“4:20, depressão presente/ Várias fitas na mente”, anuncia o rapper, com olhar neurótico, por trás de um filtro p&b numa tarde qualquer na escada de uma praça, com o parceiro ao lado. Clipe de estreia da dupla , “4:20” deixou a gente curioso: se o título faz referência ao consumo canábico, porque a letra é tão pesada? Quem é o sujeito caucasiano, católico, a quem a dupla se refere? Aliás, quem são esses moleques? Trocamos uma ideia com a dupla por e-mail com Léo e Neto, ambos com 18 anos e moradores da Zona Sul de São José dos Campos. Frequentadores das batalhas de freestyle e dos eventos de hip-hop da cidade do Vale do Paraíba, em SP, os dois são mais uma das boas promessas do rap brasiliero em 2012 – assista ao vídeo, leia a entrevista e descubra porque.
Como vocês entraram no rap? Escutavam desde pequenos? Quando resolveram ser MCs?
Começamos a ouvir bem cedo, por influência de parentes e amigos nossos. Por volta de 2007, o streetball era forte na cidade e nos proporcionou os primeiros encontros com o rap tocado ao vivo. Nessa época também ocorriam rodas de freestyle em encontros fora dos eventos de hip-hop. Tínhamos 14, 15 anos, e víamos tudo acontecer ali na rua. Foi ali que artistas como o Skema, Marginal, De Paula, Hope, entre outros, nos mostraram pela primeira vez o que é o rap de verdade e seus ideais, e que nos inspiram até hoje.
4:20 costuma ser uma hora feliz pra muita gente, mas no som de vocês é a hora da “depressão presente”. O que 4:20 traz de tão tenso pra vocês?
Na verdade foi apenas o horário que a música foi escrita. Essa música foi feita muito tempo antes desse 'boom' que a internet e as redes sociais deram para a associação desse horário com tudo isso. Muita gente pensa que a música fala de maconha, pensamos antes mesmo que haveria essa má interpretação, fizemos a colagem "Para além do capital..." (do som da dupla Sarksmo e Choco, "Não Se Fazem Mais") e abordamos o assunto na letra à partir do trecho para esclarecer que a idéia se trata da “sociedade” brasileira atual e seus conceitos e relações com o trabalho, dinheiro, cultura e entretenimento.
O som começa com “várias fita na mente”, mas descamba em um papo com um cara raso, que não vai entender o recado que seria passado. Qual é o recado oculto em “4:20”? Qual é a “visão que a sociedade não pode ter”?
Esse “cara raso” é o próprio estereótipo em pauta, que precisa das coisas com muitos "argumentos convincentes", mais "mastigadas" e apresentadas de uma maneira "muito bem embasada" para respeitar, quiçá concordar. Não só por limitações intelectuais, dificuldade de associação, ou falta de sensibilidade mesmo, mas no primeiro momento por ignorância e aversão ao ímpeto, culminando fatalmente na má interpretação, que limita qualquer tipo de entendimento a qualquer coisa que a gente venha trazer, não importando a causa.
Além de o som começar com um reggae, pelo Facebook dá pra ver que vocês curtem muito o estilo. Vocês trazem alguma influência disso para a maneira como fazem rap?
O reggae é muito presente na nossa vida, por ser uma música instrutiva e de cunho espiritual muito forte, assim como o rap. Procuramos agregar essa vertente musical na nossa arte o máximo possível. Temos um projeto com músicas só com samples de reggae, temos muitos amigos que fazem reggae, a gente pensa em um dia até montar uma banda, gravar umas coisas e tal.
Onde vocês filmaram o clipe? A ideia toda foi de vocês?
Filmamos o vídeo numa praça na Zona Sul de São José mesmo onde a gente costuma ficar. A idéia foi nossa, ligamos um parceiro nosso de Jacareí, o Over, que trabalha com vídeo pra filmar e editar o conceito do webvideo da música. A gente queria um lugar onde passasse bem a proposta do vídeo, um recorte do nosso dia, onde a gente discute e debate várias idéia, inclusive esses assuntos tratados na letra.