Open Your Heart, quarto disco do quarteto novaiorquino The Men, conjuga em dez canções boas referências e uma solução criativa para uma possível crítica: "tudo isso já foi feito antes, e melhor". Tal acepção encontra refúgio em uma época em que bandas munidas de guitarras – ou mesmo as que mesclam recursos eletrônicos com instrumentação convencional – naturalmente recebem certa negatividade quando não estão no limite do experimentalismo. Convenhamos, com toda a história musical à distância de um clique, fica difícil utilizar rótulos e generalizações. Normalmente é possível identificar a matéria-prima da maioria das bandas novas, o que não representa nem um mal nem um bem em si. Questões qualitativas à parte, há certa miopia em relação ao fragmentado mundo da música pop, em que a reciclagem não necessariamente resulta em diluição rasteira. Aqui temos uma banda que percorre o porão áspero, escuro e úmido desbravado anteriormente por nerds, malucos e afins: aquele em que através do punk rock foram filtrados pedaços de acid-rock, hardcore, power pop e krautrock.
"Animal", com sua bateria tribal e ataques demenciais de riffs desenfreados reflete um Butthole Surfers juvenil. Que "Country Song" seja a música seguinte, lenta e instrumental, e de fato com acento country, serve para mostrar que os estadunidenses desejam escapar do pastiche. Recheada de reverberação e invocando uma espécie de tensão pré-violência, é uma amostra de que aprenderam a conter impulsos adequadamente. Há espaço para um verdadeiro motorik alemão via pós-punk inglês oitentista (“Oscillation”) e um guitar pop à la Teenage Fanclub pré-Bandwagonesque ("Please Don't Go Away"). Ao invés de soar como uma desesperada tentativa de acerto, a coesão ocorre exatamente pela entrega sempre agressiva da banda, equilibrando o tom mesmo em cenários diferentes.
O riff de "Ever Fallen In Love", do Buzzcocks, serve de base para a canção que dá título ao álbum, mas aqui a música não possui o refrão explosivo dos mancunianos, apostando em uma dramaticidade mais adulta: "Mesmo que ela diga não, eu não consigo desencanar". “Candy” é o momento mais tranquilo de um trabalho áspero, uma balada acústica simples. Evidente que, pela lógica do quarteto, o que vem a seguir é uma pedrada Jesus Lizardiana, acelerada e distorcida (“Cube”). Evocando uma influência mais evidente no disco anterior (Leave Home, de 2011), "Presence" recebe a benção espiritual de J.Spaceman, lentamente construída com acordes que caminham de um blues torto para a chapação escapista psicodélica.
A última canção de Open Your Heart acaba, voluntariamente ou não, desenhando o escopo todo: baseada em um riff primitivo e insistente,"Ex-Dreams" se insinua entre a distorção noise e as variações de andamento, explosões barulhentas e uma introdução vocal que só aparece depois de dois minutos. Não apenas na forma, mas na dinâmica e na entrega, lembra o período mágico do Sonic Youth entre Evol (1986) e o imaculado Daydream Nation (1988): uma banda que encapsulava suas muitas intenções em torpedos direcionados, ao mesmo tempo em que expandia sua visão sem abrir mão do experimentalismo. A solução empregada pelo The Men para o argumento do passado clássico e o referencial exacerbado foi ignorar a teoria mais ortodoxa. A percepção é clara: são nerds da nova geração, munidos de gigabytes de informação, com talento suficiente para canalizá-los em conteúdo atual. E não há problema algum nisso.