Com onze anos recém-completados em 2011, o site fecalface.com se tornou referência em arte underground, reconhecido muito além da Bay Area de San Francisco, de onde é atualizado. John Trippe é o nome por trás do projeto, que hoje também conta com uma galeria de arte, a Fecal Face Dot Gallery.
Recentemente, no Brasil, ele participou da curadoria do MCD LAB#3: Fake Sunset, que trouxe os artistas Matt Furie, Aiyana Udesen e Jeremy Fish pela primeira vez ao país. Ao lado de nomes brasileiros como Sesper, Talita Hoffmann e Lucas Cabu, eles criaram gravuras exclusivas para uma exposição que percorreu cinco capitais. E ao que tudo indica esse é só o começo do interesse do Fecal Face pelo Brasil.
Assim como muitos outros nomes que passam pelas páginas da Soma, para John Trippe foi com o skate que tudo começou. Ele cresceu imerso na cultura do skate do final dos anos 1980 e início dos 1990, quando ela ainda era bem menor, movimentava pouco dinheiro e era formada por pessoas relativamente à margem da sociedade. Segundo John: “O skate não era aceito como é hoje em dia, mas sempre teve uma cena artística paralela, através de anúncios, desenhos, imprensa especializada... Muitos skatistas eram também artistas ou grafiteiros, fotógrafos, escritores etc. Tudo relacionado ao skate era artístico. Andar de skate significava estar cercado de pessoas criativas.”
Em 1993, a visão de skatista levou Trippe a se mudar para San Francisco. Na época, a cidade era o epicentro do skate no mundo e atraía pessoas de todas as partes, tanto para andar de skate como para trabalhar na sua indústria especializada. “Eu andava como amador”, ele lembra, “e também filmei e editei vídeos de várias marcas de skate. Fotografei e fiz quase tudo relacionado ao skate, até que fui trabalhar na [revista de skate] Thrasher.”
Em 1998, justamente quando John trabalhava na revista Thrasher, aka “a Bíblia do skate”, surgiu a primeira encarnação do Fecal Face, como uma válvula de escape. No começo era um zine feito à mão, contendo fotos e textos seus e artes dos amigos. No ano 2000, John aprendeu sozinho a programar em HTML e criou o fecalface.com. “Na Thrasher eu não era o editor, já no Fecal Face podia colocar qualquer coisa que me interessasse. Era libertador e super divertido.”
Em 2008, dez anos depois do primeiro zine, abriram-se as portas da FFDG (como é conhecida a Fecal Face Dot Gallery), que já apresentou trabalhos de artistas como Mike Giant, Tiffany Bozic, Jeremy Fish, Damon Soule, Mars-1, Josh Keyes, Jay Howell, Mel Kadel, Matt Furie e Albert Reyes, entre outros nomes familiares a quem acompanha o site. Sobre a criação da FFDG, John explica: “Sempre quis um espaço de galeria para mostrar arte que eu gostasse. Ver arte online é uma coisa, ao vivo é outra experiência. Já vi trabalhos online que achava ótimos até ver ao vivo. Em contrapartida, já vi trabalhos maravilhosos ao vivo que não eram a mesma coisa online.”
Além disso, existe o fato de a galeria ser uma ótima maneira de reunir os amigos pelo menos uma vez por mês, nas aberturas, que via de regra estão lotadas. O espaço físico ajuda a integrar a cena independente de San Francisco e atrai visitantes de diferentes países. John também comemora o alcance mundial que o site alcançou: “Temos colaboradores no mundo todo, que nos mostram artistas que eles curtem e compartilham a informação com os leitores do site, que são também de todas as partes do mundo. É um diálogo global”, ele define, com consciência e conhecimento de fato acerca da difusão que as subculturas conectadas ao Fecal Face têm no mundo atual.
Hoje em dia John Trippe sobrevive e paga suas contas com o Fecal Face, trabalhando full-time na web e na galeria. No ano passado aconteceram as comemorações de dez anos do site, que incluíram uma grande exposição da qual John se orgulha muito. Toda essa plataforma também possibilita que ele visite outras cidades e compartilhe projetos, como recentemente aconteceu em São Paulo.
O artista Jeremy Fish, entrevistado na edição 25 da Soma e amigo de longa data de Trippe, resume a trajetória e a importância do Fecal Face: “No começo
era só para os amigos, ninguém olhava. Mas aí o John fez uma coisa bem inteligente pra época: criou um monte de adesivos com o endereço fecalface.com
e colou pelos bares. Foi isso que divulgou o site em San Francisco. As pessoas me perguntavam por que um nome tão idiota. Mas é um nome tão estranho
que você não esquece nunca. Na época a internet ainda era meio novidade, início dos anos 2000. Não existiam sites independentes, não existiam blogs,
nada. E eu, que não usava muito a internet, não entendia por que ele estava fazendo aquilo. Mas, como ele era muito meu amigo, me pediu algo para colocar
no site e eu fiz. O site cresceu, começou a chamar bastante atenção e isso abriu inúmeras portas para mim. Sou muito grato ao John por isso.”
SAIBA MAIS
fecalface.com