Doncesão . Sejam Bem Vindos Ao Meu Circo

Doncesão fala sobre a concepção do álbum "Bem Vindo Ao Circo"

POR DANIEL TAMENPI
publicado em 20.01.2012 15:31  | última atualização 25.01.2012 12:44

Doncesão POR Divulgação

“É só o fim do começo, seja bem-vindo ao circo.” Essa frase encerrava o disco Primeiramente, lançado em 2008 por César Tavares, mais conhecido na cena do rap brasileiro como DonCesão. Em sua estreia sonora já dava para perceber um letrista de talento, que contava boas histórias em suas composições. Com novo álbum na praça, Bem Vindo Ao Circo, Cesão se afirma com um trabalho conceitual, permeado por narrativas bem amarradas, usando o imaginário circense como pano de fundo. Um disco que poderia facilmente virar filme. Em um papo rápido com a SOMA, o rapper contou detalhes sobre o trabalho.

No fim do seu primeiro disco, Primeiramente, você já dava o gancho do Bem Vindo ao Circo. Como surgiu essa ideia, e como foi criado o conceito nesse meio-tempo?

Quanto terminei Primeiramente, quis criar um contexto. Foi minha primeira experiência musical, e pensei “o que fazer a partir daqui?”. A primeira história que me veio foi o circo. Fui analisando os personagens e como poderia relacionar eles com a vida real. Desenvolvi os sons um por um, até encaixar em uma história completa.

Por que o circo? Qual a sua relação com o tema?

Está no imaginário das pessoas desde a infância. Cada pessoa tem uma coisa que marca mais, seja um animal, ou o mágico, então dá pra fazer várias analogias e gera muito repertório. E a ideia era render personagens, então o circo já dava uma história quase pronta.

Você fez algum tipo de pesquisa ou laboratório pra ficar mais por dentro desse assunto?

Sim. De 2008 pra cá, tudo que eu via relacionado a circo me interessava. Fui atrás da história do circo, lendo livros, descobrindo as origens, me envolvendo no assunto, ouvindo músicas. Devo ter ido umas seis vezes ao circo nesse tempo pra buscar inspiração.

O disco tem um conceito meio cinematográfico, como se fosse um roteiro. Além disso, ainda tem um enredo narrado que acompanha e complementa as músicas. Como você definiu essa ideia?

Desde o começo eu penso nisso, roteirizar as músicas. Primeiro elas têm que fazer sentido uma por uma. A ideia do narrador foi primordial pra amarrar tudo. Eu tinha um certo medo de ficar uma coisa meio abstrata, mas rolou numa boa.

Fala um pouco sobre as participações do álbum.

Encarei como se fosse a minha obra-prima. Quis trazer pessoas que eu tinha como influência. Quando estava separando os beats que queria pro álbum com o DJ Caíque, já iam surgindo as ideias. "Malabares" tinha a cara da Lurdez da Luz, "Cego, Surdo & Mudo" tem tudo a ver com o Elo da Corrente. Ainda tem o Pizol e o Dr. Caligari, que são meus parceiros da 360 Graus. O Ogi e o Rodrigo Brandão fazem o encerramento, com "O Show Já Terminou". O Mi e o Elliot, da Banda Glória, são meus amigos de infância, e as ideias surgiram de forma natural. Foi muito legal e importante esse trabalho com os amigos.

Você brinca com os títulos e os personagens de uma maneira muito original, relacionando as atrações circenses com o cotidiano. Fale um pouco sobre essa analogia.

Contar história em primeira pessoa é legal, emociona. É como um filme, você vê o que a pessoa tá vivendo e acaba sentindo um pouco também. Quando a criancinha fala no começo do disco e vem a música dos malabares, você já imagina a criança no farol e toda a evolução dela. O personagem traz a imagem na cabeça da pessoa, e eu dou a minha visão em cima. Às vezes combina, às vezes conflita. E a ideia era relacionar esses personagens de uma maneira diferente, sem ser óbvio. Como o mágico, que é aquela coisa que sempre dá certo, consegue atos espetaculares. Na música é uma coisa mais sofrida, de ser um herói da vida real. Ou o palhaço, que já remete a brincadeira, tem uma associação fácil. No caso da música é uma tiração de sarro, porque ele tomou um pé na bunda da mulher e está sendo feito de palhaço, saca?

O lançamento do disco vai ser dentro de um circo, né? Como está sendo montada essa ideia?

Em todo o processo de escrita eu já pensava nisso. No circo as pessoas vão viver aquilo de verdade. Eu tô trabalhando muito no visual. Vai ter atores trabalhando, todos os convidados. Vamos fazer uma interação bem visual.

Por que você resolveu colocar o álbum diretamente pra download gratuito? Acha que o formato de CD e venda já está ultrapassado?

Eu vou fazer uma tiragem em CD, mas só porque não tenho condição de fazer em vinil. Quero lançar esse trabalho físico. A música já está aí, registrada. A gente tem que encarar o rap como um mercado, e acompanhando o rap lá fora. Você vê que tem grandes álbuns saindo, de gente nova como Curren$y, Cool Kids, em formato de mixtapes lançadas na internet. E eles ganham o mundo se tornando populares. Então, se eu lanço o CD e fico segurando o trabalho, o primeiro cara que comprar vai jogar na internet e eu não vou conseguir a atenção que consegui com o download. O que iria se dispersar em quantidades homeopáticas por meio das pessoas que fossem comprando ou de downloads piratas, eu trago direto pro meu nome fazendo uma promoção maior. Esse é o meu pensamento. Quem gostar de verdade compra o CD. Vou fazer uma tiragem a cinco reais e uma especial acompanhada de um livro e uma camiseta com preço justo. E, como estou com essa preocupação visual do show, isso é a parte mais importante. Vender a arte como um todo.

Dentro dessa analogia que você fez, o que o circo e o hip-hop têm em comum?

Se o hip-hop fosse um personagem do circo, seria uma mutação de vários. Tem que ser um pouco equilibrista pra viver da sua arte. O circo tem aquela coisa do amor à arte, de fazer com as próprias mãos. Junta um pessoal, põe as coisas nas costas e vai de cidade em cidade passando a mensagem. O hip-hop tem isso também. As pessoas se juntam pela mensagem. Acho que é a maior semelhança. É um trabalho árduo e de longo prazo. Nós temos que fazer as coisas sem depender de ninguém. Fazer o nosso cirquinho se transformar no Cirque du Soleil, tá ligado?

tags:
 doncesão, lurdez da luz, bem vindo ao circo, dj caíque, malabares

mais lidas desta edição

#23 MAI/JUN . 11
  1. 1 As Relíquias de Luísa Ritter

  2. 2 Koudlam . O Mundo Não é o Bastante

  3. 3 Orelha Negra . A Viagem Instrumental Portuguesa

  4. 4 VBERKVLT

somacast




reviews

 

melhores soma

discos
faixas

The Thing & Neneh Cherry The Cherry Thing

Hot Chip In Our Heads

De La Soul’s Plug 1 And Plug 2 First Serve

 

“Da Estação São Bento ao Metrô Santa Cruz” . Rappin Hood part. Emicida Dupla une gerações do rap em torno da história do hip hop brasileiro

livros & quadrinhos

Jake Adelstein Tóquio Proibida

Lourenço Mutarelli Quando Meu Pai Se Encontrou Com o ET Fazia Um Dia Quente

Marcello Quintanilha Almas Públicas

Vários Autores (org. Lucas Ribeiro) Transfer – Arte Urbana e Contemporânea

filmes
games

Pearl Jam . PJ 20 Cameron Crowe . Sony Music . 2011

Itamar Assumpção . Daquele Instante em Diante . 2011 Itamar Assumpção . Daquele Instante em Diante . 2011

Infinity Blade II Epic Games e Chair Entertainment . 2011

ICO and Shadow of the Colossus Collection Sony Computer Entertainment . 2011

mais reviews