeira camisinha que cataloguei como especial na minha coleção quem me deu foi minha avó, uns sete anos atrás, uma que ela ganhou ao desfilar na
Parada do Orgulho Gay na Paulista. O curioso é que eu andei muito de skate e sempre tive o sonho de ter um patrocinador, mas o que rolou foi um patrocínio
de camisinhas.

O que chamou sua atenção pra colecionar?
A grande variedade de embalagens, cores e sabores. Tem as que esquentam, as que brilham no escuro, as prateadas e até as que vêm com anel vibratório.

Quais suas embalagens preferidas?
Uma do festival de Woodstock, que vem dentro de um chaveirinho: “Em caso de emergência quebre o vidro”. A da Grécia é no formato nada convidativo de
um tridente. A de Amsterdã, no formato de uma folha de cannabis. A escocesa vem com o desenho de um escocês típico e a pergunta: “O que um escocês
usa por baixo do kilt?”, e quando você levanta a saia encontra a camisinha. Tem uma com conceito de reciclada, que diz que “a segunda vez é sempre
melhor”. Tenho algumas que sugerem a forma de uso na embalagem, imitando sorvetes e pirulitos, e vêm presas em um palitinho. A mais estranha é uma noz
que o vendedor me garantiu que se eu quebrar tem uma camisinha lá dentro.


Retromania: "Aceitas uma, jovem mancebo?"                                 Foto: Fernando Martins Ferreira

Sabores?
Tem todos que se pode imaginar, até coca-cola.

E a famosa “camisinha musical”, existe?
Tem a chinesa que vem com um signo chinês na embalagem e traz um guizo amarrado.

E quanto ao mito “tamanho do pênis”?
Tem uma marca que vem com uma régua desenhada na lateral para tirar a velha dúvida do tamanho. Uma coisa curiosa é que em vários lugares do mundo encontro a mesma piada da camisinha gigante de Itu, ou o contrário, a camisinha minúscula. Eu tenho algumas desse tipo. Uma das minhas favoritas tem o desenho de um tiozinho e traz os dizeres: “Objetos necessários para instalação: pinça, lupa, mapa da mina…”

É sempre fazendo piada ou tem embalagem séria?
Existe uma variação real de tamanho, marcas que oferecem várias circunferências, de XXS a extra large. Eu gosto de testá-las para perceber a diferença e, sem piada, as da África do Sul são as mais confortáveis. E tem também muitas com cunho político, como as da campanha presidencial do Obama, ou a lançada para o papa Bento XVI, que traz sua foto e os dizeres: “I said no!” Existem várias com telefones de ONGs gays que procuram esclarecer dúvidas relacionadas. Eu tenho uma do início dos anos 80, da San Francisco AIDS Foundation.

E quanto à matéria prima?
A maioria é de látex, mas tenho umas feitas com tripa de carneiro, como as de antigamente, que ainda são fabricadas porque muita gente tem alergia ao látex.

Qual a camisinha que você mais cobiça atualmente?
Estou esperando por uma que um seringueiro faz na Amazônia: artesanal, com o próprio látex da seringueira.

Já deixou de transar para guardar camisinha?
No início da coleção rolou de sair com uma garota e na hora ela sacou um preservativo que eu não tinha, daí tivemos que sair do clima para negociar a troca
por um repetido.

Parecer do Dr. Jacob Pinheiro Goldberg
A camisinha hoje é um símbolo da relação erótica contemporânea, e a coleção de camisinhas traz a ideia de quantas situações poderiam ter acontecido se
essas camisinhas tivessem sido usadas. A coleção as retira da realidade objetiva do mercado. Nesse caso em particular, a coleção tem um caráter de congelamento e de interrupção da função para a qual a camisinha foi criada, da mesma forma como o preservativo interrompe o jogo carnal que pode levar à procriação.

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