"Aspiro no futuro ter a convicção de que fiz as coisas que gostava", diz Kiko Dinucci

Compositor paulista fala sobre a carreira e o show de lançamento do seu novo disco, "Metá Metá"

POR MATEUS POTUMATI
publicado em 26.10.2011 10:11  | última atualização 26.10.2011 15:41

Metá Metá: Thiago França, Juçara Marçal e Kiko Dinucci POR Divulgação

Kiko Dinucci, Juçara Marçal e Thiago França, além de inseparáveis, são incansáveis. Parceiros em inúmeros projetos, os três são das figuras mais ativas na nova geração da música brasileira – com Juçara, Kiko já havia lançado Padê, em 2009; com França (além de Sérgio Machado), levou por meses um quase revolucionário de jazz e samba. Nesta quinta, 27, o trio comanda uma grande festa para o lançamento do seu primeiro disco em conjunto, Metá Metá. O álbum, um dos mais elogiados de 2011, traz 10 músicas, de autoria de Kiko e parceiros como Siba, Mauricio Pereira, Rodrigo Campos e Douglas Germano. “Minha fonte da juventude é a parceria, ela me ensina a ser um músico melhor”, define o compositor paulista.

O que se ouve em Metá Metá é um passo adiante de três carreiras que evoluíram juntas, lapidadas por uma abertura completa ao risco, à aposta por uma linguagem muito particular, ainda que reverente a (anti-)ícones como Jackson do Pandeiro, Ornette Coleman, Moacir Santos, João da Baiana, Jards Macalé e o onipresente Itamar Assumpção. É reducionista definir Metá Metá como um disco de afrossamba, e na entrevista a seguir Kiko Dinucci deixa claro por quê.



A primeira matéria que fizemos com você na Soma é de maio de 2008. De lá pra cá, muita água já rolou, você gravou vários discos, fez inúmeras parcerias e se tornou um dos principais novos nomes na composição brasileira. Qual a diferença entre o Kiko de 2008 e de 2011 em termos musicais, de carreira e de vida?

Pois é, muita coisa rolou de lá pra cá. O que percebo ouvindo os 6 discos (contando com o , que sai mês que vem) que gravei em 4 anos é que não repeti formulas, todos são extremamente diferentes uns dos outros. Mas isso tem um motivo: as parcerias. [Os discos] foram feitos com pessoas diferentes, a minha fonte da juventude é a parceria, ela me ensina a ser um músico melhor. Você não imagina o quanto aprendo tocando com alguém como Thiago França ou Juçara Marçal, mais do que aprenderia em qualquer conservatório. A parceria musical também nos ensina a trocar, ceder, discutir, aprender a conviver. Mas eu aspiro no futuro poder olhar pra trás e ter a convicção de que fiz as coisas que gostava, enxergar que minha arte é livre, sem rótulos. Essa é a Meta, além de tocar, tocar, tocar muito, coisa que já faço, na alegria e na tristeza, com sol ou chuva.

"Embora eu tenha aprendido a estrutura da canção brasileira com Noel Rosa, Assis Valente, Ary Barroso, Luiz Gonzaga, Caymmi, eu tento jogar pra frente, viver o meu tempo, falar das coisas que fazem parte da minha vida hoje, por isso [a minha música] consegue ser brasileira e contemporânea ao mesmo tempo."


Algumas músicas do Metá Metá, como “Umbigada”, têm uma cara de estudo, de relato de uma pesquisa musical. Ao mesmo tempo, é uma canção muito bonita, e o disco traz algumas das canções mais bonitas e maduras que você já gravou. Qual é o desafio de transformar pesquisa em música boa e válida para os dias de hoje?

“Umbigada” é uma canção de Lincoln Antônio, ele mostrou pra gente e foi paixão certeira. Talvez ela tenha cara de estudo porque foi feita a partir de um verbete do [livro Dicionário do Folclore Brasileiro, de] Luis da Câmara Cascudo. As primeiras canções do disco são todas de outros compositores: Maurício Pereira (“Trovoa”), Jonathan Silva (“Papel Sulfite”), Siba (“Vale do Jucá”) e tem uma do Douglas Germano mais pro fim (“Obá Iná”), que é meu parceiro (com quem Kiko não gravava desde 2009, quando a dupla lançou O Retrato do Artista Quando Pede). O desafio era reler a canção de outros compositores com a nossa ótica. A partir de “Samuel” começa o lado B, são as minhas canções (com parceiros como Rodrigo Campos, Edu Batata, Douglas), muitas delas antigas, da época do Bando AfroMacarrônico. Agora pensando em pesquisa, vejo que ela não existe, talvez exista uma vivência. Tive vivência com música caipira com meu pai, Roberto Carlos com minha mãe, punk rock, metal, samba, eu vivi o samba, tive professores: Douglas Germano, Wanderley Mazzucatto, Caio Prado. Não foi pesquisa, foi vida mesmo. Embora eu tenha aprendido a estrutura da canção brasileira com Noel Rosa, Assis Valente, Ary Barroso, Luiz Gonzaga, Caymmi, eu tento jogar pra frente, viver o meu tempo, falar das coisas que fazem parte da minha vida hoje, por isso [a minha música] consegue ser brasileira e contemporânea ao mesmo tempo.
 
Você, a Juçara e o Thiago vêm de backgrounds musicais bem diferentes, mas têm uma intersecção musical meio única, que une samba (e as tradições populares brasileiras que vieram antes), jazz, vanguardas, canção. Explica um pouco como funciona a parceria entre vocês três em termos de composição.

Creio que a nossa parceria não é nem um pouco racional, acho que nenhum de nós três é capaz de explicar isso, a gente somente toca. Toca e se diverte muito. Gostamos de invenção, um negócio meio cientista louco, gostamos de rir das nossas invenções. Gostamos da surpresa, do risco. Faz quatro anos que toco com Juçara e Thiago, a gente sabe muito bater bola um com o outro, improvisamos, reviramos do avesso. A melhor coisa é pensar a música tocando, é tocando que chegamos a algum lugar. Todas as parcerias comigo funcionam assim. Sinto que a imprensa oficial às vezes não me leva a sério porque não tenho disco solo, é sempre Kiko com alguém. O que eu vou fazer se o parceiro é fundamental no trabalho? Vou ignorar? Posar de gatão na capa do disco? Não dá. Ano que vem vou lançar um disco solo chamado Cortes Curtos, somente com micro músicas, de duas frases mais ou menos, canções que não vão ter nem refrão, nem estrofe, que morrem antes de acontecer, que caberiam no Twitter. Aposto que vai ter gente que vai falar “isso não é um disco solo, não está valendo”.
 
"Sinto que a imprensa oficial às vezes não me leva a sério porque não tenho disco solo, é sempre Kiko com alguém. O que eu vou fazer se o parceiro é fundamental no trabalho? Vou ignorar? Posar de gatão na capa do disco?"

O que as pessoas podem esperar do show de lançamento do disco no SESC?

O [show] Metá Metá será muito especial, porque tocaremos pela primeira vez o disco na íntegra com a mesma formação da gravação, com Samba Ossalê e Sérgio Machado. Contaremos também com o baixo de Marcelo Cabral (co-produtor de Nó Na Orelha, do Criolo). O artista visual uruguaio Fernando Velazquez, que fará releituras dos vídeos dos artistas que colaboraram para o Metá Metá no aplicativo Bagagem (que é integrado com redes sociais e disponibiliza disco, vídeos, letras e outros), Marcelo D'Salete, Edith Derdyk, Tatiana Blass, Gina Dinucci, Julia Rocha, Jeremiah, Anahi Santos, Manuela Eichner e Diana Granda. Não faremos um show nesse formato tão cedo. Relembraremos algumas canções do disco Padê e do AfroM também.

Saiba mais:

Aplicativo para desktop Bagagem (player do disco, informações técnicas, vídeos e integração com Twitter e Facebook).


Serviço do show:

METÁ METÁ - JUÇARA MARÇAL, KIKO DINUCCI E THIAGO FRANÇA
SESC Pompeia
Rua Clélia, 93 Pompeia
São Paulo, SP


Preço: R$ 16 (R$ 8 para estudantes, usuários do SESC e comerciários)

tags:
 kiko dinucci, metá metá, juçara marçal, thiago frança

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