Reign of Terror

Sleigh Bells

Mom+Pop, 2012

 

POR Eduardo Yukio Araujo publicado em 12.03.2012

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Quando Derek E. Miller idealizou o que mais tarde se tornaria o Sleigh Bells, ele provavelmente estava pensando em realizar uma experiência controlada. Com o sucesso da estreia Treats (2010), Miller e sua parceira Alexis Krauss - uma garota que passou a adolescência tentando o sucesso no mundo teen pop com a banda Rubyblue - trabalharam para fugir da armadilha da hipérbole concentrada no início de carreira. Treats chamou a atenção por trazer uma ideia ancestral - o encontro do barulho catártico com a melodia assobiável - mas dentro do tubo de ensaio da dupla estavam ingredientes peculiares: um experimento em que riffs anabolizados acompanhavam batidas secas (oriundas até mesmo do funk carioca) e alguns samples, em uma linha melódica concentrada no vocal de Alexis. Uma espécie de versão digitalizada de referências white thrash (hair metal, big rock), eletrônica moderna e pop açucarado.

Reign of Terror, segundo trabalho do Sleigh Bells teve uma gestação diferente de Treats: aqui, a presença de Krauss não foi meramente a de complemento vocal, mas de criação estrutural das canções. Dessa forma, há muito mais variações melódicas e ganho discernível de equilíbrio. Mais uma vez produzido por Miller, o disco sacrificou o volume das batidas para o ganho melódico citado não se anular: os riffs de guitarra aparecem de forma bombástica, mas buscando um encaixe, nada diferente de uma criação baseada em programações e samples; uma das características do Sleigh Bells é exatamente a de submeter a postura rocker a uma elaboração típica da música eletrônica: abstração de sensações através de um mosaico de peças e adornos. Não importando o volume e a compressão, as guitarras são apenas uma das peças que complementam o desejo final do grupo: música pop grudenta e indutora, com um toque dicotômico de violência e sensibilidade.

“Born to Lose” já traz essa expansão escancarada: é possível ouvir Alexis cantando, e apesar das marretadas insistentes há mais camadas sobrepostas e uma proposta mais bem definida. Se em Treats as peças pareciam mais espaçadas, aqui há menos arestas. A balada “End of the Line” talvez seja a mais deliberada amostra de que o duo de Nova Iorque traz mais elementos para sua jornada: a delicadeza da canção serve como arreio na opressão distribuída através das sobreposições e sequências programadas de ataques. O single “Comeback Kid” mostra uma versão mais elaborada dos sucessos do álbum anterior: perde em agressividade, mas ganha ao incorporar um refrão mais humanizado e variedade de movimentos - ao invés de pancadas indiscriminadas, há precisão em busca do pop de três minutos. “Leaders of the Pack” e “Road to Hell” representam uma adição de emoções previamente inexistentes, cortesia dos vocais de Alexis, que carregam uma leveza contida claramente oposta ao cenário de desolação das letras. Essa nuance permite uma dinâmica diferente no interior das músicas, aumentando o escopo autoral ao se afastar da mera colagem.

Reign of Terror é uma fórmula mais equilibrada e expandida de Treats, e não deixa de ser uma experiência controlada: o tubo de ensaio de Derek e Alexis só quer despejar pop, em uma concepção de como o pop deve soar nos anos 10: abertamente referencial, mas com um DNA "mestiço". Não há espaço para experimentações com algo que possa comprometer esse objetivo, o que limita o espaço para surpresas. É um trabalho formulaico, portanto, mas cujo objetivo final é alcançado com primor. Nos primeiros shows da turnê do disco novo a banda percorreu a Flórida (estado natal de Derek) dividindo o palco com a bagunça eletrônica do produtor Diplo e o metal do Liturgy. Nada mais apropriado.

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 sleigh bells, reign of terror

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